segunda-feira, agosto 17, 2009

Mentir é feio!


Acordei bem disposto e vou dormir irritadíssimo. Estraga-me o dia quem me fala em rácios descontextualizados e falsos!

"Em Portugal há 5,1 enfermeiros por cada mil habitantes, mas o número está bem abaixo da média da OCDE (9,6)" Link Jornal Correio da Manhã

A Ordem dos Enfermeiros, para ser coerente, devia explicar aos Enfermeiros (e às escolas de Enfermagem que utilizam este argumento para a disponibilização de mais vagas e formação de mais alunos!) a falácia monumental que está implícita nestes rácios da OCDE! Não o faz? Faço-o eu no pleno uso da verdade:

1. O rácios que a OCDE apresenta estão sobrestimados, pois incluem na sua contabilização Auxiliares de Enfermagem (existentes em quase todos os países englobados no relatório, excepto Portugal!);

2. Por comparem realidades/contextos diferentes (tipos de profissionais diferentes, funções diferentes, formações diferentes), estes rácios não são extrapoláveis para Portugal!

3. Quanto mais elevado é o rácio, regra geral, mais indiferenciada é a profissão (Enfermagem) no respectivo país, menos conotada é entre a população, menos respeitada no âmbito político, menor é o seu status social e menores são os respectivos direitos e os salários;

4. Para que o relatório fosse, grosso modo, enquadrado nas mesmas circunstâncias, Portugal teria de englobar na contabilização os Auxiliares de Acção Médica;

5. Os elevados rácio apresentados pela OCDE (9,6) é devido, em grande parte, a uma quantidade crescente de Enfermeiros desempregados e ao flagelo do subemprego. Rácio não implica emprego;

6. A questão da apresentação dos rácios de Enfermagem como indicador de qualidade de determinado Sistema de Saúde, remete-nos para fraudes estatísticas: a Noruega, por exemplo, em apenas um ano duplicou o seu rácio (para 31 Enf/mil habitantes!!!), através de estratagemas contabilísticos e pela contabilização de todo o tipo de profissionais que tem contacto directo ou indirecto com a prática de Enfermagem - isto demonstra que muitos países iludem por motivos políticos (desejam apresentar bons indicadores);

7. Os rácios da OCDE reflectem "quantidade" e estão muito longe de reflectir "qualidade formativa". O indicador "quantidade" não tem relação directa com bons Cuidados de Enfermagem nem com a dinâmica profissional. O indicador "qualidade formativa", por sua vez, tem uma relação estreita, directa e forte!
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8. Segundo relatórios da OCDE, o rácio Enfermeiro:Médico está a dimuir e continuará diminuir no futuro (por razões bem definidas e apresentadas pelos mesmos relatórios - a major prende-se, na base, com a maior qualificação académica dos Enfermeiros: "on average, the nurse/doctor ratio declined slightly from 3.1 to 2.9 across OECD countries, suggesting that "skill mix" defined in this crude way has been increasing. A possible explanation is that advances in medical technology and rising activity rates continued to drive the demand for doctors and part of the demand for nurses upwards, whereas at the same time they reduced another part of the demand for nurses, because less invasive surgery and better drugs and anaesthetics raised day surgery rates, reduced hospital length of stay, reduced hospital beds, and enabled growing numbers of patients with chronic illnesses to be cared for in primary care settings.").
Parece lógico que duas profissões que se desejam com semelhante nível de dignidade, autonomia, diferenciação e retribuição sócio-profissional se aproximem em termos númericos (ou pelo menos que o seu quociente não seja exageradamente díspar), seguindo a regra da diferenciação técnico-científica versus quantidade de profissionais. Quando determinada classe, altamente diferenciada, tende a aumentar exageradamente o número de elementos, em determinado ponto tende a ser desmultiplicada e fraccionada em vários níveis de capacitação e hierarquização.

Portugal não se enquadra neste tipo de contabilização-marketing! Faz muito mais sentido apostar na formação sólida e dosear a formação de acordo com as necessidades reais e de acordo com a disponibilidade do mercado para assimilar todos os profissionais!! Em vez de apoiar rácios utópicos e falsos, devemos rentabilizar a Enfermagem. Uma fatia muito significatica do tempo dos Enfermeiros no seu exercício profissional, é dispendido em tarefas/funções não inerentes à prática da Enfermagem (funções administrativas, auxiliares, etc...)!

