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sexta-feira, maio 23, 2008

Será que vale a pena?


"De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos"
- Confúcio -...................

Deixo-vos uma reflexão (obrigatória) de uma colega:
-
"Já tinha ouvido falar deste blog e hoje acabei por “perder” umas boas horas a ler o seu conteúdo!!! Muito interessante, na essência parece-me que está feito um diagnóstico da crise que vive a Enfermagem, como disciplina e como profissão.

São visíveis os sinais dessa crise, o desemprego e a desvalorização do próprio enfermeiro, quer pela sociedade em geral, quer pelos responsáveis da saúde, em particular, são alguns dos mais escritos neste web-espaço. No entanto, parece-me redutor que se queira atribuir culpas apenas e só à OE, às Escolas e aos docentes. Sou enfermeira há 23 anos e lembro-me muito bem da formação que tive nessa altura, cuja cientificidade e nível de complexidade do conhecimento estava muitíssimo distante da que é hoje conferida numa boa parte das escolas superiores de enfermagem/saúde.

Não podemos negar que houve uma grande evolução no ensino de enfermagem em Portugal, obviamente graças ao esforço (académico, cientifico, etc) feito pelos docentes de enfermagem. Há que repensar o Ensino em Enfermagem, sem dúvida, mas comecemos pelo ensino, donde saem milhares de enfermeiros... como é essa formação? Penumbra… Qual é a inflação de notas? Como são realizados os estágios clínicos? Número de vagas? Temos de aferir a qualidade do ensino de enfermagem e pautá-lo por idênticos critérios e de exigência.

Fala-se neste blog do «cuidar» em excesso e o deficit de conhecimentos de farmacologia, bioquímica, fisiopatologia. São matérias nucleares e obrigatórias, no entanto essas são as disciplinas que os alunos fazem “à rasca”, que deixam para a época de recurso, vão passando com 10 ou 11 e ficam muito satisfeitos e lá vão indo… É óbvio que são conhecimentos determinantes para um cuidar de qualidade, tudo tem o devido lugar e a sua proporcionalidade e equilíbrio. E na prática clínica é isso que se observa?

Sei de hospitais onde estão informatizados os exames laboratoriais e de imagiologia, a que os enfermeiros não têm acesso, ainda não dei conta que eles tenham reivindicando essa perda de informação. O doente tem KCl em curso há 10 dias e o enfermeiro cumpre escrupulosamente, sem questionar, sem problematizar, e um longo etc… Por outro lado, todos comentamos que a culpa é dos enfermeiros, que se deixam substituir por outros profissionais, técnicos, auxiliares, etc.

Quando ouço uma enfª a pedir à AAM “vá lá dar banho ao 9” e dou conta que o 9 é um idoso com dispneia grave e cianose intensa, fico desiludida com a Enfermagem...
.
O futuro da profissão vai depender de todos nós, vou continuar a fazer a minha parte com muito empenho, façam o mesmo e não tenham vergonha de ser enfermeiros. Vou também continuar “cliente” deste blog, oxalá seja útil o meu contributo."

16 comentários:

  1. Caro Colega
    Agradeço o grande destaque que deu ao meu post (o último que publicou), mas gostaria que incluísse/publicasse a ultima parte do que enviei.
    «Acrescento que, estes cuidados continuados estão a ser protagonizados por enfermeiros no seu ‘duplo’ ou ‘triplo’ emprego, roubando assim a possibilidade e oportunidade de trabalho aos mais novos, que o fariam sem tanto cansaço e sem a exaustão das 16 horas de trabalho diário desse mesmo enfermeiro, e com certeza garantindo melhores cuidados aos doentes e seus familiares. E ainda… todos gostam muito do tema MORTE, talvez por ser uma experiência radical, mas quem se dedica efectivamente a cuidar e a garantir QUALIDADE DE VIDA daquele que está morrer?»
    Muito Obrigada
    PS

