sexta-feira, maio 30, 2008

Despi a "farda"...



"A arte do descanso é uma parte da arte de trabalhar"

John Steinbeck

Retemperar forças também é necessário e como tal, o Doutor Enfermeiro despiu a "farda" e vai fazer uma breve pausa.

Os tempos têm sido duros para todos e o J. Steinback tem a sua razão. Na segunda quinzena - algures por aí - já com as baterias refilled, volto à carga.
(Assim, peço desculpa pelo interregno, mas, quando regressar, é altura de iniciar as negociações da carreira de Enfermagem, tal como agendado com a Srª Ministra da Saúde, Ana Jorge, ou seja, regresso em boa altura...)

Prometo duas coisas (simples): uma, são algumas fotos das férias. A outra, é segredo....

O que não é segredo é que estes dois livros vão lá dentro....
(Desejo boas férias para quem - à minha semelhança - vai, e até já, para quem fica.....)

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Enquanto vou e volto, deixo-vos na companhia acústica de António Vivaldi, Concerto No.2 in G Minor, Op. 8, RV 315, Mvt 2: presto. Fiquem bem.

quarta-feira, maio 28, 2008

Enf. Germano Couto: o homem e a visão!





O Enf. Germano Couto (GC) foi entrevistado pelo Jornal O Primeiro de Janeiro. Recordo que, este, pertencia à única lista eleita que rompeu com a instalação da lista da actual Bastonária, Enfª. Maria Augusta de Sousa. O refreshment da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros (SRN-OE) parece cada vez mais evidente.

A par de si, o Enf. Germano (interessado, inteligente, e receptivo), fez-se acompanhar por uma lista jovem, ambiciosa e disposta a melhorar a imagem e as condições de trabalho dos Enfermeiros.
Agrada-me, a título pessoal, que um profissional detentor de um doutoramento, continue a exercer em contexto clínico ou de saúde, como quiserem, e em simultâneo na docência - penso que é salutar para uma profissão que muitos alegam estar desfasada entre a prática e a teoria, a migração permanente e dinâmica de conhecimentos entre as várias realidades.
Vá lá, Enf. Germano, ensine lá como se faz... há muita gente que tem que aprender...
(Podem ler a entrevista clicando no link ou nas imagens para seja possível a sua ampliação.)

Deixo-vos excertos da mesma:

"Não deixo de manifestar a minha preocupação actual, quer pelo exagero de abertura de vagas no ensino superior e dos respectivos locais de formação, quer pela qualidade do ensino em alguns desses contextos (....) que a tutela imprudentemente autorizou pondo, desta forma, em causa, a desvalorização laboral do trabalho do enfermeiro"

"(...) o objectivo de partilhar e envolver os Enfermeiros (...)"

"Os enfermeiros merecem e têm o conhecimento, a credibilidade, o valor e as competências
para serem parceiros activos em todas as decisões a serem tomadas. É uma exigência nossa.
"

"No topo das preocupações da OE está o paradoxo actual do desemprego entre os enfermeiros e o deficit de hora de cuidados de Enfermagem nos locais onde se prestam estes cuidados."


segunda-feira, maio 26, 2008

A formação pré-graduada em Enfermagem!

A partir de um repto de um(a) colega e do comentário de outro(a), este post serve de ponto de partida a uma discussão saudável e importante para o futuro da profissão de Enfermagem.
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"Acontece que é visível a obsessão com o "bio", se não concorda, veja as centenas de posts deste blog a apelar à anatomia, fisiologia, aos fármacos, etc..."

Não é uma obsessão - é uma indispensabilidade!
O "psico-social" está ser desenvolvido entre os Enfermeiros e segue no trilho desejado. O "bio", apesar de ser uma necessidade dos profissionais de Enfermagem, parece estar a ser renegado... o que é mau numa profissão que se quer apelidar de científica. É que para tudo na vida é preciso compreender a respectiva base bio-fisiológica...
Há várias teses e estudos que lançam o alerta para a significativa fragilidade dos Enfermeiros nesse âmbito. E se queremos ser uma profissão assente em pilares sólidos, é fundamental tentar eliminar as nossas fragilidades... Na generalidade e entre muitas outras coisas:

> Como podem os Enfermeiros serem bons profissionais se não sabem que medicação estão a administrar (não conhecem grupos terapêuticos, indicações, efeitos secundários, diluições/reconstituições, interacções, etc)?
> Como querem cuidar de doentes em estados demenciais se não dominam a etiologia e desenvolvimento destas patologias?
> Como podem, os Enfermeiros, "vigiar" doentes monitorizados, se não sabem interpretar ritmos cardíacos adequadamente?
> Como queremos abarcar - nos Centros de Saúde - a prevenção primária em toda a sua plenitude, se os conhecimentos não o permitem?
> Como podem, os Enfermeiros, ser especialistas em cuidados continuados/geriatria se não conhecem a pormenorizadamente a fenomenologia científica do envelhecimento e patologias relacionadas?

Por exemplo, no Canadá, um dos países mais desenvolvidos do mundo no que toca à Enfermagem, aperceberam-se - há uns anos atrás - do mesmo erro. Já nem injectáveis administravam...
Aperceberam-se a tempo. Começaram a ter problemas com o emprego, reconhecimento profissional e esferas de actuação - a Enfermagem estritamente psicossocial não era a mais adequada!

Hoje, podemos vê-los de estetoscópio ao pescoço (para lidar com os diagnósticos de Enfermagem do âmbito respiratório/ventilatório e não só!) e a prescrever fármacos (com o mesmo propósito: lidar com os diagnósticos de Enfermagem). Juntaram tudo isso à força da estratégia psicossocial.
O resultado é óptimo: os utentes estão satisfeitos. Os Enfermeiros tratam-nos "dos pés à cabeça" sem ter que recorrer a "pedidos" (muitas vezes, quase por favor...) a outros profissionais... Mas também sabem reconhecer quando um doente precisa de ser enviado para o médico.
Em Portugal, começaram a florescer os Técnicos de Gerontologia, Podologistas, Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica para tudo e mais alguma coisa (para fazer ECG's, colher sangue, reabilitar, administrar preparações para a imagiologia, etc...), aproveitando para isso, por vezes, lacunas em áreas menos dominadas em termos técnico-científicos e/ou abandonadas pelos Enfermeiros!
Em tempos, os Enfermeiros faziam tudo isto e muito bem. O emprego não se promove só com reptos de rácios. Com essa argumentação ninguém lá vai: os espanhóis bem sabem disso!
Só com o psicossocial a profissão não sobrevive. Rapidamente alguém se lembraria de abrir as portas a Sociólogos e Psicólogos...

