quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Prurido agudo ou "tinta" a mais?


O novo curso de medicina na Universidade do Algarve foi aprovado. Tem uma duração de 4 anos e destina-se a licenciados.

Quem não gostou desta notícia foi a Ordem dos Médicos e os seus associados de uma forma geral (link 1 e link 2). Através de argumentos mirabolantes, ingénuos, cínicos, fantasiosos, hipócritas, falsamente alarmistas e preocupados, (ex. "risco de aparecerem clínicos «com nível de conhecimento e qualidade de formação inferior ao desejável"; "os riscos futuros da criação deste novo e desnecessário curso de medicina, particularmente numa época em que os constrangimentos financeiros impostos ao SNS"; "novo curso de medicina não cumpra na íntegra as exigências de qualidade "; "os critérios de selecção, a preparação de base exigida aos candidatos a este curso, a importação de um método de ensino de países com uma cultura distinta da portuguesa (...) são indicadores profundamente preocupantes"; "distorce completa e inaceitavelmente a transparência do método de selecção e a igualdade de oportunidades"), foram tentando evitar a entrada em funcionamento deste novo curso, que tem apenas 30 vagas.

No fim, lá foram admitindo: "o actual numerus clausus dos sete cursos de medicina que existem em Portugal ultrapassa já as necessidades futuras do país" - ah, aqui vemos explanada a verdadeira intenção dos protestos. Mais profissionais pode significar menores salários, deterioração do status sócio-profissional, diminuição do poder reivindicativo, etc. Muita "tinta" correu, corre e vai correr.

Analisando bem, a Ordem dos Médicos opõem-se a tudo que possa ter repercussões "negativas" nos seus membros.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Criticável? Não. Mas a Ordem dos Enfermeiros devia tomar "nota" destas posições. Vejamos:

A abertura desenfreada e anarquista de novas Escola/cursos de Enfermagem... não faz correr tanta tinta.

A existência de corpos docentes de qualidade inferior - e muito duvidosa - em Enfermagem... não faz correr tanta tinta.

A disponibilização massiva de vagas para o curso (por vezes mais do que as declaradas/autorizadas)... não faz correr tanta tinta.

A falta de qualidade de imensos cursos... não faz correr tanta tinta.

A falta de locais certificados e de qualidade demonstrada para ensinos clínicos... não faz correr tanta tinta (as Escolas deveriam estar sempre agregadas a Hospitais Universitários e Centros de Saúde seleccionados com base em critérios pedagógicos e de qualidade).

A falta de formação pedagógica e experiência profissional dos tutores/orientadores... não faz correr tanta tinta.

A exploração mercantilista (em detrimento dos padrões de qualidade) dos cursos de Enfermagem... não faz correr tanta tinta.

A falta de planos de estudo sólidos, adequados e com elevados níveis de rigor... não faz correr tanta tinta.

Nada. Para quem não sabe e devia saber, a profissão nasce nas Escolas de Enfermagem. O ensino está muito doente e ninguém quer cuidar dele. Se não resolvermos as questões que o afectam negativamente, nunca poderemos solucionar os verdadeiros problemas que afligem a Enfermagem.

Comments:
A OM só defendem o proprio tacho!

Assim como se abrisse um curso de Enfermagem de 2 ou 3 anos (para "auxiliares", "tripulantes" e "farmaceuticos" (foi uma piada ehehehehe)também não concordaria!!

cumps
 
Caramba drenfermeiro!!

Acho que não é de criticar esta tomada de posição, aliás... devia era ser valorizada uma x que estão a zelar pelos interesses da sua classe! A fazer o que lhes compete... Ainda se a ordem dos enf fizesse o msm... Isso é que era, mas lá por ela não o fazer e as outras ordens terem a inteligência de p fazer não devem ser criticadas!! Deviam era ser tomadas como exemplo!! E é por estas "minhoquices" de criticar os outros (sem razão neste caso, sejamos sinceros drenf) em x de promover a união dentro da classe é q não vamos a lado nenhum... Todos juntos a rumar p o mesmo, vamos lá enfs de Portugal... Seguir o bom exemplo ;)
Bem haja, ATP
 
A OM toma essas posições porque tem uma visão umbigocêntrica do Mundo.
O rol de disparates é vasto e vai do famigerado acto médico, à posição contra a manifestação da vontade das pessoas a não serem sujeitas a encarniçamento terapêutico, étc.

