segunda-feira, julho 09, 2007

"Travessia no Deserto": IMPOSSÍVEL CONTINUAR ASSIM!!

Enf. João Gouveia

A formação e a profissão de Enfermagem merecem medidas urgentes para manter o equilíbrio que nos caracterizava até há poucos anos. Deixo-vos com um excelente artigo do Enf. João C. F. Gouveia, director da Revista Nursing, o qual relfecte o mal-estar que vive a profissão. Quais as razões?
Ando a apregoá-las há mais de 6 anos, quando o movimento boom das escolas de enfermagem começou a tomar forma.
Todos temos de tomar medidas urgentes, exigi-las perante as entidades competentes, e a melhor forma de chegar até estas é através da Ordem dos Enfermeiros.
Este alerta do Enf. J. Gouveia, é um dos melhores e mais realistas artigos que li nos últimos tempos:


"Tenho tido conhecimento de alguns relatos de situações de recém-licenciados que, muitos meses após o términus do seu curso, continuam sem emprego ou então embarcam em situações, a meu ver, menos dignas como sejam trabalhar gratuitamente em instituições públicas ou privadas, a troco “de um estágio ou actualização de conhecimentos”. A serem verdade estas situações, e eu acredito que sejam, este facto é grave e pouco dignificante para a profissão de Enfermagem. De facto, parece-me que começamos a viver um problema para o qual pouca gente estava desperta a alguns anos, e quase ninguém ligou a alguns alertas lançados de se vir a verificar um excesso de oferta no mercado de trabalho de Enfermagem. De acordo com a Ordem dos Enfermeiros, existe carência de vários milhares de enfermeiros nos vários tipos de cuidados de saúde em Portugal. Todavia, essa não parece ser a visão de quem efectivamente emprega enfermeiros, neste caso Estado e Instituições Privadas. Assim, temos uma visão idealista e outra real, mais amarga. Torna-se necessário chegar a um equilíbrio entre ambas, para que não se defraude expectativas nos profissionais de saúde e população receptora de cuidados. Não será uma dicotomia muito grave e difícil de explicar existirem locais (extensões de saúde) encerrados por falta de enfermeiros ou serviços de saúde que não abrem pelas mesmas razões, e depois verifica-se que existem em tão grande número no mercado de trabalho? Talvez seja altura de se avaliar ou reavaliar a necessidade de tão elevado número de Escolas de Enfermagem, pois de nada serve formar por formar. Aliás, a ideia pré-concebida de que formar-se em Enfermagem é garante de emprego é uma falsa ideia, geradora de falsas expectativas e que irá levar a curto/médio prazo a uma clivagem grande entre os profissionais já empregues e aqueles a quem lhes foi “prometido” um maná. Torna-se necessário começar a pensar a formação em Enfermagem numa perspectiva não de números, mas sim de qualidade. Existem em Portugal mais de 50 Escolas de Enfermagem (entre públicas e privadas), terá o nosso País capacidade e necessidade de tanto? Comparativamente, temos 4 Faculdades de Medicina, o que me parece francamente desequilibrado. Em resultado deste desequilíbrio, não se houve falar em desemprego entre a classe médica, pois não? Nunca fui a favor de “numerus clausus”, mas é necessária uma solução rápida. Assim, urge que quem de direito coloque ordem nesta desordem que nos lesa a todos, mas mais que tudo à própria profissão, pois situações como as descritas no início deste texto são alvo que apenas posso apelidar de “escravatura branca” (por causa da cor das nossas fardas”), que não podem ser toleradas. A lei de mercado deve funcionar, neste momento temos mais oferta que procura, mas tal não deve abrir as portas do exagero e do ultrapassar de determinados limites que podem determinar, de forma definitiva, o olhar e o percurso dos enfermeiros recém-licenciados. A recente aprovação dos Estatutos da Ordem dos Enfermeiros poderá abrir caminho para que estas situações acabem e não se repitam, todavia o debate não deve esperar pelo normal desenvolvimento dos trâmites (sempre demorados) da alteração aprovada, mas deve começar já. As alterações necessárias devem começar por baixo, e neste caso, pelas Instituições Formadoras, é altura de decidirmos o que queremos de futuro, se uma profissão respeitada, aceite socialmente e geradora de paz social, ou se pelo contrário desejamos tempos de conflito, insatisfação pessoal e profissional dos enfermeiros recém-licenciados e um futuro incerto como profissão "



Fonte: Revista Nursing

Comments:
Saudações
Caro colega doutorenfermeiro, um bem haja por ter colocado aqui este comentário do colega João Gouveia (revista Nursing portuguesa - edição de Junho de 2007: "Determinantes Psico-Sociais da Depressão no Idoso). Vem de encontro ao que frequentemente é aqui abordado: DESEMPREGO EM ENFERMAGEM.
NUNCA é demais relembrar.
 