O segredo da profissão está no equilíbrio entre todos os saberes, considerando que, dependendo da área em que o Enfermeiro exerce, há necessidades técnico-científicas específicas, e como tal o domínio de determinado saber deve ser orientado para as necessidades em questão. É obvio que não se pede o domínio das mesmas matérias a Enfermeiros dos Cuidados Críticos e da Saúde Mental...

sábado, maio 24, 2008

Os "fazedores de pérolas" e os Drs. Enfermeiros....


Os fazedores de pérolas fizeram brotar mais uma: o Sindicato Independente dos Médicos está de volta no seu delírio egocêntrico habitual...

"De acordo com o Jornal Tempo Medicina, a Ordem dos Enfermeiros toma a dianteira e bate o ritmo à Missão dos Cuidados de Saúde Primários.
Desconhecendo a proposta da mesma sobre as unidades de cuidados na comunidade e aproveitando o dia 12 de Maio, Dia Internacional do Enfermeiro, a Bastonária Augusta Sousa, avançou com a proposta dos enfermeiros, para o Secretário de Estado Manuel Pizarro, apesar de estas unidades fazerem parte integrante da reestruturação dos CS e como tal estar sob a tutela da MCSP. Pelo mesmo motivo, consegue também do Dr. Manuel Pizarro que se crie um grupo de trabalho, no prazo de 10 dias constituído com representantes da MCSP, ACSS, Ordem dos Enfermeiros e Unidade de Missão dos Cuidados de Saúde Continuados. Belo! Ainda bem que nessa unidade não trabalham médicos e a prescrição medicamentosa e de tratamentos passa a ser assegurada integralmente pelos dr. enf.!"

sexta-feira, maio 23, 2008

O Guru...


Um guru chamado Luís Nabais (ESE Lisboa), anda a fazer das suas. Anda a ludibriar Enfermeiros, tentando fazer perder o seu tempo com dotes artísticos mais próprios do conservatório. Mostra imagens na aulas, para pedir interpretações aos "alunos" do Complemento de Formação em Enfermagem. As vítimas, hipnotizadas por tamanha irrelevância para o grau académico em questão, divagam...

No final da "aula", cada um segue para o seu local de trabalho. E a magia dá-se a olhos vistos. Suponhamos que o primeiro exerce em cardiologia. Chega ao local e lembra-se do Nabais. O delírio tem início:
- "Vejo uma praia.... turistas em espreguiçadeiras... um deles está a vender tremoços... e os outros estão a correr em direcção a ele para poderem comer alguns"...

Desfeita a fantasia, afinal eram doentes críticos e um deles estava em linha isoeléctrica. Não havia tremoços e a equipa estava a proceder a uma reanimação. Ah... isso. A licenciatura não falava disso. O Nabais só queria dançar.

Um dos outros Enfermeiros, entra no local de trabalho e a mente voa de imediato para longe:
- "Vejo um pexinho vermelho... uma fada azul e o lobo mau a lavar os dentes com pasta pepsodent"...

Afinal era o chefe que estava em frente. O Enfermeiro ainda tentou explicar que o Nabais tinha dito que blá, blá, blá.... mas de nada valeu.

Ah... é verdade! E que tal aprender algo de útil?
Espero que o Prof. Nabais não leve mal a brincadeira mas, na licenciatura-base, há tanta necessidade de conhecimentos que não estes. Nem sei por onde começar....
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P.s. - As divagações são pura ficção.

Quanto paga o INEM aos profissionais dos Heli's?




É altura de desmistificar a vergonha em prol da transparência. O INEM, entidade e autoridade respeitada no âmbito da emergência, é um mau pagador. Rectificação: é um mau pagador no que concerne aos profissionais de Enfermagem!
Se explorarem, de forma minuciosa, a lúgubre tabela que, custosamente, vos deixo, podem averiguar- e traçar os vossos juízos - a escandalosa diferença entre os salários dos Médicos e Enfermeiros.
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Alguns destes profissionais (Enfermeiros) trabalham exclusivamente para o INEM. Com tantas organizações de Enfermagem a apregoar "dignidade" para a classe, parece-me que, o aviltamento vai morrer solteiro... É que, se não sabem, os Enfermeiros-que-trabalham explicam: a "dignidade" também verte destes pormenores "sem importância"...
Lutar pela vida das pessoas a bordo de uma máquina voadora implica esforço, dedicação, vontade, sacrifício e investimento pessoal e profissional para todos os profissionais. Sendo assim, porque é que só os Enfermeiros é que são mal remunerados?
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Basta atravessar a fronteira para que, a diferença salarial entre estas duas classes que habitam os helicópteros da emergência, seja mínima....
Estamos no countdown para o Euro 2008 (futebol). Em caso de vitória, os profissionais-que-chutam-bolas serão presenteados com 300 mil euros. Os Enfermeiros que lutam, diariamente, contra as intenções da morte levam 150 euros...
Dignidade? Justiça? Reconhecimento?

Será que vale a pena?


"De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos"
- Confúcio -...................

Deixo-vos uma reflexão (obrigatória) de uma colega:
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"Já tinha ouvido falar deste blog e hoje acabei por “perder” umas boas horas a ler o seu conteúdo!!! Muito interessante, na essência parece-me que está feito um diagnóstico da crise que vive a Enfermagem, como disciplina e como profissão.

São visíveis os sinais dessa crise, o desemprego e a desvalorização do próprio enfermeiro, quer pela sociedade em geral, quer pelos responsáveis da saúde, em particular, são alguns dos mais escritos neste web-espaço. No entanto, parece-me redutor que se queira atribuir culpas apenas e só à OE, às Escolas e aos docentes. Sou enfermeira há 23 anos e lembro-me muito bem da formação que tive nessa altura, cuja cientificidade e nível de complexidade do conhecimento estava muitíssimo distante da que é hoje conferida numa boa parte das escolas superiores de enfermagem/saúde.

Não podemos negar que houve uma grande evolução no ensino de enfermagem em Portugal, obviamente graças ao esforço (académico, cientifico, etc) feito pelos docentes de enfermagem. Há que repensar o Ensino em Enfermagem, sem dúvida, mas comecemos pelo ensino, donde saem milhares de enfermeiros... como é essa formação? Penumbra… Qual é a inflação de notas? Como são realizados os estágios clínicos? Número de vagas? Temos de aferir a qualidade do ensino de enfermagem e pautá-lo por idênticos critérios e de exigência.

Fala-se neste blog do «cuidar» em excesso e o deficit de conhecimentos de farmacologia, bioquímica, fisiopatologia. São matérias nucleares e obrigatórias, no entanto essas são as disciplinas que os alunos fazem “à rasca”, que deixam para a época de recurso, vão passando com 10 ou 11 e ficam muito satisfeitos e lá vão indo… É óbvio que são conhecimentos determinantes para um cuidar de qualidade, tudo tem o devido lugar e a sua proporcionalidade e equilíbrio. E na prática clínica é isso que se observa?