Mas temos que aceitar os factos e a importância daquela classe. Talvez não saibam, mas tudo leva a crer que o próprio Cosmos existe porque eles existem; se eles não existissem, nem Marte, nem Vénus seriam o que são...

No entanto, e apesar de toda a relevância que têm, não são um bom exemplo para nós. Para além de serem um mau exemplo, aquela visão medicocêntrica, ridícula, pelos vistos já nem sequer pega.
Podem fazer birras, podem meter medo a toda a gente, podem tudo, mas não vão impedir que comecem a aparecer mais escolas de medicina. São as leis do Mercado a funcionar. Leis que funcionarão também para outras profissões, como a nossa. Quando o excesso de enfermeiros for motivo para as pessoas deixarem de procurar este curso (e não percebo porque é que ainda há quem se inscreva em enfermagem...), as escolas terão que rever a sua oferta e o que provavelmente irá acontecer é começarem a florescer pós-graduações de tudo e de nada; mas quando toda a gente perceber que ter uma pós-graduação sobre a abordagem à unha encravada não serve rigorosamente para nada, as escolas deixarão mais uma vez de ter clientes e inventarão outra coisa qualquer. Como os mestrados já requerem outras exigências em termos de agregação a instituições universitárias e só algumas escolas terão essa possibilidade de negócio, as restantes poderão ficar com (algumas) especialidades.

Mas apesar de toda esta ambiguidade, não penso que seja proibindo as pessoas de se formarem que se regula a qualidade profissional, porque senão também não seria permitido que profissionais formados em escolas da Conchichina viessem para cá trabalhar, ou que nós fossemos aceites no estranjeiro.

E não nos esqueçamos que foi essa filosofia elitista e de restrição à formação que fez com que durante uma geração de enfermeiros apenas 20% (se tanto) tivessem tido acesso aos cursos de especialidade; hoje o que é que se vê? Enfermeiros já quase com metade da carreira feita sentados nos bancos da escola a tirar a especialidade, paga a peso de ouro e com muito sacrifício da sua vida familiar, pessoal e profissional.

O que tem que haver, na minha opinião, é:

a. um desenho curricular para todas as escolas que obedeça a requisitos da OE, susceptível de ser auditado e publicados os resultados dessa auditoria

b. requisitos de formação contínua para revalidação da cédula profissional(como fazem os ingleses)

c. forte aposta na formação em serviço, que deve ser, no meu entender, a área mais importante da formação; não sei o que é que a nova carreira trará nesta área, mas penso que aqui devíamos "bater o pé" e exigir condições para realizar formação a sério)

Para finalizar, uma forte e séria regulação à entrada na profissão é capaz de ser o melhor aviso à navegação. Tudo o resto é política e negócio.

VV
 
Eu diria que a Ordem dos Médicos opõem-se a tudo que possa ter repercussões "negativas" nos seus membros enquanto A Ordem dos Enfermeiros não se opõe a nada que possa ter repercussões "negativas" nos seus membros, ou melhor, favorece medidas que tem repercussões "negativas" nos seus membros.
 