Se os Enfermeiros se dedicassem exclusivamente à Enfermagem, o número de horas de cuidados disponíveis subiria exponencialmente!
O segredo: qualidade da formação, rentabilização e formação de acordo com as necessidades/desponibilidades de recrutamento por parte do mercado.
Tentativas de incrementações na dotação de Enfermeiros têm de ser estruturadas e planificadas numa estratégia de concertação entre Enfermeiros/Ministério da Saúde/Instituições empregadoras.
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P.s. - Portugal necessita de mais Enfermeiros? Recrutando todos os que estão disponíveis no mercado e rentabilizando/dinamizando a profissão, grande parte dos problemas carenciais ficariam sanados. Poderá ser estranho e paradoxal, mas a muitos serviços têm carências, tal como outros têm excessos (conheço alguns). Mais paradoxal ainda: aumentando exponencialmente o número de Enfermeiros em determinado serviço, não melhora o nível de qualidade de cuidados. A maior parte continuará a executar as mesmas tarefas, a diferença é que agora o tempo livre é superior em virtude de existirem mais Enfermeiros... os indicadores preenchidos são na generalidade... os mesmos. É pela estabilização da produção que se calculam, empiricamente, os rácios em Portugal.

Comments:
enfim...
 
Torna-se urgente que a ordem dos enfermeiros se concentre numa questão que eu julgo ser da maior importância - a dotação segura - nos serviços.
Todos conhecemos muitas realidades e sabemos que em muitas instituições não existem rácios que confiram segurança nos cuidados de enfermagem.
Mais grave ainda, é que em muitas dessas instituições existem instrumentos de gestão(Sistema de classificação de doentes) que permitem à direcção de enfermagem avaliar com segurança a falta de horas de cuidados de enfermagem e mesmo assim, nada...nada...nada.
Existem serviços de Medicina com 34 camas, com deficit de 100 e mais horas negativas e cujo rácio de enfermeiros é de 5 para o turno da manhã; 3 para o turno da tarde e 2 para o turno da noite.
Digam-me como é possível trabalhar bem neste contexto? É impossível.
 
E eu com o meu familiar no desemprego, que por sinal, está inscrito na Ordem.
Como eu quantas familias têm pessoal com formação em Enfermagem em casa á espera do 1º emprego.
Quantos enfermeiros portugueses estão a trabalhar no estrangeiro, porque foi a unica saída que tiverem, para ganhar a vida?

Senhores da desordem, para não dizerem asneiras, estejam calados, ou abram os olhos.

A realidade dos nossos jovens profissionais é miserável
 
CHAMEM O SINDICATO DOS TAE PODE SER QUE VOS AJUDEM A DESBLOQUEAR A SITUAÇÃO !!!

QUE ACHAM...
 
No meu ponto de vista o DE comete também uma grande falácia. Não vejo porque o rácio da OE não pode ser equiparado aos da OCDE: as funções que noutros países são atribuídas aos auxiliares de enfermagem, em Portugal são executadas pelos enfermeiros. Assim sendo, as horas de cuidados dos enfermeiros + auxiliares de enfermagem de outros países, não deveriam diferir muito das horas de cuidados dos enfermeiros portugueses, com a agravante referida de, para além das funções dos auxiliares de enfermagem, ainda executarem funções administrativas, entre outras mais ridículas... O número de enfermeiros actual só seria suficiente (provavelmente até excessivo) com o aparecimento dos auxiliares de enfermagem; até lá, é fácil ver que os cuidados de enfermagem não estão a ser praticados com a devida qualidade, pela escassez de quantidade (associada ao excesso de funções atribuídas aos enfermeiros).
 
