sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Alarmante! - Parte II

"Escravatura em Enfermagem
Caros colegas:
Transcrevo, primeiramente, 5 frases que redigi no tópico «À Procura de Emprego» e que me levam a dissertar sobre este novo tema.
Sabemos todos que há colegas a realizar estágios profissionais não remunerados. Respeito a decisão de cada um, todavia, é preferível (e louvável) fazer voluntariado em prol de organizações sem fins lucrativos, do que ser escravo desses exploradores. Durante séculos da nossa história, fomos um povo esclavagista. Hoje em dia, deixamo-nos escravizar! É por haver sempre alguém que se deixa escravizar, que nunca mais deixaremos de ser escravizados.
Agora, convido-vos a ler a um excerto, que retirei de um artigo sobre Capitalismo no
http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitalismo (apenas alterei o português brasileiro):
Capitalismo actual
Grandes empresas do mundo passaram a oferecer fortes benefícios aos seus empregados, antecipando a acção de sindicatos e governos.
Benefícios tais como: redução do horário de trabalho, participação nos lucros, ganhos por produtividade, salários acima da média do mercado, promoção à inovação, horário de trabalho flexível, flexibilização de horários para mulheres com filhos, participação societária para produtos inovadores desenvolvidos com sucesso, entre outros.
Ao contrário do princípio do capitalismo, quando se acreditava que a redução de custos com recursos humanos e sua consequente exploração, traria o maior lucro possível, passou a vigorar a tese de que seria desejável atrair os melhores profissionais do mercado e mantê-los tão motivados quanto possível e isto tornaria a empresa mais lucrativa.
Julgo ser consensual que esta noção tão positiva do capitalismo actual não é aquela que nós, infelizmente, vemos no nosso País. Evidentemente, estou a reportar-me, unicamente, ao mundo empresarial da Saúde.
Antes de mais, essa designação de «estágio profissional não remunerado» não passa de uma perífrase eufémica para a palavra ESCRAVATURA. Porém, esta reveste-se de outra forma. Por um lado, temos a escravidão, entendida como prática social em que um
ser humano tem direitos de propriedade sobre outro, designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força (http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravatura). Por outro, hoje em dia, assiste-se paralelamente à AUTO-ESCRAVIDÃO, aquela em que a condição de escravo é imposta por ele mesmo.
Tanto quanto sei e reproduzindo o que está patente na apresentação do curso de enfermagem da Universidade de Aveiro (http://www.ua.pt/PageCourse.aspx?id=26&b=0), «O curso tem uma forte componente profissionalizante, incluindo logo desde o seu início a prática profissional em vários organismos de saúde (hospitais, centros de saúde, clínicas públicas e privadas)...».
Reforço, é um curso com uma forte componente profissionalizante e, por conseguinte, já vos habilita para o exercício da profissão de enfermeiro/a. Como vos habilita para exercerem uma profissão, e não um «estágio», isso implica o pagamento de um salário pela entidade patronal. Salário este que, em Portugal, tem como valor mínimo, a quantia de 403€ (ano de 2007). Todavia, está fixado um salário, correspondente a cada nível da nossa PROFISSÃO.

Além disso, a manter-se a vontade de alguns recém-licenciados realizarem este tipo de estágio, creio ser pertinente propor à Ordem dos Enfermeiros a emissão de cédulas de «estagiários (não remunerados)», além das cédulas profissionais. Ou, então, criar-se-ia a Ordem dos Enfermeiros Estagiários Não Remunerados. Deste modo, empregadores e utentes do Serviço Nacional de Saúde distinguiriam:
· O estagiário – o estudante a realizar o curso profissionalizante;
· O enfermeiro estagiário não remunerado – aquele que se deixa escravizar;
· O enfermeiro – o profissional.

O capitalismo moderno nasceu com a Revolução Industrial, em Inglaterra, no séc. XVIII. É, exactamente, a esse século que remontam as mentes dos nossos governantes e dos empresários da Saúde.
Que Portugal é um país atrasado (repito que só me reporto à Saúde), toda a gente sabe. O que talvez não sabemos, é que estamos atrasados (mais coisa, menos coisa) 300 anos! Isto, porque o sistema capitalista, que rege a nossa Saúde é o mais antiquado, é aquele que acredita que a redução dos custos em recursos humanos e sua consequente exploração, trarão o maior lucro possível.
Para todos aqueles enfermeiros estagiários não remunerados, desejo sinceramente que consigam obter emprego nos locais onde se encontram, a fim de poderem exercer a profissão, para a qual tiraram uma licenciatura com forte componente profissionalizante e, logo, receberem um salário.
Todavia, e pondo-me no lugar de patrão, faria o seguinte raciocínio: «Já que estes agora oferecem-se para trabalhar de borla, vou ficar com eles uns meses e, quando vierem os novatos, também a oferecerem-se gratuitamente, ponho a andar os outros».
Não caiam na ingenuidade de acreditar que terão emprego! E alguém vos garante que, mesmo conseguindo o emprego, vão ter as condições que pretendem? Não fiquem à espera que o sol só vos sorria daqui a uns 10 anos (isto, se ele, nessa altura, não continuar de mau humor). NÓS TEMOS VALOR E TEMOS DE LUTAR, NO MÍNIMO, PELA PRESERVAÇÃO DOS NOSSOS DIREITOS MAIS FUNDAMENTAIS.
Findo isto, volto a apelar:
· trabalho voluntário de enfermagem SIM, mas em organizações sem fins lucrativos;
· a inscrição no Centro de Emprego é crucial. Só assim daremos a conhecer ao Governo e à sociedade que somos milhares no desemprego. Não é vergonhoso dizer que estamos desempregados. É vergonhoso dizer que somos auto-escravos.
Já não basta haver enfermeiros que delegam intervenções técnicas nos auxiliares de acção médica, dando motivos, àqueles que nos querem erradicar, para o fazer, e ainda temos colegas a auto-escravizarem-se?!
Como podemos ser tão burros, ao ponto de cavarmos a nossa própria cova?!
Laura Santos
"

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