Sei de hospitais onde estão informatizados os exames laboratoriais e de imagiologia, a que os enfermeiros não têm acesso, ainda não dei conta que eles tenham reivindicando essa perda de informação. O doente tem KCl em curso há 10 dias e o enfermeiro cumpre escrupulosamente, sem questionar, sem problematizar, e um longo etc… Por outro lado, todos comentamos que a culpa é dos enfermeiros, que se deixam substituir por outros profissionais, técnicos, auxiliares, etc.

Quando ouço uma enfª a pedir à AAM “vá lá dar banho ao 9” e dou conta que o 9 é um idoso com dispneia grave e cianose intensa, fico desiludida com a Enfermagem...
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O futuro da profissão vai depender de todos nós, vou continuar a fazer a minha parte com muito empenho, façam o mesmo e não tenham vergonha de ser enfermeiros. Vou também continuar “cliente” deste blog, oxalá seja útil o meu contributo."

terça-feira, maio 20, 2008

2012, algures na Ucrânia.

"Vão faltar médicos em Portugal dentro de quatro anos" link (Título da primeira página do Jornal Diário de Notícias)
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"Tudo isto acontece numa altura em que se prevê que a insuficiência de médicos atinja um ponto crítico entre 2012 e 2017, quando - tal como admitiu recentemente a Ministra da Saúde - "a situação poderá ser muito complicada"" link

Prevê-se, portanto, a subida exponencial dos salários, status social e valorização dos médicos (...o que, consequentemente, irá desequilibrar, ainda mais, os pratos da balança entre as várias classes de profissionais de saúde).
E os Enfermeiros, como estarão em 2012?
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"O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente"
-Mahatma Gandhi -

segunda-feira, maio 19, 2008

Medalha Nightingale


O Enf. Pasang Dondrup é o director-adjunto do People's Hospital, na província de Sichuan - Tibete. Foi o primeiro Enfermeiro do sexo masculino a ser agraciado com a Medalha Nightingale (link).
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Com 52 anos de idade, é uma personalidade altamente estimada e elogiada pela sociedade tibetana.

Pensar pelo prazer de pensar...


Há 90 anos nasceu (N.11-Maio-1918, F.15-Fevereiro-1988) uma das pessoas que mais admiro neste mundo - o físico norte-americano Richard Feynman. Ficou na história por inúmeros motivos, sendo que o Prémio Nobel foi um dos mais insignificantes.
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Um homem - com um sentido de humor ímpar e sempre à frente do seu tempo - que adorava pensar só pelo prazer de pensar. Tornou-se, sem dúvida, um dos responsáveis pela minha paixão pela ciência - li todos os seus livros.
E como nem só de Enfermagem vivem os Enfermeiros, aqui fica esta minha pequena nota: um exemplo de saber-ser, saber-estar e saber-saber que influenciou positivamente a minha vida.


sábado, maio 17, 2008

A arca do Sr. Pizarro!



Um profissional de Enfermagem que se preze e labute em prol da elevação da sua classe, deve ter conhecimento do seguinte:
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O Manuel Pizarro, Secretário de Estado da Saúde deve andar, certamente, a zombar dos Enfermeiros e da Enfermagem. As suas declarações ao Jornal Vida Económica são – no mínimo – uma injúria real à decência da nossa profissão!
Se existem motivos circunstanciais que me tiram verdadeiramente do sério, este é, sem sombra de dúvida, um deles.
O Pizarro – médico de profissão - gosta de endeusar os seus pares. "A formação de médicos é altissímamente exigente" – diz, acrescentando que "o país tem de ter absoluta garantia de que essa formação é feita de acordo com os mais elevados padrões".
Para gáudio da capoeira, atesta indiscutivelmente que não é possível abrir faculdades privadas de medicina porque até agora nenhuma das propostas foi "suficientemente sustentada do ponto de vista pedagógico". Relembrou ainda que "por alguma razão as faculdades de medicina estão sempre acopladas a grandes hospitais". (Quase todos os outros países têm privadas de medicina, mas pelos vistos o solo tuga não é suficientemente digno para receber formação de médicos)
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Isto irrita-me: a ponderação de abertura ou não de uma faculdade privada de medicina faz parar o país e mobilizar todo o capital humano, político e intelectual da nossa praça, faz correr rios de tinta nos jornais, discutindo-se tudo isto até à exaustão para avaliar se é possível criar mais uma faculdade (cheiro nauseabundo a lobbys) para formar deuses do Olimpo...
Este processo de formação dos omnipotentes do
estetoscópio parece ser em tudo diferente da abertura das escolas de Enfermagem que, abriram sucessivamente, sem garantidas de qualidade, sem corpos docentes qualificados, sem qualquer agregação a hospitais centrais, sem “campos de estágio” manifestamente suficientes de ponto de vista quantitativo e pedagógico.
Deve ter sido um secretáriozeco do Ministério (não temos direito a ninguém mais bem colocado na hierarquia) que, vendo à sua frente a incomodativa papelada para o processo de abertura de mais escolas de Enfermagem, resolveu despachar (favoravelmente) todas (até porque a hora do almoço estava a chegar e estava com pressa!) com o espírito "que-se-lixe-afinal-de-contas-é-só-para-formar-enfermeiros-de-meia-leca"!

E deu no que deu. Abriram-se escolas de Enfermagem levianamente, sem condições, algumas delas no meio de desertos académicos, sem hospitais nas proximidades e com estágios de 5ª categoria: o lar da Sr.ª Fulana ou o infantário da D. Sicrana!
Mas não é só: as faculdades de medicina estão sempre a ameaçar os numerus clausus (vagas), porque, desgraçadas, não têm espaço para tanto aluno sedento de conhecimento. As escolas de Enfermagem, por seu lado, com espaços arábicos, abrem vagas como quem cultiva batatas!
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Lembro todos os colegas que possam não saber (talvez os mais novos), que em 1973, com apenas 3 faculdades de medicina, entraram 4000 alunos para as mesmas. No ano seguinte, 1974, se o ensino não tivesse sofrido a reforma que foi vítima, tinham entrado em cerca de 5000 alunos!! Não sabiam? Se calhar também não sabiam que ainda existem alguns médicos a exercer com o curso de medicina realizado em… 3 anos! Pois é…
Tanta pieguice e lamechice e afinal de contas…
Afirmam que as 7 faculdades estão "a abarrotar", vejam só (!), para formar pouco mais de 1000 alunos...!
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Atenção, não discordo das exigência de qualitativa e pedagógica seja de quem for, só não compreendo e não aceito que os Enfermeiros não sejam alvo da mesma atenção, rigor e ponderação. O ensino de Enfermagem não merece?
Depois disto, espero mesmo para ver se a Ordem dos Enfermeiros, o tal organismo regulador que diz querer dignificar a formação e o exercício profissional, remete algumas palavras para a imprensa e para os seus membros, ou pelo contrário, se fecha no imperdoável silêncio subjugado!

quinta-feira, maio 15, 2008

Agora é que estamos a falar!