Obrigado pelo contributo LP. Gosto de discutir estas questões.
Em primeiro lugar, o seu comentário erra num aspecto: "funções que noutros países são atribuídas aos auxiliares de enfermagem, em Portugal são executadas pelos enfermeiros". Não é verdade no seu todo, só em parte. Muitas dessas funções pertençem as nossos AAM's e outras a Administrativos.
a Noruega, por exemplo tem um rácio de 31 Enf/mil habitantes (não acha estranho no ano anterior serem apenas 15 enf/mil hab.?)! Em Portugal, se o rácio fosse comparável, teriamos mais de 310 mil Enfermeiros! Para quem tem sérios problemas com o emprego (tal como Portugal) é no mínimo ...estranho (e incomportável)... não?
Da mesma forma eu proporia uma analogia: suponha que na Noruega, determinada empresa de electrónica tinha 31 funcionários, mas apenas 5 eram engenheiros (é um classe altamente diferenciada) e 10 eram ajudantes de Engenheiros. Mas na sua contabilização (rácio), a Noruega não reflecte isso - afirma que 15 são engenheiros! Até nos leva a pensar "que empresa óptima"!
Em Portugal, suponha que a mesma empresa tem os mesmos funcionários (31) e que 6 são Engenheiros (cá não existe, suponhamos, a função "ajundante de Engenheiro") e 9 funcionários são Auxiliares de Electrónica (que não entram na contabilização dos rácios). Note: até temos mais mão-de-obra qualificada.
É impossível empregar 15 engenheiros. Além de serem mão-de-obra altamente qualificada, não poderiam usufruir de bons salários (iguais aqueles pelos quais andamos a lutar neste preciso momento), ou de exectuar apenas a sua função, teria de diminuir o nível de diferenciabilidade, em virtude de cumprir função deixadas a descobreto.

Comparar horas de cuidados também não será fácil pela mistura de funções que existe com os Auxiliares de Enfermagem. Por outro lado nem todos os Enfermeiros trabalham os mesmo número de horas por semana/mês/ano nos países englobadosno relatório.

Além de tudo isto, há o aspecto laboral. Todos os direitos/bons salários que reivindicamos não teriam cabimento se fossemos um classe muito maior (por motivos obvios).
Isso é bem visivel - quanto mais Enfermeiros existem em determinado país maior é o seu nível de indiferenciação, menor é o seu nível de formação, menos é o status social e menors são os salários!

"O número de enfermeiros actual só seria suficiente (provavelmente até excessivo) com o aparecimento dos auxiliares de Enfermagem"

Provavelmente, nos outros países o binómio enf+aux é semelhante (não é igual), em termos funcionais, ao nosso binómio enf+aam. As funções estão divididas de forma diferente, mas o somatório tende a ser próximo (não sei se me faço entender). Agora, junte à conatbilização portuguesa os AAM. E vai notar que estamos acima da média relatada pela OCDE!!

Espanha ou França são um exemplo paradigmáticos: têm rácios superiores, mas menos Enfermeiros diplomados por turno! Vê como Portugal está melhor?

Além de tudo o que lhe digo, há um outro aspecto a ter em conta: devido a um conjunto de factores, o antido rácio Enf/Med que era de 4:1 é agora de 2:1. E a OCDE avisa que o futuro tende a ser de 1:1 (por motivos diversos - em vários posts deixo o link para essa conclusão). Sendo assim, o rácio médio PURO de Enfermeiros deverá/deveria rondar os 6 a 6.5 Enf/mil habitante.

Ex: numa equipa de profissionais de igual dignidade, autonomia e diferenciação técnica, algum deverá ser em número superior ao outro? Ex. Engenheiro/Arquitecto. Qual devera ser o rácio? Um para um? A mim parece-me lógico! Tão lógico quanto dizer os "Pedreiros" devem ser em maior quantidade, pois a diferenciação técnica também é inferior! É impossível ter tantos Engenheiros numa obra como Pedreiros, não concorda?

Um abraço.
 
Outro aspecto relevante: na Europa é possível recorrer a SU e encontrar, por exemplo, 20 profissionais de Enfermagem (12 aux. de Enfermagem + 8 Enfermeiros). Em Portugal, num SU semelhante, poderá encontrar 16 Enfermeiros, suponhamos. Digo-lhe: prefiro o SU Português. Apesar dos rácios não reflectirem, tem o dobro dos Enfermeiros diplomados dos outros. Isto é um mero exemplo, mas espelha bem a dotação e qualificação de profissionais por esse mundo fora.
Provavelmente encontrará mais profissionais, mas menos Enfermeiros...
Compreende a falácia e a superioridade portuguesa?
 