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  2. Rios de tinta se gastam na descrição da crise nacional e internacional. Muito se fala e escreve sobre a crise na Enfermagem Portuguesa : excesso de escolas de enfermagem, desemprego de enfermeiros, emigração a quanto obrigas...perda de direitos, emprego precário, lei da rolha, imposição pelo medo e não pela autoridade reconhecida, tentativas de descaracterização da Missão da Enfermagem, oportunismo de gestores caducos, receitas a qualquer preço, desrespeito pela Profissão, desânimo acentuado da Classe, perda de horizontes profissionais, desgaste acentuado da imagem, " não nos ouvem" , desunião, acções sindicais sem proveitos, revolta, excesso de vagas por preencher nas instituições de saúde, dotações inseguras que penalizam quem trabalha e quem recebe os cuidados de enfermagem, amorfismo da Ordem em determinados aspectos vitais, comportamentos dessincronizados, definições tardias de critérios de qualidade de ensino em enfermagem, um processo de Bolonha que penalizou os Enfermeiros Portugueses, formação pouco consentânea com as exigências do presente e do futuro (aceito contestação), investigação em Enfermagem não aplicável, uma inflação galopante, uma perda acentuada ao nível do poder de compra, ...será que me esqueci de alguma coisa?
    À partida será caso para pensarmos que estamos tramados. Será que estamos ? Parece que tudo depende de todos e de cada um de nós. Se nos debruçarmos seriamente sobre o que somos e fazemos, provavelmente encontraremos lacunas entre o Ser, o Saber e o Fazer bem feito . O facilitismo com que nos olhamos , leva a julgar o nosso desgosto supremo pela falta de importância que a priori parece que nos prendam. As vitórias não se fazem em grandes parandongas, mas constroem-se de pequenos nadas do quotidiano. Deixarmos nas mãos aparentemente alheias a nossa realização, não nos dota de mecanismos de crescimento profissional e pessoal, mas torna-nos dependentes das boas vontades dos empecilhos militantes ou de qualquer Robespierre ditador. A parcialidade de alguns induz ao desencanto de muitos e a apatia de muitos leva a que nos situemos no extremo das forças que nos vão abandonando.
    A visão estratégica conduz ao desenvolvimento de acções que , mesmo em surdina , resultam no reacender da ilusão e da esperança, o esforço continuado leva à concretização de um futuro que queremos válido, a dinâmica de uma acção estruturada, pensada e sistematizada conduzirá ao sucesso esperado. Desesperam em vão os que aguardarem que terceiros decidam a vida de cada um; nós próprios teremos de tomar nas mãos as rédeas de um cavalo desembestado sem rumo aparente. As mudanças não se fazem num dia e as revoluções começam em nós. De nada valerão os incentivos revolucionários se as nossas atitudes e comportamentos forem de derrota antecipada. É na adversidade que se criam as forças vivas da mudança e da verdadeira revolução das mentalidades. É ao nível destas que individual ou colectivamente teremos de marcar pontos. A mudança da mentalidade implica o esforço e a força conducente à vitória das convicções positivas.
    O desânimo irá assaltar-nos , mas dele seremos vítimas ad eternum e sem retorno se não impusermos a nós próprios a coragem necessária , as decisões fortes e as concretizações inalienáveis que nos propomos em pensamento e em acção.
    A verdadeira revolução está em aproveitar a adversidade para nos fortalecermos a nós e uns aos outros, no sentido da verdadeira mudança. Os tempos estão difíceis..acredito , no entanto, que os que verdadeiramente sentem a profissão, passarão incólumes pela crise .
    Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'escreve o seguite e passo a citar :- " Todo o ambiente é favorável ao forte; de um modo ou de outro ele o ajuda a cumprir a missão que se impôs e a conseguir ir porventura mais além das barreiras marcadas. A derrota deve mais atribuir-se à invalidez do impulso interior do que aos obstáculos que lhe ponham diante, mais à alma incapaz de se bater com vigor e tenazmente do que às resistências, às invejas e às dificuldades que o mundo possa levantar perante Hércules que luta.
    O mal que se vê é aguilhão para o bem que se deseja; e quanto mais duro, quanto mais agressivo, se bate em peito de aço, tanto mais valioso auxiliar num caminho de progresso; o querer se apura, a visão do futuro nos surge mais intensa a cada golpe novo; o contentamente e a mansa quietude são estufa para homens; por aí se habituaram a ser escravos de outros homens, ou da cega Natureza; e eu quero a terra povoada de rijos corações que seguem os calmos pensamentos e a mais nada se curvam.
    Mais custa quebrar rocha do que escavar a terra; mais sólido, porém, o edifício que nela se firmou. A grandeza da obra é quase sempre devida à dificuldade que se encontra nos meios a empregar, à indiferença que cerra os ouvidos do povo, e aos mil braços que logo se levantam para deter o arquitecto. Se cai em batalha, pobre dele, podemos lamentá-lo; não o chamara o Senhor para as grandes empresas; mas se pelo menos a voz se lhe erguer clara, firme, heróica no meio do turbilhão, não foram inúteis as dores e os esforços: algum dia um novo mundo se erguerá das brumas e o terá como profeta.
    Quem ia a perturbar ficará perturbado, quem ia a matar ficará morto. Não é com os mesquinhos artifícios, nem com o desprezo, nem com a mentira, nem pelo cansaço, nem pela opressão, nem pela miséria que se vencem os que pensaram num futuro e, amorosamente, com cuidados de artista, continuamente, com firmeza de atleta, o vão erguendo pedra a pedra. É necessário que se resista enquanto houver um fôlego de vida, mas que essa resistência seja sobretudo o contacto com a realidade da força criadora; é esta que afinal tudo leva de vencida e reduz oposições a pó inútil e ligeiro. " - fim de citação.