"Ordem dos Enfermeiros na Assembleia Mundial de Saúde e em reuniões internacionais sobre Enfermagem e Saúde"

"A Enf.ª Maria Augusta de Sousa, Bastonária da OE, está em Genebra, na Suíça a participar em várias reuniões internacionais, que culminarão com a 60ª Assembleia Mundial da Saúde, que decorrerá entre 19 e 23 de Maio, integrando a delegação oficial portuguesa liderada pela Dra. Ana Jorge, Ministra da Saúde".

"Entre os assuntos em debate estarão a questões como a transferência de tarefas, a prescrição de medicamentos por parte dos Enfermeiros e o futuro da regulação". link

Multas ao utentes absentistas!?!


Peço imensa desculpa pela frontalidade, mas a proposta mais palerma do momento, provém das mentes brilhantes do Conselho Nacional de Ética e Deontologia da Ordem dos Médicos. Uma "anedota" das mais foleiras que já vi...
Podem clicar na imagem para ampliar e ler - uma coisa está garantida: divertimento grosseiro!

quarta-feira, maio 14, 2008

Auf Wiedersehen!


Há muito tempo que sabiam qual seria o futuro....

terça-feira, maio 13, 2008

1995-2006: a hiperpsicossocialiémia está a alterar o "equilíbrio hemático" da Enfermagem!


No seguimento do post (O "mundo académico" da Enfermagem está frágil e radicalmente psicossocial: mudança urgente precisa-se!), fiz o meu trabalho de casa.
Foi à minha biblioteca e limpei o pó a uma das melhores revistas de Enfermagem portuguesas - a Nursing. Com que intuito? Comparar o âmbito dos artigos publicados pelos Enfermeiros entre 1995 e 2006, no sentido de tentar esclarecer o que vem escrito no post supracitado e que suscitou mais de 100 comentários (cerca de 40 foram anulados pelo uso de linguagem inadequada, pelo que foram publicados apenas cerca de 60).

Então, em 1995, os Enfermeiro escreviam e produziam artigos deste tipo (por exemplo):

> "Avaliação inicial pelo Enfermeiro e manipulação de crianças queimadas"
> "Terapêutica medicamentosa e ulceração péptica"
> "Reprodução humana assistida e genética"
> "Enfermagem e a anestesiologia"
> "Fármacos usados na asma"
> "Efeitos da imobilidade prolongada no idoso"
> "Acidentes com cortantes e/ou perfurantes"
> "Cuidados de Enfermagem a doentes submetidos a cirurgia da próstata"
> "Formação: o protocolo na colaboração docência/ exercício hospitalar"
> "A terapêutica trombolítica no enfarte agudo do miocárdio"
> "Assistência prestada pelos Enfermeiros orais e maxilofaciais"
> "Grupos profissionais e estratégias de poder num hospital"
> "Diabetes infantil"
> "O doente com pacemaker"
> "Hipotiroidismo"
> "Assistência a doentes que necessitam de terapêutica de oxigénio a longo prazo"

A tendência na evolução psicossocial dos artigos foi clara e no ano de 2005/06, os Enfermeiros já produziam outro tipo de artigos (por exemplo):

> "Ética: cuidar com dignidade"
> "Gestão para a qualidade total"
> "Cuidados de Enfermagem: que justiça praticar?"
> "Enfermagem e a morte: contributos de Tolstoi para a reflexão dos Enfermeiros"
> "Atitudes dos Enfermeiros perante a doença oncológica"
> "Eutanásia: questões morais"
> "Encadernar a metodologia? Problema epistemológico e/ou teórico"
> "Abordagem baseada na evidência para a segurança do paciente"
> "Reflexão: o que nos vai cá dentro"
> "Enfermagem em fim de vida: cuidar é ajudar a viver"
> "O paradigma holístico na Enfermagem"
> "A arte de viver no outro"
> "Acolhimento ao doente oncológico: cuidado autónomo de Enfermagem"

É evidente? Mais uma vez: Não menosprezando (ou minorarando) a importância do "Cuidar" na Enfermagem, penso que este radicalismo psicossocial (numa tentativa não muito sensata de demarcação do modelo biomédico) não é benéfico para a profissão. A dimensão psicossocial é muito importante para a nossa profissão, mas com proporcionalidade relativa, tal como todas as outras!
Existem outras estratégias e quer se queira, quer não, o conhecimento biomédico-farmacológico é inerente/indissociável à Enfermagem (e as novas exigências assim o ditam!). Em grande parte é o que os empregadores esperam de nós! Não só, mas também!
O investimento exagerado apenas na dimensão psicossocial em detrimento das outras (biomédica, técnica, etc...), está provocar um efeito estufa que começa a "asfixiar" a profissão...

Os Enfermeiros são "borlistas", altruístas e tal...


"Serviços de enfermagem também deviam ser comparticipados" link

Interessante a entrevista do Enf. Élvio de Jesus ao Jornal da Madeira - nomeadamente a nível das convenções dos serviços de saúde.
O desacordo pronto surge quando a jornalista questiona o Sr. Enf. Élvio:

- "Apesar do valor da profissão, são ainda mal pagos?"

A resposta, ainda que possa ser mal interpretada (porque a sua opinião provavelmente será outra), custa a digerir:

- "Sim, mas esta é uma profissão de valores. Felizmente temos muitos jovens muito bem formados, empenhados e com um espírito altruísta muito grande (...)."

Como quem diz "não faz mal, são todos uns caridosos"...
É importante começar a demarcar a Enfermagem como profissão científica deste paradigma do amor, altruísmo e compaixão...
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Por fim, fiquei surpreendido, mais uma vez, com o suposto rácio da OCDE que o Sr. Enfermeiro diz ser o actual - cerca de 10 Enf/mil hab. - e fiquei pensativo em relação ao recente relatório da mesma entidade onde é afirmado que o respectivo rácio está ligeiramente acima dos 8 Enf./mil hab. Continuo a afirmar que a OE teima em esquecer que a OCDE junta aos auxiliares de Enfermagem (cá não existem) a esses cálculos, sobrestimando os resultados finais. (Impedindo, com frequência, as instituições de contratar mais profissionais, tendo em conta a conjuntura sócio-económica e dificulta o nossa transposição remuneratória para outro nível académico)
No fim, fiquei a reflectir "será que os rácios da OCDE são como o preço do combustível que é inflacionado todas as semanas?"...

segunda-feira, maio 12, 2008

Hoje, 12 de Maio - Dia Internacional do Enfermeiro


O meu desejo para o Dia Internacional do Enfermeiro (hoje, 12 de Maio): que todos os Enfermeiros possam exercer a sua profissão ao mais alto nível - condignamente, muito bem remunerados, reconhecidos e admirados, modernizados, pautados pela qualidade e pelo rigor, unidos, sem desemprego ou precariedade. Só isso.
Gostava, sinceramente, que ao fim de um dia de trabalho, nos sentíssemos orgulhosos em ser Enfermeiros.
Bom dia para vós, estimados colegas e amigos.
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"O vento e as ondas estão sempre do lado dos melhores marinheiros"
- Edward Gibbon -

sábado, maio 10, 2008

Em pleno dia 12 de Maio (Dia do Enfermeiro), era isto que precisavamos...


