terça-feira, janeiro 30, 2007

"A viatura que faz o Paris-Dakar no Alentejo para prestar socorro"!


"A viatura que faz o Paris-Dakar no Alentejo para prestar socorro" - Este foi o título que o Jornal Diário de Notícias deu a este fabuloso artigo, o qual recomento vivamente a sua leitura. Relata o desespero que quem presta socorro no Alentejo. É simplesmente dos melhores textos que já li sobre Enfermeiros da VMER!Deixo-o na íntegra. Boas leituras!



"Partir do hospital de Beja com a viatura médica de emergência e reanimação (VMER) do INEM para responder a uma chamada - que pode vir de qualquer ponto dos 10 225 quilómetros quadrados do distrito - não é ter como missão chegar rapidamente a um sítio. É participar num Paris-Dakar em ponto pequeno. O percurso e a velocidade são de alta competição, a adrenalina também. Mas, sem pilotos experientes ou mecânicos especializados, aqui quem segura o volante são enfermeiros.

É indiferente que a estrada aconselhe a não ir a mais de 50 quilómetros por hora. São duas da tarde e as mãos firmes do enfermeiro Joaquim Góis já correram para dentro do carro, ligaram a sirene, e guinam agora o volante para a esquerda e para a direita, sempre sem baixar dos 180. A respiração e as batidas cardíacas re- plicam, altas, a rotação do motor. Mas a cabeça está fria e já longe, junto do jovem de 19 anos que espera em Aljustrel com um tiro no peito, a mais de 40 quilómetros de estrada retorcida e traiçoeira que não há suspensão que faça amansar. "A cabeça ainda é mais rápida que o carro", diz Hortensia Simavilla, a médica espanhola que faz equipa com Joaquim Góis dentro da única VMER em todo o Alentejo e se segura com força na pega da porta sempre que se avista mais uma curva. É a única viatura em 10225 km2 capaz de prestar socorro médico como se o doente estivesse num hospital, numa unidade de cuidados intensivos. E tem 60 minutos para chegar ao local onde foi feita a chamada. Os protocolos de emergência dizem que a primeira hora depois do alerta é decisiva, chamam-lhe a hora de ouro. Para a VMER de Beja, os 60 minutos de ouro são, em grande parte das vezes, consumidos no caminho.

Pode acontecer que, a qualquer momento, se atravesse um javali. Ou, como agora, um camião que não ouve a sirene, passa o cruzamento e quase leva a VMER consigo. Pode haver gelo, pode haver um buraco no alcatrão, pode apenas haver terra batida, muita lama e muitas pedras. É nisto tudo em que o enfermeiro Joaquim Góis pensa, enquanto segura, de mãos firmes, o volante, e vai antecipando como terá entrado a bala, onde estará alojada no jovem que o espera em Aljustrel. "Vou buscar os protocolos, penso onde está isto, onde está aquilo, o que faço primeiro quando lá chegar, o que faço a seguir. Nunca sabemos o que vamos encontrar."

Antes de pilotar a VMER de Beja, e ter uma semana de formação em condução rápida, Joaquim teve oito anos de formação em emergência nas antigas viaturas pré-hospitalares que funcionavam só com enfermeiros. Oito anos que serviram para conhecer os cantos mais isolados do distrito e para saber que, quando chegar ao local onde precisam dele, pode encontrar o que menos quer. "Imagine receber uma chamada de um acidente grave, chegar lá e encontrar quatro amigos. E o seu melhor amigo morto. No momento, não penso em nada, faço o meu trabalho. Mas depois... Chorei o caminho todo de Beja a Santarém."

Mas, na estrada, quando segura o volante, não há tempo para pensar nas imagens dos socorros anteriores. A vida e a morte também se decide ao volante. As estatísticas dizem que a ambulância recebe por dia exactamente 2,1 chamadas. Mas há dias em que recebe cinco. Se vierem todas de Odemira, correspondem a mil quilómetros. "É um grande desgaste humano e de equipamentos", explica o médico Carlos Voabil, responsável pela coordenação do serviço no hospital de Beja. Em cinco meses, o INEM já teve que substituir o carros cinco vezes, porque a mecânica automóvel não conseguiu sobreviver à adversidade do caminho.

São 14.20. Vinte minutos depois de sair do hospital de Beja, Joaquim Góis e Hortensia Simavilla saem do carro em Aljustrel e correm, com os sacos e as caixas de equipamento, para dentro da ambulância dos bombeiros. A bala entrou e saiu. O jovem está consciente. Depois dos primeiros socorros, o regresso ao hospital. Doente, médica e bombeiros na ambulância, enfermeiro a conduzir a VMER. "Normalmente vou atrás. Se piorar, eles fazem-me sinal, eu paro e vou ajudar o médico. Às vezes, chegamos a parar três ou quatro vezes." É que Joaquim não é só enfermeiro. É motorista e piloto de alta competição e faz todos os dias o Paris-Dakar dentro do Alentejo.
"



Fonte: Diário de Notícias
Foto: www.bombeiros-portugal.net

Comments:
Excelente artigo.
Abraço.
 
Admiro os enfermeiros. Mesmo muito!
 
Vivam os médicos, enfermeiros e socorristas.... INFELIZMENTE ja necessitei de todos e fui muito bem tratada!
 
Ora cá está um relato em primeira mão da realidade da emergência pré-hospitalar no Alentejo.
Um abraço aos "Bravos do Pelotão".
 
artigo magnifico!!! espetacular do ponto de vista emocional!! ADOREI!!!
 
este é o homem que chora como uma crianca por tudo e por nada, mas que depois mantém a calma e a frieza nas alturas em que tem como prioridade salvar alguém esquecendo-se de si e até da sua própria familia e que eu tenho a sorte de o ter sempre por perto, o meu pai.
 
Antes de pilotar a VMER de Beja, e ter uma semana de formação em condução rápida, o Joaquim teve oito anos de formação em emergência nas antigas viaturas pré-hospitalares ? Que funcionavam só com enfermeiros ? 8 anos em formaçao ? E os bombeiros/socorristas que tripulavam/conduziam os ditos VAPHs, iam em turismo ? Prvavelmente seria...
 
Antes de pilotar a VMER de Beja, e ter uma semana de formação em condução rápida, o Joaquim teve oito anos de formação em emergência nas antigas viaturas pré-hospitalares ? Que funcionavam só com enfermeiros ? 8 anos em formaçao ? E os bombeiros/socorristas que tripulavam/conduziam os ditos VAPHs, iam em turismo ? Prvavelmente seria...
 
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