Como enfermeiro sinto a necessidade de criar um fórum de debate, algo superior a "blogs de mal dizer".
Gostava que me indicassem o sentido do blog que pretendo criar, bem como a vontade de participar, quis os temas e quais os conteúdos.

Conto com todos
enfpublico@gmail.com
 
DE: compreendo o seu ponto de vista nesta questão. Onde estamos em desacordo é que (no exemplo dado) eu preferiria encontrar no SU os 12 aux. de enfermagem + 8 enfermeiros. O número de enfermeiros diminuía, o que permitia, como referiu, tornar a profissão mais diferenciada, mais conotada entre a população, mais respeitada no âmbito político, maior status social e melhores salários. Penso que neste contexto facilmente seria atingido o rácio médico/enfermeiro 1:1, de outra forma impossível, a menos que se empreguem tantos médicos que fiquem "ás moscas" ou que os enfermeiros existentes se consigam duplicar, de modo a cumprir todas as tarefas que lhe são atribuídas, ainda que se trate de trabalho pouco diferenciado, no entanto demasiado diferenciado para ser executado por aam, daí a necessidade, a meu ver, da criação do auxiliares de enfermagem. Sei que esta é uma discussão que dá muito "pano para mangas".
 
LP,
Estamos quase a partilhar pontos de vista.

"eu preferiria encontrar no SU os 12 aux. de enfermagem + 8 enfermeiros. O número de enfermeiros diminuía, o que permitia, como referiu, tornar a profissão mais diferenciada, mais conotada entre a população, mais respeitada no âmbito político, maior status social e melhores salários"

Não discuto. A revista Nursing Times têm excelentes artigos neste âmbito, que relatam porque é que países com Enfermeiros all-graduate (só uma classe de Enfermagem - todos diplomados) querem iniciar diferenciação profissional, e outros, onde existe várias estratificação dentro da classe, querem retornar ao all-graduate. Nós já fomos estratificados e a partir dos anos 70 tornamo-nos all-graduate. São ciclos.
Mas existem poucas dúvidas que a estratificação "torna a profissão mais diferenciada, mais conotada entre a população, mais respeitada no âmbito político, maior status social e melhores salários".

Abraço.
 
"na Europa é possível recorrer a SU e encontrar, por exemplo, 20 profissionais de Enfermagem (12 aux. de Enfermagem + 8 Enfermeiros). Em Portugal, num SU semelhante, poderá encontrar 16 Enfermeiros, suponhamos"

A realçar (para ver se todos compreemdem): tendo 8 enfermeiros é possível pagar salários MUITO mais elevados que a 16! Regra geral, os trabalhadores mais bem pagos são sempre os mais diferenciados e em menor número.
 
Não sei qual a complicação de alguns colegas em perceber o porquê de não aumentar o numero de enfermeiros no mercado. Mas para aqueles mais "daaaaa" aqui vai uma forma simples de perceberem. Imaginem que o mercado de trabalho e as opurtunidades de fazer dinheiro são um tacho de arroz. Enquanto que na classe medica são meia duzia a comer do tacho e acham que são de mais, na classe de enfermagem somos uns milhares e ainda convidamos outros tantos a juntarem-se a nós. Quem acham que vai ficar com a barriguinha cheia e quem fica com fome? Claro os medicos como são meia duzia enchem o bandulho de arroz (oportunidades de trabalho e muito bem pago), os enfermeiros comem uma quantidade miseravel cada um ( poucas opurtunidades de emprego e muito dele precário, pois a fome é tanta que se come tudo), e para comerem a sua parte tem que lutar entre si quais cães esfomeados, pois não dá para todos.
Pois mas segundo alguns se o arroz fosse bem distribuido e racionado (acabar com os segundos empregos) dava para todos. Se calhar dava, mas em vez de uma quantidade miserável dava um grão a cada um e ficamos todos ainda com mais fome, e não é isso que queremos pois não? O que temos que de lutar é por ficar tão saciados como a classe medica e outras, em vez de mendigar-mos e nos destruir-mos mutuamente por um grão de arroz. É por este motivo e por outros que TEM DE SE PARA DE FORMAR ENFERMEIROS. JÁ SOMOS MUITOS E A FOME JÁ SE FAZ SENTIR ENTRE NÓS, NÃO PRECISAMOS DE MAIS UNS TANTOS ESFOMEADOS PARA AUMENTAR ESTE JÁ ENORME " CAMPO DE REFUGIADOS". Eu não tenho ainda emprego, mas ao contrário de muitos não quero que tirem o segundo emprego a alguem para me darem a mim, pois iria ser muito mal pago. jÁ O SERIA SE FICASSE COM O 1 EMPREGO DE ALGUEM , IMAGINEM SE FICASSE COM O SEGUNDO. O que eu quero é mercado de trabalho a fervilhar de oportunidades, e boas oportunidades, não de trabalho gratiuto.
 