"Bastonário [da Ordem dos Engenheiros] defende redução de 80 por cento nos cursos de engenharia" link

"O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, defendeu hoje que os cursos de engenharia em Portugal deveriam ser reduzidos em cerca de 80 por cento"

"Foram-se abrindo cursos em escolas por questões económicas, de negócio, de tudo e mais alguma coisa"

"Bastonário Fernando Santo, pensa que se deveria diminuir ao numero de vagas (...) nas Universidades" link

"Bastonário [da Ordem dos Engenheiros] contra excesso de cursos de Engenharia" link

"Se fôssemos menos rigorosos e dados ao facilitismo, em vez de 38 mil membros que hoje temos teríamos uns 50 mil" link

"Estamos perante um facilitismo que os politécnicos têm vindo a desenvolver para terem mais alunos" link

"Que conselho daria a um jovem estudante de engenharia, ou potencial aluno de engenharia? A primeira questão prende-se com a necessidade de escolher uma escola de qualidade" link

sexta-feira, maio 09, 2008

O "mundo académico" da Enfermagem está frágil e radicalmente psicossocial: mudança urgente precisa-se!


Já imensos colegas me abordaram, preocupados, relativamente a este assunto - uma autêntica endemia. Arrisco-me a falar sobre ele, mesmo sabendo que este blog também frequentado por inúmeros não-Enfermeiros.

Nos anos mais recentes (e não só), a grande maioria dos académicos e da produção de trabalhos de investigação, versa apenas sobre uma das múltiplas dimensões com que a Enfermagem está relacionada: o âmbito psicossocial! Mas, aparentemente, tem havido constatações que este enigma viral está também a deixar a sua marca nas escolas. O plano de estudos do Curso Superior de Enfermagem está a adoecer, vítima de um enviesamento tendencioso no ensino. Não será menos do que o "Cuidar" para o exercício profissional dos Enfermeiros, a farmacologia, a patologia, a microbiologia, a bioquímica, entre outras...
Para tristeza da classe, verifica-se que a maior parte dos alunos e profissionais recém-formados (assim como alguns Enfermeiros mais "velhos", é verdade!) têm conhecimentos científicos frágeis e pouco especializados em várias vertentes do saber. Quando questionados, a resposta é unânime: "a escola só fala em cuidar, cuidar, cuidar, cuidar e dedica pouco tempo a outras coisas".

Não menosprezando (ou minorarando) a importância do "Cuidar" na Enfermagem, penso que este radicalismo psicossocial (numa tentativa não muito sensata de demarcação do modelo biomédico) não é benéfico para a profissão. Existem outras estratégias e quer se queira, quer não, o conhecimento biomédico-farmacológico é inerente/indissociável à Enfermagem (e as novas exigências assim o ditam!). Em grande parte é o que os empregadores esperam de nós! Não só, mas também!
(O próprio Infarmed dispõe de fichas de notificação de RAM para Enfermeiros, o que pressupõe que as autoridades reconheçam os Enfermeiros como profissionais altamente habilitados em farmacologia (por ex. e falando neste caso em particular), ou não fossem os profissionais de Enfermagem os responsáveis pela preparação/administração/avaliação/vigilância no âmbito farmacológico)
É que quando um Enfermeiro que tem dúvidas relativamente à localização do cúbito, não sabe o que é uma agranulocitose ou não percebe nada de farmacologia... meus amigos, desculpem-me a frontalidade mas, alguma coisa anda podre.

É constrangedor quando numa situação de urgência, um médico pede "adenosina" ou um "lanoxin ev" e o Enfermeiro não sabe o que é... ou quando pedem, permanentemente, para traduzir nomenclaturas comerciais em DCI's (ou vice-versa), começo a deixar de ter fé...
(a terminologia DCI é relativamente comum entre profissionais, enquanto que no interface Enfermeiro/utente é mais usada a comercial, logo, pressupõe que um bom profissional conheça ambas - as próprias circulares normativas/informativas do Infarmed usam, como é obvio, a nomenclatura comercial)
Hoje apanharam-me mal disposto. Quando alguém, informalmente, me perguntou: "se leucopenia era aumento ou diminuição dos leucócitos" (denota falta de conhecimento da terminologia médica).... a "casa" veio abaixo...
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P.s. - Estupendo, foi há uns anos atrás, ouvir o Enf. Luís Batalha (hoje, professor na EsenfC - Coimbra; tese de doutoramento "Dor em pediatria: a sensibilização dos profissionais de saúde como contributo na melhoria dos cuidados") dissertar acerca da "dor" - ele era conhecimento científico exímio, ele era intervenção psicossocial, ele era perspectiva holística do ser humano.... enfim, bons profissionais são de referir. Já que se fala de Coimbra, não podia deixar de referir o Enf. Jorge Paulo Leitão (hoje, Enf-Director do CHC), pelo domínio assombroso da cardiologia/emergência e do ser humano multi-dimensional...
E como estes, poderia fazer uma lista por esse Portugal fora...

Não mexer p.f.!


"Alguns Médicos Obstetras do Hospital de S. João estão a tentar impedir as especialistas de Enfermagem Obstétrica de "tocarem" nas parturientes" link
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Escuso de comentar. Deixo-vos a questão: onde está a Ordem dos Enfermeiros?
(é que se fosse o inverso [Enfermeiros contra Médicos], seria notícia de primeira página e abriria os telejornais durante uma semana)

quinta-feira, maio 08, 2008

A Revista Sábado diz que Médicos e Enfermeiros "roubam" o estado!

"Um relatório oficial concluiu que em dezenas de hospitais públicos, o estado paga salários a médicos e Enfermeiros à margem da lei"

O artigo até está preciso (clicar para ampliar e ler), só tem uma incorrecção gigantesca: ter associado o nome dos Enfermeiros a estas fraudes. A classe de Enfermagem não promove este tipo de "esquemas" (a natureza do trabalho dos Enfermeiros não o permite). O Ministério da Saúde sabe que não. Aliás, como sabem, os Enfermeiros auferem vencimentos ridiculamente baixos.
Relativamente ao restante, penso que, na generalidade, todos reconhecemos como verdadeiro o que vem lá escrito.
Será que alguma organização de Enfermagem vai desmentir estas acusações infundadas? A ver vamos...
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A respeito de outro assunto, o Diário de Notícias refere que "não há solução para impedir a fuga de médicos para o privado". Acrescenta que "há médicos recém-formados que estar a ir directamente para o sector privado, sem pousar no público".
Em primeiro lugar, o SNS não é uma montra para o privado. Em segundo, a falta de médicos já é repugnante. Tudo no sector da saúde esbarra na constante falta de médicos: das duas uma, ou formam licenciados em medicina com fartura para que nunca mais se ouça falar nesse assunto, ou então que se faça um upgrade às funções e competências dos Enfermeiros, de modo a que se descentralize o poder médico. Assim, a saúde avançará com ou sem médicos, à semelhança de muitos outros países.

quarta-feira, maio 07, 2008

O "recado"...