"O ensino está muito doente e ninguém quer cuidar dele. Se não resolvermos as questões que o afectam negativamente, nunca poderemos solucionar os verdadeiros problemas que afligem a Enfermagem." Esta é sem dúvida a melhor frase que lhe "li" colega.
Saudações Internacionais
 
Sim, continuem a fazer formação e a "ensinar" desta forma, em que meia duzia enche os bolsos com as nossas disponibilidades e esses ditos professores - que não respondem pelo nome de enfermeiros, mas sim de srs. prf. do ensino superior, mas que pretendem "formar futuros enfermeiros, só dizem atuardas e que usam e abusam dos orientadores de estágios e tutores para licenciarem mais uns tantos, que depois irão pagar as pós disto e daquilo e que não servem para nada,a não ser gastar o dinheirinho dos desempregados. De doutores e incompetentes está isto cheio sendo que assim vamos longe sim senhora.
 
Sigamos os exemplos que têm provas dadas na defesa dos interesses da sua respectiva classe. Nisso a OM não deixa dúvidas! Mas a nossa ordem, que tem um temor absoluto em ser confundida com a tal "ordem elitismo" que é a dos médicos opta por se demarcar no pior sentido: o do abandono da sua classe, pois coaduna a defesa dos interesses da mesma como a promoção de uma política de elite. Assim a OE tenta ser diferente de todos, mas tanto tenta que ao invés da diferença apenas se lhe reconhece a aberração em que se tornou.
 
A Ordem dos Médicos, fez o que a Ordem dos Enfermeiros deveria ter feito!

Se bem que, o facto de a OM se demonstrar em desacordo, não é em nada impeditivo à abertura do referido curso.

Deixa-me apenas preocupado que, por exemplo que assume que um Geólogo (contemplados no acesso...) seja equiparado a um Enfermeiro, ao nível das Ciências Básicas referentes ao 1º ciclo de formação. Eles vão começar na clínica...mas quem lhes vai ensinar farmacologia, microbiologia, fisiologia, ...

O curso está desde sempre direccionado aos alunos de Ciências Biomédicas da UAlg. Que, apesar de tudo, não possuem um currículo de 1º ciclo tão mau...

E muitos dos alunos foram para CB na Ualg, com a promessa de um dia verem a sua passagem assegurada à Medicina.

Não é de estranhar pois que o número de alunos inscritos em CB seja perto de 30...como diria uma jeitosa da Rádio "Vale a pena pensar nisto..." Como explicitado em: http://www.ualg.pt/index.php?ff_name=DetCurso&option=com_facileforms&Itemid=2429&ff_frame=1&ff_param_curso=LCB

Aliás o 1º ciclo deles é basicamente o 1º ciclo do Mestrado Integrado em Medicina.
 
Caro doutor Enfermeiro
A sua análise vem de encontro ao que eu penso. É pena que os interesses de alguns se sobreponham ao bem da maioria. Mas da maneira que as coisas estão não vão mudar por muitos e longos anos.
Mudarão com o tempo, infelizmente.Como alguns referem será a sociedade o motor dessa mudança, aliás como é apanágio deste povo, conservadores e manipulados até ao tutano.
O 25 de Abril prova esta tese.

os meus respeitos
 
"A coragem alimenta as guerras, mas o medo começa-as...."

Alain
 
Também quero aqui deixar a minha opinião com relacção à má preparação que certas escolas deixam passar os alunos, é uma vergonha!
Depois quem fica com esses alunos como orientador de estágio ( sem ganhar um cêntimo mais) ainda coloca o pescoço em risco, porque não pode deixar alguns alunos 5 seg sós, que sai asneira na certa! Pois é com a saúde e com a vida que está em jogo!
E tem mais ainda, a trabalheira que se tem para chumbar um aluno destes, ninguém imagina, são relatórios sobre relatórios, são reuniões extra horas laborais, e sem receber tostão .... o dinheiro vai para a instituição hospitalar, mas se o aluno fizer borrada de quem é a responsabilidade ???
É fácil abrir escolas de enfermagem nestes moldes!
Não lhes dão bases, e nos serviços nós é que os temos de obrigar a fazer trabalhos sobre os assuntos que vemos que lhes falta as bases!

UMA VERGONHA ESTAS NOVAS ESCOLAS!
 