Bem para mim o problema prende-se entao sob dois aspectos, por um lado existem demasiados enfermeiros a sairem para o mercado de trabalho todos os anos, seria imprescindivel reduzir o acesso à profissão e depois como forma de fazer face à sobrecarga de trabalho existente em muitos serviços, como nas medicinas, onde os racios enfermeiro/doente são minimos, penso que seria necessário adquirir talvez a mesma metodologia de outros paises, passar a existir auxiliares de enfermagem e passarem os enfermeiros a serem uma "elite" em nº reduzido e com outro tipo de funções..aí sim seria possivel concretizar aquilo que o Dr Enfermeiro fala de melhores salários e maior reconhecimento social. Concordo plenamente, mas da forma como estão implementados os cuidados de enfermagem, em alguns serviços é impensavel. Já trabalhei num serviço de medicina e haviam 2 enfermeiros numa noite para 33 doentes, com muita medicação, com posicionamentos e mudanças de fraldas a todos os doente 3 exs durante o turno..acham que isto é admissivel??
 
Quanto ao que se tem falado aqui, posso dar a minha opinião...,
acho que todos os anteriores comentarios tendem a ter razão em certos aspectos do seu conteúdo...!

Penso que a solução poderia ser, aumentar o n.º de AAM/AAE, mas com conteudos funcionais mais diferenciados de outras classes, isto por um lado;
e ainda conseguir que os enfermeiros se dediquem a funções mais especificas (aquelas para as quais só o enfermeiro tem qualificação)
Esta é aminha opinião, que tambem pode estar errada, ao não contabilizar outros factores ....!
 
Estava-se numa aula a falar de António Sérgio e das suas "cartas problemáticas" dirigidas aos alunos.
comentava-se o "construto", expressão muito usada pelo autor num demasiado contexto, num certo sentido que se pode dizer "de geração espontânea".
Em dado momento surge o palavrão que classificava o destino do dito A.Sérgio: foi DESTERRADO.
Pela cara de muitos NW verificou o professor que ninguém sabia o termo.
Desde de desenterrado a enterrado, tudo serviu para disfarçar ignorância.
O professor parou para fazer uma declaração solene à turma: " o que me preocupa é que vós ides ser os professores dos meus filhos..."
Devemos aprender uns com os outros, porque ainda é uma forma válida de sociabilizar.
Certos comentaristas lembram-me a figura que fiz, quando escrevi um postal (era um rectângulo que custava metade do selo e está em desuso), à família, em francês, pelo Natal.
Como estava certo de que tinha escrito tudo bem!
Quando mais tarde encontrei perdido numa gaveta de recordações úteis o dito postal, pude ver quantos erros cometi na escrita, para demonstrar que já sabia falar francês.
Mas vale a pena tentar, pois é errando que se aprende, até a ser humilde.
 
Na realidade DE o que existem é médicos a mais... Para que existem médicos de família se o que eles fazem é muita das vezes Enfermagem?

Se existissem mais enfermeiros a trabalhar e a exercer Enfermagem se calhar não existiriam tantos doentes e a nossa Saúde estaria bem melhor...

Mas isto é como a Economia e cada pessoa é um potencial comprador de medicamentos e exames pelo que interessa que fique doente para os poder tomar, tantos deles desnecessários...

Há quem diga que existem estudos a provar que são necessários ou benéficos... mas patrocinados por quem? Aumentam a qualidade de vida? A esperança de vida? Poucos... Muito poucos...

Tantos estudos, tanta cientificidade , tanto dinheiro gasto e tão pouca melhoria na saúde das pessoas...Que investigação tem sido feita que tenha realmente sido eficaz?