Um colega (identificado) enviou este e-mail em resposta a um dos últimos posts publicados. Quando eu pensava que já tinha visto (quase) tudo, há sempre alguma coisa que escapa.

"De: xxxx_xxxxx_xx@gmail.com)
Enviada: terça-feira, 6 de Maio de 2008 23:18:54
Para:
doutorenfermeiro@hotmail.com

Doutorenfermeiro,
sou um colega e leitor do seu blog há já algum tempo. (...) Motivado por um dos seus últimos posts tomei a liberdade de tirar esta foto que está à porta de uma entidade de saúde privada da cidade (há mais de 2 semanas) e enviá-la, pois sei que tem a frontalidade de a publicar (desculpe a qualidade, mas foi com telemóvel). (...) Quando os enfermeiros não são barrados à porta das instituições por porteiros, seguranças ou empregadas das limpezas, são estes os recados com que nos presenteiam.
(...) A humilhação é demasiado grande. Apesar de tudo vejo que só se preocupam em formar mais, já nem tenho paciência para ouvir os chavões esquizofrénicos da ordem a anunciar falta de enfermeiros em Portugal.
Os enfermeiros entraram numa curva descendente onde a dignidade profissional se perdeu. (...) Basta observar os salários que são tão magros (...) que nos retiram qualquer esperança de uma imagem social positiva.
Disse que uma amiga sua tinha "vergonha em ser enfermeira", não fiquei surpreendido, também começo a ter.
Atenciosamente."

terça-feira, maio 06, 2008

O "peixinho vermelho" do Hospital dos Lusíadas....


"O Hospital dos Lusíadas, do grupo Caixa Geral de Depósitos, abre a 19 de Maio em Lisboa com 220 médicos e 94 enfermeiros (...)".

Atenção colegas, os relatórios da OCDE avisaram e anteciparam esta tendência (aumento da razão Médico/Enfermeiro):

> "Interestingly, more countries reported declining nurse/doctor ratios than reported increasing nurse/doctor ratios (...)";

> "A possible explanation is that advances in medical technology and rising activity rates continued to drive the demand for doctors and part of the demand for nurses upwards, whereas at the same time they reduced another part of the demand for nurses, because less invasive surgery and better drugs and anaesthetics raised day surgery rates, reduced hospital length of stay, reduced hospital beds (...)".

Ao invés de formar mais, porque não gerir os recursos já existentes?

segunda-feira, maio 05, 2008

A Enfermagem (mesmo) perto de si!


Realmente a Enfermagem está cada vez mais perto do cidadão. De uma forma que poucos podem imaginar. Está por todo o lado. Se o vizinho da esquerda é Enfermeiro, a esposa do vizinho da direita é Enfermeira. O cunhado do vizinho da frente estuda Enfermagem e a nora da vizinha do fundo da rua também é Enfermeira. Nos apartamentos a Enfermagem está ainda mais "perto": a filha do fulano do 3º Esq. é Enfermeira, o casais que moram no 5º Dto e no 6º Esq. são Enfermeiros, e a esposa do porteiro, que era escriturária, foi estudar Enfermagem naquela privada onde todos entram se assinarem "aquele" cheque. Com boas notas ou não. O que interessa é facturar e produzir!

No Hospital, então, a Enfermagem está ao rubro! Além de todos os Enfermeiros que labutam na instituição, metade das auxiliares têm filhos a estudar ou a exercer Enfermagem na caixa do hipermercado mais próximo! Um terço das administrativas têm familiares Enfermeiros e entre os a classe médica os parantes Enfermeiros também abundam - são sobrinhos, afilhados, filhos, genros, noras, etc, etc...

Até os utentes têm netos Enfermeiros, filhas Enfermeiras, outros "moram ao lado" de dois ou três Enfermeiros. Todos os que necessitam de recorrer a um Serviço de Urgência, fazem-no na companhia de um Enfermeiro ou aluno de Enfermagem - seja namorada(o), amiga(o), vizinho(a), ou um simples conhecido que esteja relacionado com a Enfermagem (o que não é difícil!)...

Até o mercado das "cunhas" saturou... todos têm um Enfermeiro a quem desejam meter uma "cunha"...

Poderia falar-vos sobre as consequências da banalização da profissão, mas acho que não vale a pena. Todos vós já compreenderam. Menos alguns sindicatos ou quase todos os membros da Ordem dos Enfermeiros. A tutela, essa, só está atenta aos problemas dos médicos. Isso é que interessa. Os Enfermeiros, pobres coitados, já trabalham de borla se for necessário, não levantam poeira nem dão chatices. Aos médicos é que é importante dar um bom salário, pois até estão todos a debandar para o sector privado deixando o público "despido"...

A propósito, no dia 9 de Maio, no Instituto Politécnico de Viana do Castelo, estarão os Bastonários das Ordens dos Enfermeiros e Médicos para uma tertúlia alusiva ao tema "Como Será o Hospital de Futuro?". Confesso que tenho alguma curiosidade no discurso do Dr. Pedro Nunes. Já o da nossa bastonária, será pautado pelo habitual débito de palavreado vago e nebuloso, subjectivo e pouco específico, e sempre suportado na mensagem habitual: "faltam Enfermeiros"..., ou seja, sem novidades, desinteressante e pouco inovador, debatendo-se por ideais do século passado, sem ambição...
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Num destes dias conversava com uma amiga, ex-Enfermeira-Directora de um Hospital Distrital durante um mandato (a política encarregou-se de a substituir), que me confessou: "cada currículo [de Enfermeiros] que chegava ao meu gabinete era como um prego que me espetavam no coração. Até as secretárias proferiam piadas sorrateiras acerca da quantidade exagerada de currículos".
E por motivos conjunturais diversos, ao longo da conversa, acrescentou várias vezes: "comecei a ter vergonha em ser Enfermeira"...
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P.S. - Os colegas do blog "Só a Enfermagem nos Move!" lançaram um pedido público para a explicação deste fenómeno!

sábado, maio 03, 2008

Entrevista ao "Doutor Enfermeiro"!


O site Forum Enfermagem teve a amabilidade de me convidar para uma entrevista. Uma partilha informal de opiniões e concepções em torno da Enfermagem que pode ser lida na íntegra aqui (ou pode ler em baixo).
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"Nesta edição especial não podíamos esquecer alguém que já se constitui um exemplo do opinion-maker não institucionalizado, suportado no anonimato. Falamos do autor do blog doutorenfermeiro".
in Forum Enfermagem



Qual a razão porque criou o seu blog?