Essa já era uma situação desde há muito denunciada: Só um reparo. Não existem 34 faculdades de medicina mas sim 7: 2 no Porto, 2 em Lisboa, 1 em Coimbra, 1 na Covilhã e 1 na Guarda (todas públicas, sendo que a OM se opõe veementemente à abertura de mais faculdades de medicina, especialmente privadas). Mesmo assim é uma grande diferença para as 50 escolas de Enfermagem. Agradeçam à Ordem dos Enfermeiros.
 
Acrescento a de braga.
 
A ordem e os sindicatos são os únicos culpados por esta situação. Temos de nos deixar de hiprocrisia e da teoria dos coitadinhos e começar a tomar atitudes: NUMEROS CLAUSUS!!! Acesso mais restrito à profissão. Existem recém-licenciados que são a vergonha da classe, para além de um notório défice de conhecimentos, vendem-se por quase nada. Por uma vez temos de admitir que os sindicatos e ordem do médicos são muito mais proteccionistas e mais eficazes. Temos que olhar, por exemplo, para os advogados, a ordem nada fez e só em Coimbra existem 600 vagas!!!
 
Não existe Faculdade de Medicina na Guarda. Existe em Braga.
E Lx (2), Porto (2), Covilhã e Coimbra.
Ou seja 7.

O numerus clausus é garante de qualidade, desde que não seja demasiado restrito, e gerador de chantagens corporativistas.

É portanto uma questão de equilíbrio.
 
De facto é verdade tudo o que referiram, por isso, a bem da classe e da segurança dos utentes, há que filtrar com rigor o acesso ao curso e posteriormente à profissão.
Vejamos, como exemplo, os professores cuja passividade significou milhares e milhares de desempregados (em números redondos, 40 mil) e a precariedade que todos conhecemos.
Aos Enfermeiros acresce o seguinte facto: o excesso de profissionais significa uma descida a nívl remunerativo (todos sabemos o que se passa por aí fora!), que se aproxima vertiginosamente do salário mínimo em algumas instituições menos escrupulosas.
Há que reflectir e perguntar a nós próprios: é este o futuro que queremos?
Apesar de pessoalmente ter um vínculo estável, eu não encaro os problemas numa prespectiva pessoal, mas sim de uma forma global (a nível de toda a classe). Eu não sei trabalhar assim! Não sei trabalhar quando a nossa profissão é desvalorizada, explorada, humilhada... O mal-estar é demasiado pesado.
 
Mea Culpa: De facto não existe na Guarda mas sim em Braga. Pensei uma coisa e escrevi outra!
 
50 escolas de enfermagem, interessam a quem?
Há que colocar o dedo na ferida: o negócio da formação de Enfermagem prospera, e a OE patrocina esse mesmo negócio, pois são muitos os mercenários influentes na Enfermagem que são beneficiados com esta realidade, pois estão entrincheirados nas escolas privadas, fonte de seu sustendo e dos seus sequazes.Existem famílias inteiras a leccionar na mesma escola, desde Marido e mulher, passando pela filha, passando pelo cunhado, etc... e mais não há pois ainda não existem famílias 100% Enfermeiros (mas não tarda nada vai haver, desde o pai, passando pela filha, até ao enteado e ao cunhado).A qualidade de ensino nas privadas é verbo de encher e o que interessa é formar muito ao menor custo. O pior é que este fenómeno tem efeito de reboque e ameaça puxar aquelas que ainda têm algum grau de exigência para o mesmo caminho. Mais: a facilidade e deferência oferecida na avaliação e formação nas privadas é a principal bandeira de propaganda. Muitos alunos escolhem a escola não pelos predicados de qualidade mas pela melhor relação esforço/notas. Por isso a formação em Enfermagem tem caído no descrédito total, tornando-se mais espinhosa a renvindicação de mais competências. Por outro lado, esta sobrelotação de licenciados cerceia a nossa margem de manobra no que concerne às negociações laborais. Assim, não vamos longe!
 