O que é mais científico, o que resulta ou o que diz que resulta?

Quem diz que a Medicina é Ciência mente, poderia dizer o mesmo da Enfermagem mas regra geral a Enfermagem produz sempre os mesmos resultados e a medicina não... Estranha esta definição de ciência não?
 
Ao magistral estratega:

É precisamente esta atitude que desecredibiliza por completo a investigação em Enfermagem.

Não é possível por em causa o fundamento científico da Medicina. Desde Kant. Claro que é mais fácil criticar os estudos feitos, quem os fez, como os fez e quem os pagou, do que fazê-los, não é verdade?

E se a Medicina não é Ciência pura, devemos isso à variabilidade psicológica, relacional, genética e fisiológica do ser humano, que limita muito qualquer generalização. Mas ciência também é isto: identificar apenas para mais tarde re-identificar.

Quietos ou baseados em crenças ou apenas em senso-comum nunca se progredirá.

E dizer que são poucos os reais estudos que mostram benefício com medicação é absurdo e ignorante.

Veja-se o que resultou do movimento anti-Psiquiatria de Foucault, Cooper e Szasz.

E ainda por cima reduzir a ciência à prova de que este ou aquele medicamento é útil ou inútil é, simplemente, estúpido. Em tantas doenças genéticas incuráveis não seria possível fazer planeamento familiar nem diagnóstico precoce, se assim fosse (como um de milhares de exemplos).

Você, de magistral tem pouco, de estratega, nada.
 
Caro AM você baseia-se no pressuposto que a medicina baseada na evidência ( uma tradução rasca confesso) é efectivamente exercida quando na grande maioria não é.

Coloque a si mesmo o trabalho de saber quantos doentes têm acesso aos cuidados (de qualquer ciência da saúde, Enfermagem e Medicina inclusive) definidos como os adequados (baseados na melhor prova científica) e verificará que a grande maioria não os tem, ou seja, não se aplica a ciência apesar de ideologicamente se apregoar o contrário.

Não tem estudos? Eu mostro-lhos se assim o desejar.

Não só coloco em causa o funcionamento científico como lhe digo que é algo que não é sequer unânime entre médicos... que a medicina é uma ciência pura.

Sabe que o método mais usado por um médico é o método indutivo e não o dedutivo... como deve perceber o douto colega de blogue, tal é prova de menor rigor e maior propensão ao erro e por conseguinte sinónimo de não aplicação/uso de ciência na prática da medicina...

Uma coisa é o que se almeja, outra é a que se tem e digam o que disserem, a medicina praticada actualmente ainda está muito aquém do que se define por ciência por uma miríade de razões, por exemplo por falta de acesso/desconhecimento do que é a melhor prática actualmente em uso.

Quanto aos medicamentos pergunto-lhe, à excepção dos antibióticos/analgésicos, quantos deles se traduziram em efectivas e substanciais melhorias na saúde humana.

Quanto a fazer os estudos... com certeza gostaria de ter os meios para poder fazer um ensaio clínico randomizado... mas não tenho...Quem os tem? Quem pode fabricar conclusões...

Pense no caso do interferão, dos inibidores da COX 2, entre outros...

Apontou-me casos de sucesso , agora verifique a percentagem destes na totalidade...

E com isto não quero dizer que devêssemos todos praticar a ciência mais pura apenas que esta pode não ser a opção mais correcta no nosso delicado e complexo mundo de variabilidades psicológicas, relacionais, genéticas e fisiológicas como referiu...
 
Caro Magistral Estratega:

Eu não falei, talvez propositadamente, na MBE, embora de facto a considere um avanço epistemológico na Medicina, como ciência básica (com todas as condicionantes conhecidas e que lhe apontou).

Aliás tenho com esta uma relação difícil, e, mais frequentemente que o que devia, até a ilustre com um artigo curiosíssimo do do BMJ «Parachute use to prevent death and major trauma related to gravitational challenge: systematic review of randomised controlled trials.» Neste os autores dizem que não há evidência científica elevada (I ou II) para a utilização de pára-quedas, pela ausência de ensaios randomizados, devidamente aleatorizados e controlados com placebo.