É uma questão de evolução natural. Penso que os Enfermeiros devem sempre recorrer às melhores estratégias para a difusão de informação e partilha de experiências. A Internet é, sem dúvida, um óptimo canal. Fundamentalmente, foi a vontade de unir a classe e dirigir a sua atenção para tudo o que a rodeia (problemas, notícias, interesses, projectos, questões formativas, etc…), fomentou a necessidade em desenvolver um blog.

O que há algum tempo atrás, demorava semanas a ser espargido por toda a classe, hoje pode ser conseguido em tempo real, com as respectivas vantagens que daí advêm.
Hoje existem muitos blogs (é congratulante!), o que traduz a adaptação da classe às novas estratégias/dimensões tecnológicas.

Considera o mistério sobre a sua identidade, um factor importante no sucesso do blog?

A questão de identidade não se colocou inicialmente. O decorrer do tempo despoletou alguma curiosidade. Alguns colegas/leitores/comentadores começaram a questionar a minha identidade nos respectivos comentários. Outros, através de e-mails.
A questão do anonimato serve apenas para manter a equanimidade. Não passa pela falta de audácia em opinar publicamente sobre determinado assunto. Quem me conhece pessoalmente, sabe que a posição que defendo no blog é igual à que demonstro perante qualquer pessoa/instituição sem medos ou receios.


O que exige manter este blog actualizado e moderado diariamente? Que desafios encontra no dia-a-dia desta gestão?

Exige um grande esforço pessoal. Apesar de parecer um “projecto” pequeno e banal, faz-me despender muito do pouco tempo que disponho. Por vezes, sacrifico outros aspectos da minha vida para o efeito.

A necessidade em escrever posts com informações correctas (o que pressupõe pesquisas) torna a escrita de alguns artigos morosa. Outros - baseados na imprensa - são mais fáceis de conceber pois, diariamente, percorro vários jornais e revistas. Outros ainda, são fruto do desenvolvimento de algumas dicas que certos colegas me enviam por e-mail.

O acesso a determinadas informações segue, muitas vezes, o mesmo processo (dicas identificadas ou anónimas). Alguns posts, por absurdo que pareça, consomem vários dias na sua concepção, porque as informações em causa, mesmo que informalmente, são difíceis de obter (como por ex., o conteúdo de reuniões institucionais) ou porque a informação é excessiva e necessita de ser filtrada.

O que destaca mais no seu blog? Possui outros espaços cibernéticos que deseja partilhar?

Nada em particular, é um espaço que vale, modestamente, pelo seu todo. A tentativa em actualizá-lo diariamente é o que, talvez, mais destaque.

O que nos pode dizer quanto a estatísticas do site?

Não é algo que me preocupe em especial, embora seja gratificante constatar que o espaço é partilhado com cada vez mais Enfermeiros e outros leitores. Neste momento as visitas rondam as 145 mil, com uma média diária de 600-800 visitas. Em momentos de maior polémica, esta média poderá ser alvo de um incremento (certos artigos tiveram mais de 200 comentários!) e atingir mil visitas/dia. Tem um total de mais de 500 posts, muitos milhares de comentários e e-mails.

O aumento de visitas denota que a informação se dissemina cada vez mais, o que me deixa naturalmente satisfeito do ponto de vista pessoal e profissional.

No seu entender, que perspectivas positivas/negativas podemos ter face à resolução da nossa carreira?

Gostava de traçar uma perspectiva optimista, mas tendo em conta a actual conjuntura sócio-política e profissional, penso que poderemos encontrar algumas barreiras às nossas pretensões. Existe várias indefinições a esse nível, mas espero que haja sensibilidade por parte da tutela para pôr cobro às injustiças de que os Enfermeiros padecem. Julgo que a classe se deve unir em torno deste objectivo.

Por outro lado o excedente de profissionais de Enfermagem (e que daqui a alguns anos ainda será um problema maior), a desvalorização e banalização do nosso trabalho dificulta a negociação da mesma, especialmente no sector privado.

É imperativo que a par de uma nova carreira profissional, se imponha uma reestruturação de competências profissionais. O modo mais sensato de dinamização do sistema de saúde, implica a descentralização das competências médicas e redistribuí-las por outros profissionais. A elevada dependência em algumas vertentes, é um entrave ao desenvolvimento da nossa autonomia. Neste momento corremos o risco de ver a nossa profissão massacrada por intromissões de outros profissionais na nossa esfera profissional. Ao contrário de outras classes, a Enfermagem está a encontrar dificuldades na sua adaptação ao séc. XXI.

Temos de encarar a suposta nova carreira como um agregado de pressupostos que dependem de si mutuamente. Vejamos: o reconhecimento social adequado está intimamente relacionado com o incremento de responsabilidade e exigência profissional, que por seu lado implica uma formação mais rigorosa, que por sua vez é inerente a um salário compatível com a respectiva função, etc… Ou seja, para que a progressão seja sustentada terá que ser impulsionada nos vários níveis e dimensões profissionais. A progressão suportada apenas por um factor, não é seguramente a melhor solução.

Um exemplo prático: como podem os Enfermeiros encetar uma luta contra a dor, quando nem um simples Paracetamol (que é de venda livre (MNSRM)!), legalmente, é possível administrar sem prescrição médica? Conscientemente sabemos que as terapêuticas não farmacológicas têm uma eficácia e interesse relativo, daí que era natural a possibilidade de prescrever de certos fármacos. Não é uma questão de tomar o lugar do médico. É uma questão de aplicar as terapêuticas farmacológicas aos diagnósticos de Enfermagem. E neste exemplo concreto, se os Enfermeiros pretendem, realmente, investir nesta área, não é possível fazê-lo dependendo da vontade médica. E este exemplo é generalizável para todo o espectro de exercício dos Enfermeiros. A convenção de que só os médicos podem e devem prescrever tem de acabar em Portugal, tal como já acabou em muitos países.

Como interpreta a actual desunião que se sente na nossa classe? Que soluções?

Diria antes uma desorientação. No entanto, efectivamente, na nossa classe a unanimidade não é frequente. Mesmo quando se trata de assuntos aparentemente com pouca margem de discordância, existem sempre opiniões contestatárias. Se eu lhe disse que existem Enfermeiros que afiançam que os nossos salários já são demasiadamente elevados, ficaria admirado. Mas existem. E pensamos nós que este era um tema que primava pela consonância! Felizmente, neste caso concreto, as opiniões divergentes são raras.

Correntemente, a classe de Enfermagem está a ser assolada por uma multiplicidade de problemas que a constringem. Como estas “dificuldades” têm uma etiologia multifactorial, emergem opiniões distintas que tentam aclarar e resolver as diversas contrariedades. Para juntar a isto, existe também a heterogeneidade da classe (como por exemplo a nível formativo, profissional e concepcional), o que leva os colegas a perspectivarem a realidade de formas diferentes. Consequentemente, as soluções propostas também são diferentes.