Caros futuros colegas de profissão,

Já ouviram falar no Modelo de Desenvolvimento Profissional?

Acho que responde a muitas das questões levantadas.

Cumprimentos,
Carlos
 
Concordo com todos os itens levantados, no serviço onde estou a prestar cuidados são muitas vezes "obrigada" a orientar a alunos, não que isso me causa algum transtorno, mas depois causa-me algum prurido constatar que os seus oreientadores escolares muitas vezes apenas são formados à dois ou tres anos, "exigindo" que transmiti-mos aos alunos muitas vezes o que eles não sabem, e penso o que podem exigir dos seus alunos.......
Actualmente estou a tirar uma especialidade e muitos dos colaboradores das escolas possuem a especialidade a 2 anos, sinto muitas vezes que os seus conhecimentos tanto na prática como na teorica são muito inferiores que os meus orientadores de campo de estagio. Na minha humilde opinião penso que a nossa formação tanto de base com posteriormente vai pela rua da amargura.
Cada vez mais os recem formados encontram-se pior preparados e cada vez mais prepotentes. penso que a metodologia seguida pelas escolas não esta em nada a dignificar a nossa classe e por sua vez a contribuir para o seu reconhecimento social.
 
de novo o negativismo reina na alma dos enfermeiros,pelo que vejo.é real que ha muita gente mal preparada,mas tambem ha muitos de grande nivel,conforme a origem da escola.
o que a meu ver existe,é um mal bem mais profundo e preocupante,que tem a ver com a qualidade do ensino secundario.nao é um problemas de enfermeiros,é um problema da sociedade e do ensino.
é assustador os alunos que me chegam ás maos,do 4 ano e que mal sabem redigir um texto,mal sabem exprimir-se em publico,mal sabem escrever um diario de enfermagem em portugues básico.ora isto é de facto preocupante,mas volto a dizer,nao é um problema exclusivo dos enfermeiros.
relativamente á OM,pois bem srs. enfermeiros,aprendam com quem tem mais experiencia nestas matérias,por muito que isso custe.
podem chamá-los do que quiserem,mas a sua experiencia mostra que têm os olhos bem abertos e que nao se deixam intimidar por politicas ilusórias "em nome do interesse dos doentes".
no final de contas,os enfermeiros fazem muito ruido mas nao vao directos ao assunto e sao desunidos.o desemprego está aí,mas nao é para os médicos pois nao?porque será?.....
 
Oi srs enfermeiros. Concordo com tudo o que tem sido dito neste blog, apesar de apoiar muitas decisoes da Ordem dos M. Considero fundamental a UNIAO entre os enfermeiros portuguese. Chega de greves para os enf ficarem sentados em casa a ver tv. Parece-me urgente um movimento maior dos enfermeiros portugueses. Quando fizerem greve nao se esqueçam de se manifestar no marques de pombal, de virem de tras os montes, do algarve, do porto e de castelo branco e de se manifestarem. Assim como aplaudo algumas coisas na OM também apoio a fenprof e os profssores que, depois de tantas MANIFESTAÇOES ja começaram a cnseguir algumas coisas. Com os enferemeiros a situaçao e muito diferente. Fazem greves mas nao se manifstam. Assim nunca vai dar. Para o Estado, óptimo. As greves significam uns dinheiros a menos que saiem do bolso deles. A enfermagem é uma profissao essencial com uma hostoria e com uma imagem que tem de ser defendida, e quem melhor que os próprios enfermeiros para a defenderem? Tou no 11º ano do curso de ciencias e quero seguir enferemagem, apesar de tudo é isso que quero seguir, apenas por amor a profissao. ao longo de muitos anos, desde que me lembro que existo, na minha familia a enfermagem e um tema muito debatido, uma vez que nos segue desde o tempo dos meus avós, passando para o meu pai, mae, madrasta e alguns tios. Por favor nao se esqueçam, uniao acima de tudo, enfernmeiros portugueses.
 
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