ola a todos os colegas.. terminei o curso em julho de 2006 nas ESESJoão - Porto e estou desempregada..tenho muitos colegas na minha situação..O que mais me revolta é o numero excessivo de escolas de enfermagem no país, mlh ainda, o ensino facilitado do curso nas escolas privadas..Posso dizer-vos que não foi nd facil concluir o curso na minha escola, pois a exigência está ao nível de uma licenciatura.. e vejo-me confrontada com os "licenciados" das privadas passarem-me a frente.. em que país e que estamos?!! Devemos isto a OE..O que lhes interessa e formar sem exigência alguma..Lutamos pelo reconhecimento e dignidade da profissão qd não temos Orgãos competentes.. Há excesso de enfermeiros e as Instituições de Saúde não conseguem comportar o número elevado de formados por ano.. sinto-me muito triste e frustrada por não estar a exercer a profissão que escolhi para mim.. Não sei onde isto vai parar!!!! Saudações a todos!
 
Anónimo das 3:29, é uma falsa questão aquela que põe, não existem licenciados de privadas a passarem-lhe à frente, existem é escolas a mais e entre as quais as públicas que permitem 2 entradas por ano, é demasiado haver uma entrada em setembro e outra em março. É inadmissivel!!!
 
"...é demasiado haver uma entrada em setembro e outra em março..." SATELLITE:2007)
Aos pontos que chegámos...Sim senhor!
 
Existem 7 escolas publicas com entrada no 1º e 2º semestre. So o 2º semestre totaliza 320 vagas. Não se criou a entrada no 2º semestre pk havia uma grande falta de enfermeiros?Pk nao acabar com esta entrada? Alguem sabe o racio enf utente na regiao centro? É que só a escola superior de enfermagem de coimbra tem 320 vagas...E já agora o que é a geologia (B) e o que esta contribui pra enfermagem e que é prova de ingresso pra quase todas as escolas... Bem sinceramente ha coisas que eu na compreendo...
 
"...E já agora o que é a geologia (B) e o que esta contribui pra enfermagem..." (ANÓNIMO;3:45 PM)
Amigo, realmente não compreende o caríssimo nem ninguém; enfim, só mesmo as mentes brilhantes. Não é só geologia; é também filosofia. Filosofia??!!!
Ai, ai.
 
Numerus clausus, em:

http://juramentodoshipocritas.blogspot.com
 
"...Numerus clausus..." (ANÓNIMO;8:21 PM)
Já tive oportunidade de responder nesse blog.
 
Se o número de vagas fosse hoje reduzido, para metade, o problema não ficaria imediatamente resolvido, demoraria alguns anos até que a situação normalizasse. Portanto, o número de enfermeiros ainda vai aumentar mais
 
Acho importante haver um equilibrio razoavel entre a oferta e a procura (e logo deve existir numerus clausus)..mas parece-me que o desemprego que existe actualmente resulta da falta de percepção por parte da população da importancia da actividade de enfermagem... que ainda ve o enfermeiro como um tecnico que da as picas e faz pensos...acho que devem lutar pela dignificação do vosso esforço e chamar a atenção da falta de enfermeiros que existe nos diversos serviços...sou médico e tenho actualmente o previlegio de ter a tempo inteiro uma profissional brilhante com a qual divido as tarefas do nosso posto de saude...não temos colisões nas nossas actividades e a população procura-me ou a ela conforme a situação...não conseguiriamos dar resposta à imensa procura se não dividissimos as tarefas e se a população não tivesse noção de quem faz o que...O doente não vai do médico para a enfermeira ou da enfermeira para o médico... o doente entra no consultorio médico ou da enfermeira, e se eu precisso de um acto de enfermagem chamo-a e se ela precissa de um acto médico chama-me ao seu consultorio...com o tempo os doentes habituaram-se a isso e elogiam o facto das crianças não terem que se despir 2x, ou um doente de dificil mobilização ter que andar de consultorio em consultorio...mas ja estive em situação frustante de haver 2 enfermeiros para 6 médicos...o que restringia a actividade de enfermagem a pensos e injectaveis...quanto tantas outras coisas podem e devem fazer...Espero que no futuro a actuação na saude seja vista pelo desempenho em equipe e decerto que ai se vai ver que ha falta de profissionais...
 
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