    Um Abraço a todos

    Margarida

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  3. Concordo plenamente com tudo o que foi dito no post, a parte academica e a aprte profissional. Acabei o curso em Março, sempre fui aluno médio desde o secundario e, agora que vou começar a trabalhar, espero ser o Enfermeiro que "espero ser" (desculpem a redundancia). O contributo de todos é necessário. Obrigado pelos ensinamentos que sempre aqui encontro.
    Abraço a todos os colegas

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  4. pelos vistos o trabalho da OE até dá os seus frutos. Senão reparem em mais uma "pérola" com que nos presenteia o SIM :

    De acordo com o Jornal Tempo Medicina, a Ordem dos Enfermeiros toma a dianteira e bate o ritmo à Missão dos Cuidados de Saúde Primários.
    Desconhecendo a proposta da mesma sobre as unidades de cuidados na comunidade e aproveitando o dia 12 de Maio, Dia Internacional do Enfermeiro, a Bastonária Augusta Sousa, avançou com a proposta dos enfermeiros, para o Secretário de Estado Manuel Pizarro, apesar de estas unidades fazerem parte integrante da reestruturação dos CS e como tal estar sob a tutela da MCSP.
    Pelo mesmo motivo, consegue também do Dr. Manuel Pizarro que se crie um grupo de trabalho, no prazo de 10 dias constituído com representantes da MCSP, ACSS, Ordem dos Enfermeiros e Unidade de Missão dos Cuidados de Saúde Continuados.
    Belo!
    Ainda bem que nessa unidade não trabalham médicos e a prescrição medicamentosa e de tratamentos passa a ser assegurada integralmente pelos dr. enf.!

    fonte: Sindicato Independente dos Médicos

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  5. enfermagemPT como grupo de pessoas tem um carinho especial por si e dá um grande voto de confiança na sua forma de pensar e de ver os problemas da enfermagem Portuguesa. Por isso enfermagemPT, no seu site, vai passando uma boa parte dos seus posts, nunca no sentido de querer copiar ideias mas sim divulgá-las. Teremos sempre o cuidado de colocar a respectiva fonte. Muito obrigado.

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  6. FARTOS DE ESPERAR, NÃO FIQUES A OLHAR!

    TODOS JUNTOS PELA CARREIRA
    5 JUNHO,
    10,30h,

    MINISTÉRIO DA
    SAÚDE

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  7. tenho a impressão que há aqui muitos comentários anónimos colocados pela mesma pessoa, tipo a comentar-se a si mesmo e a enganar a malta toda

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  8. Bem, palavras para quê?! Um óptimo post, uma óptima reflexão. Obrigado colega pelas suas palavras sábias. A mim também me entristecem essas situações, vamos ocupar o nosso lugar! Vamos ser verdadeiramente Enfermeiros!

    Gostava também se fosse possível receber a reflexão na íntegra na integra, se fosse possível, claro.

    Mais uma vez um muito obrigado aos que dignificam o nome da enfermagem e não têm vergonha de o fazer.

    P.S. Ao anónimo das 5h59m: o Colega também não pode falar muito, o seu post também é anónimo, pelo menos usem um pseudónimo!

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  9. até há poucos meses trabalhei no SU do HSM. até à minha saida, os perfil dos enfermeiros, no alert, não permitia ver os exames de imagem. facto que parecia não incomodar niguém. quando falava do assunta sentia como se estivesse a falar chinês. um dos chefes de equipa respondeu-me que a chefe tinha conhecimento e que estava a trabalhar no sentido de isso ser alterado. contornei a situiação com uma password que me permitia ver os exames, mas continuou a incomodar-me não ter acesso imediato com o meu perfil. temos direito a ter acesso a todo o processo clínico, exigir a alteração dos perfis dos enfermeiros no alert não é exigir nada a que não tenhamos direito. permitir a manutanção desta situação é andar para tráz e demosntra falta de brio profissional.
    no entanto no mesmo hospital e com a mesma aplicação informática, os enfermeiros podem pedir ECG. o que considero muito positivo...