O que omito quando falo deste artigo é que, o nível de evidência mais baixo (da opinião de peritos), já como que inclui o senso comum, o que, de alguma forma, confere validade externa ao modelo da MBE.

Portanto, confundir ciência com ensaios duplamente cegos, controlados e aleatorizados (e já agora multicêntricos) é absurdo. E em muitos destes tem, de facto, razão, tal é a miríade de conflitos de interesses declarados.

A ciência é muito mais que isto. E se o seu objecto na Medicina não se limita apenas ao funcionamento fisiológico, numa espécie de engenharia biológica, tanto maior o desafio.

Também é ciência perguntar se o risco de cancro nos fumadores ultrapassa o risco de doenças cardiovasculares nos ex-fumadores, ou saber se os viúvos com doença de Alzheimer morrem mais depressa que os casados, ou se a taxa de mortalidade hospitalar é mais alta ao fim-de-semana, etc, etc, etc...

Aliás, a maior parte da ciência na Medicina não pretende estudar de forma controlada a eficácia da medicação. Isso seria absolutamente redutor. A grande maioria da investigação clínica centra-se em outras vertentes da saúde/doença: epidemiologia, genética, diagnóstico, prognóstico...

Quanto a medicamentos além dos antibióticos/analgésicos: que tal os corticóides (tábua de salvação em tantas doenças inflamatórias, desmielinizantes e imunológicas), a levodopa na doença de parkinson, a aspirina na prevenção do enfarte cerebral e do miocárdio, a digoxina na fibrilação auricular, os antipsicóticos na esquizofrenia, os SSRI na perturbação obsessivo-compulsiva, o lítio na doença bipolar, os antiepilépticos, o propranolol e os triptanos na enxaqueca, o alteplase no enfarte agudo, os substitutos enzimáticos em muitas doenças geneticamente determinadas, a adrenalina e os anti-histaminérgicos nas reacções alérgicas, os ieca e os diuréticos na hipertensão arterial, o sildenafil na disfunção eréctil, as benzodiazepinas na insónia ou na perturbação de ansiedade generalizada, a levotiroxina no hipotiroidismo, o cálcio, a vitamina B12, a eritropoetina, as estatinas na dislipidemia, os citotóxicos nas neoplasias, o tamoxifeno, os anestésicos locais e gerais, os brocodilatadores, os IBP nas úlceras, etc,etc...

Falou dos interferões. De facto a sua eficácia está geralmente sobredimensionada, sobretudo no que concerne à esclerose múltipla. Mas vamos supor que você tem EM. E que há uma medicação que não está provado definitivamente que altere o curso ou desenlace da doença, mas que, seguramente, reduz em 1/3 o nº de surtos que o doente tem. Você não a tomava?

Obviamente que os medicamentos não são tudo, nem é desejável a medicalização excessiva, primeiro passo para uma sociedade baseada na insalubridade, em que o estranho passa a ser o indivíduo saudável. Mas eles não são inimigos se bem usados, muito pelo contrário, e alguns deles têm uma eficácia tão espantosa que se torna indesmentível.

Quanto `«pureza» da ciência: eu nunca a defendi, aliás o seu propósito fundamental é ser contrariada, derrubada e ultrapassada por nova evidência, como Popper tão bem descreveu há tantos anos.

Parados é que não nos aproximamos de nada.
 
Parece, para alguns, que a investigação é uma coisa da irmã da Hygia ou Hygeia, ou seja a Panaceia, para todos os males que nos afectam.
A investigação, na Enfermagem como, aliás em qualquer outra disciplina, não é um fim, em si mesmo: é um meio de tentar encontrar soluções novas para problemas velhos.
Investigar é antes de mais, uma atitude que sabe aproveitar com o espírito aberto, às circunstâncias.
A investigação é natural e as crianças são o melhor exemplo do espírito do investigador: desmontam o brinquedo e, satisfeita a sua curiosidade partem para outra.
No entanto, as grandes descobertas surgem do acaso. Se a criada que limpava a banca de trabalho do Fleming tivesse limpo o bolor do recipiente que deixou sujo, nunca este teria descoberto tão facilmente a penicilina.
Todos nós investigamos e descobrimos coisas diferentes, em cada momento que passa. Basta ver como as moscas lavam a tromba, por cinal do tipo picadora para se ver coisa curiosa e metódica.
Investigar é um meio para atingir um fim e não um fim para atingir outro fim, como a pescada de rabo na boca. São as chamadas tautologias onde faz-se que anda mas não se sai do sitio.
 