A solução mais coerente é objectivar as concepções inerentes à profissão. Um exemplo prático: para mim parece lógico que os Enfermeiros possam realizar, legalmente, suturas simples. Para si pode não ser assim tão lógico. Agora diga-me, se nem no problema estamos de acordo, como podemos estar em relação à solução?

Se calhar até devíamos começar a falar em “acto de Enfermagem”. O “REPE” foi um avanço extraordinário, mas assenta numa matriz que começa a não dar resposta às necessidades.

Qual a sua opinião sobre o Modelo de Desenvolvimento Profissional (MDP)?

Julgo que se revelará um bom instrumento para o desenvolvimento profissional se forem resolvidos alguns problemas que o ameaçam. Desde logo, parece-me conveniente que as vagas de um presumível futuro internato de Enfermagem, sejam compatíveis com as vagas que o ensino superior reserva para o curso de Enfermagem. E se um dos objectivos do MDP é refrear o fluxo formativo de Enfermeiros através da limitação de vagas de acesso ao internato, a curto prazo constataríamos que esta solução seria outro problema. O que fazer aos milhares de licenciados em Enfermagem que não teriam lugar no respectivo? À semelhança da formação médica, o internato não deveria deixar profissionais de “fora”.

Ao invés, as vagas devem ser limitadas (e muito!) ao nível do acesso ao curso de Enfermagem, o que pressupõe a necessária negociação com a tutela. Há quem arrisque números e afirme que o internato deveria suportar apenas cerca de 1000-1500 vagas por ano (se quisermos ter uma formação com elevados padrões de qualidade e rigor).
Eu ia mais longe: julgo que esse número deveria ser coincidente com o número de vagas do ensino superior para a área de Enfermagem. Isto para deixarmos de brincar aos “cursinhos” de Enfermagem!

Deixo apenas uma nota final relacionada com um receio que me preocupa: espero que o MDP não se torne numa fonte de rendimentos baseados nos emolumentos inerentes às certificações e reconhecimentos formativos!

A Ordem dos Enfermeiros (OE) comemora os seus 10 anos. Que balanço faz?

Apesar do que frequentemente escrevo no blog, sou plenamente a favor das Ordens Profissionais. São uma mais-valia na regulação profissional. No entanto, a nossa “actual” Ordem pouco ou nada tem feito por essa regulação. Temos experimentado tudo: desde do desemprego (apesar desta ser uma atribuição da tutela, nos últimos anos não temos constatado qualquer tipo de medida para contestar e reverter este processo por parte da OE) traduzido por uma má regulação da oferta académica, às discrepâncias das exigências formativas, aos “campos de estágio” sem critérios pedagógicos, à usurpação de funções por parte de outras classes profissionais, à incapacidade de uniformizar planos de estudos e fazer cumprir posições públicas.

Por outro lado, temos uma Ordem que se resguarda em demasia de certos temas. Sabemos que certas questões, nomeadamente as relacionadas com o âmbito laboral, são do foro sindical, não fazendo parte das suas atribuições. No entanto, com frequência, a OE radicaliza esta questão, demarcando-se a todo o custo de certos assuntos que envolvem os sindicatos. Existem Ordens que acompanham os respectivos sindicatos na defesa da profissão ou mesmo na negociação de carreiras, embora seja compreensível que ambos intervenham dentro das suas competências. A maior parte dos problemas são multi-dimensionais, e existe “espaço” para todos intervirem.

Quais as suas expectativas relativas ao futuro da profissão?

Se seguirmos o actual “trilho”, poucas. Necessitamos de nos modernizar, de desenvolver instrumentos de intervenção profissional que permitam expandir a nossa autonomia. Urge melhorar a nossa formação, ajustando-a às necessidades. É imperativo reajustarmos a nossa esfera de competências. Hoje em dia, ainda somos ridiculamente dependentes nas mais variadas vertentes de actuação, tendo em conta o nosso nível formativo. É uma questão evolutiva. Pode aplicar aqui a Teoria de Darwin.

(Olhe um exemplo: o pré-hospitalar. Em Portugal, a emergência pré-hospitalar está demasiado centrada nos médicos. Os Enfermeiros, que muitas vezes nesta área, dão formação teórica e prática aos clínicos, no terreno estão paradoxalmente limitados! Se os Enfermeiros sabem, formam e têm o know-how necessário, porque é que não podem aplicar, legalmente e de forma independente, a sua experiência?)

Por outro lado, o desemprego fragiliza muito a classe. E para que as expectativas de futuro sejam boas, temos de resolver a “mãe de todos os males”. Depois temos aquela velha máxima: unidos, e sendo a maior classe profissional do sector da saúde, os Enfermeiros têm todas as possibilidades de fazer reconhecer o seu mérito.


Entrevista por Enf. Pedro Miguel Machado
(Roten_Boy)

quinta-feira, maio 01, 2008

Enfermeiros envolvidos em erro médico mediático!


O Cedars-Sinai Medical Center, um dos melhores hospitais dos EUA, está a lançar neste momento uma campanha gigantesca para atrair Enfermeiros para os seus quadros.

O actor norte-americano Dennis Quaid, de 53 anos, e a esposa, Kimberly Buffington, de 35 anos estão envolvidos num dos erros médicos mais mediáticos dos EUA.


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Os gémeos recém-nascidos do casal estiveram internados em estado grave, "depois de terem sido medicados, por erro de dois enfermeiros, com uma overdose de um agente anticoagulante, Heparina, que lhes foi ministrado numa dose mil vezes superior à prescrita".

"O estado da Califórnia condenou o Cedars-Sinai Medical Center a pagar cerca de 16 mil euros a Dennis e Kimberly. Depois de investigado o caso, o hospital foi considerado culpado por ter administrado uma dose excessiva de medicamentos nos gémeos recém-nascidos".

"Dennis Quaid terá decidido processar a empresa farmacêutica para evitar eventuais futuros erros na administração do medicamento. Ainda segundo o advogado do casal, “a Baxter está a agir de forma negligente por que um frasco de 10 miligramas é exactamente igual ao frasco de 10 mil miligramas”. Três crianças em Indiana morreram recentemente vítimas do mesmo erro".
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Podem ver aqui a entrevista que Dennis Quaid e a esposa deram à CBS, onde afirmam que apesar toda a gente ter a percepção que "Médicos e Enfermeiros sabem o que fazem", erros acontecem e devem ser evitados.
O casal lançou uma das maiores "campanhas anti-erro médico" de sempre nos EUA!

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Novo grupo para reflexão de Enfermagem (a promessa é: o que quer que ali se escreva, chegará a "quem de direito")! 

Para que a opinião de cada um tenha uma consequência positiva! Contribuição efectiva!