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  10. Muitos dos alunos e profissionais recentes entraram para as Escolas quando já se falava em desempego para com a classe.E continuam a ingressar.Aliás não é só na Enfermagem que existe desemprego.De um total de mais de 60.000 licenciados 3 ou 4.000 serão Enfermeiros.O problema é estrutural e cada vez mais existem pessoas com problemas.Não devemos olhar só para o nosso umbigo.Deve-se combater e alterar este tipo de sociedade,ser participativo e interventivo e não simplesmente criticar, especialmente a Ordem.Quantos jovens são explorados ,sem emprego digno e sem futuro?Que medidas estão a ser tomadas para alterar isto?Que tipo de estrutura governativa temos?qual o nível dos politicos e as mediads tomadas?O que cada um de nós faz para combater este estado de coisas??? Pensem nisto.

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  11. Oh amigo das 10h00, no HSM o trabalho do enfermeiro é reduzido ao ajudante do medico, porque naquele hospital têm uma cultura ja muito intrinsecada. Aquilo é o pior hospital (dos que conheço) para um enfermeiro trabalhar. Então com alguns chefes de enfermagem que ja são do tempo da outra senhora, aquilo não muda.

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  12. tenho pena de quem só trabalhou no HSM. as instituições onde trabalhamos são escolas, onde realmente nos formamos. fiquei chocado quando cheguei ao HSM e vi que afinal a enfermagem não era aquilo que eu conhecia. percebi, tendo em conta que trabalham muitos enfermairos em HSM, a heterogenidade do exercicio da profissão. um médico faz sempre os mesmo onde quer que trabalhe. nós não. as funções dos enfermeiros depende da instituição onde trabalha. isto é muito grave... o que vai salvando a situação no HSM é o número elevado de enfermeiros que trabalhou antes noutra instituição. nunca trabalhei num hospital onde o espirito de sobordinado dos enfermeiros é tão visivel

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  13. "Sei de hospitais onde estão informatizados os exames laboratoriais e de imagiologia, a que os enfermeiros não têm acesso, ainda não dei conta que eles tenham reivindicando essa perda de informação."
    Deve fazer a leitura da revista da ordem, nº25/Abril 2007,pág. nº20, (Parecer CJ-111/2006).
    Para que este fosse dado alguém colocou o problema por escrito. Só lamento que a ordem dá os pareceres mas não fáz nada para que estes sejam implementados. E por que não penalizações para os enfermeiros directores que não levem à letra os respectivos pareceres?.
    Sem querer parecer redundante, deixo as minhas felicitações pelo blog.

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  14. Muito bom comentário.
    Penso que o sr DOUTOR ENFERMEIRO (e associados) não estará de acordo... visto que já disse aqui várias vezes que das matérias em questão, os enfermeiros sabiam muito!
    Pelos vistos ainda há enfermeiros com sensatez...
    Parabens sra. Enfermeira. Com pessoas assim, penso que a enfermagem pode evoluir!
    28795

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  15. Boa hora aos leitores profissionais.
    Concordo em parte com muitas opiniões aqui relatadas. A Enfermagem, em sua essência, é a melhor profissão para se viver. Estamos convivendo ao lado da dor e sendo desafiados a todo momento pelo sistema imunológico que não se cansa de lutar. E msm assim, terminamos o nosso dia felizes e satisfeitos se conseguimos tirar um sorriso de nosso moribundo. O grande problema da Enfermagem é a desunião entre os profissionais. Hoje, qualquer um é Enfermeiro... ou seja, qualquer um consegue o diploma. Essa banalização da profissão no afasta da luz harmônica. Deveriam existir testes psicotécnicos antes de se admitir um candidato pré-aprovado no vestibular à faculdade. Tem cada tipo nas universidades.....rsrsrs
    Todos largados, sem postura , isso envergonha os veteranos e a classe tbm.
    Os Enfermeiros deveriam se aprofundar mais e mais para que quando alguem chamar um Enfermeiro por engano de Dr. algum médico que esteja ao lado não nos desmereça com um sorrizo de canto de boca e em seguida nos peça para fazer algo nos chamando de DR.
    A Enfermagem é linda e muito profunda, mas cabe somente a nós fazê-la mais linda do que Florence a fez.

    Uma Seringa com Muito amor a todos os colegas

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  16. Parem de blá blá blá e vão lutar pelos seus direitos na prática diária. Façam trabalhos bem feitos, com amor e dedicação. Aí sim, serão reconhecidos e bem recompensados. Obrigada.

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