O texto que escreveu reflecte uam ideia de que a medicina aplica o melhor conhecimento disponível, o que de facto não é verdade... Temos de confessar que a definição tão flutuante de ciência que está a querer dar à medicina se aproxima quase de não ciência...

Também é um problema distinguir entre a medicina e a sua prática clínica e como eu estou a falar da medicina praticada e não da ideal, espero que perceba porque digo não se poder chamar de científica à medicina actual ( a que efectivamente é "aplicada" aos doentes).

Tomo habitualmente, em discussões deste tipo, uma posição mais radical e extremista que a minha real convicção, com o simples intuito de, neste caso, desvalorizar todo o cunho científico que se atribui à Medicina, simplesmente para retirar a suposta divindade deste exercício.

A verdade é que o ritmo de produção de artigos científicos, estudos, conclusões e dinheiro gasto não gerou o acréscimo na qualidade da prestação de cuidados e por fim nos resultados na saúde das pessoas que seria de esperar.

Talvez a investigação esteja a ser mal direccionada ou talvez a Medicina tal como a conhecemos actualmente não possa evoluir muito mais... Mesmo a "promissora" genética está muito verde e longe de ser a panaceia para todos os problemas... Não acredita? Espero ainda vir a usufruir dos seus méritos antes de ser bisavô...

Por isso o que digo é que não olhemos a Medicina de baixo, a investigação que fazem é por terem a vida bastante mais facilitada e não é tão relevante quanto isso: raro é o estudo (em percentagem) que introduz algo de inovador.

O que faz falta não são novos medicamentos, que no futuro podem nem ter compradores, nem dinheiro para eles, mas sim acesso a cuidados de prevenção não medicalizada
 
M E, para a medicina ser uma ciência o ser humano a que se aplica teria de ser imutável numa série de seres do mesmo tipo, iguaizinhos entre si.
A ciência é informada por um tipo de conhecimento: o UNIVERSAL e NECESSÁRIO. Tudo o que não couber aqui, é prática científica - praxis e só.
Claro que os médicos como têm os enfermeiros a trabalharem para eles, dispõem de tempo para levar a água ao seu moinho e tudo lhes serve para a mística alimentarem, desde as práticas do xamane, à lanceta do barbeiro, tudo lhes serve para dar o nó cego no corpo do saber que absorvem, próprio e alheio.
Repare que para considerarem a medicina uma ciência retiram a doença do doente e catalogam-na com o cunho da ciência. O problema é quando voltam a pôr a doença no doente; ela não é universal nos seus efeitos, logo foge à lógica científica.
Veja-se a figura hilariante da ministra da saúde a dizer cientificamente(?) o que vai ser a gripe dos Tós catalogada em A. Só que depois tudo é diferente: aparece quando menos se espera (tipo sol de inverno) e desaparece sem deixar rasto, ou até mata alguns.
São mais lúcidos os que consideram a medicina uma arte e até falam do estado da arte e tudo o mais. Mas isso não dá para alimentar a mística que os enfermeiros ainda lhe atribuem. Este é um problema sério, pois têm imitado, mais do que seria para desejar a bio qq coisa, pondo de parte o estdo da arte, que é a Enfermagem.
Tudo isto porque o ser humano não é científico; é indivíduo ou indiviso.
Por isso a teoria do conhecimento científico e não científico, conhecida por "gnosiologia" distingue o conhecimento sensível (dos sentidos)- dianoia, do inteligível (da lógica e da razão) - noesis.
Nem o Sr Platão conseguiu fazer a ponte entre um e o outro, mesmo tendo conseguido um demiurgo, uma espécie de ordenador universal, para resolver a dificuldade. Mesmo assim e, apesar disso...
Tudo que é ciência leva "logos- logia" o tal verbo ou discurso ou tratado.
Como no princípio era o Verbo e o Verbo era Deus e Deus era o Verbo que se fez carne e habitou entre nós, diz S. João o Evangelista é lógica a pergunta:
e se Deus fosse a ciência?
 
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