quarta-feira, agosto 26, 2009

Mudam os tempos, mudam os paradigmas?

Margarida de Barros disse...

"Aprendemos durante os CLE e antes deles , um sem número de modelos teóricos, vulgo paradigmas, que tem servido de fundamento à Enfermagem .
Se entendermos, em sentido lato, por paradigma o conjunto de princípios filosóficos, éticos e científicos que fundamentam uma profissão, entender-se-á que o paradigma não é, nem jamais poderá ser estanque e que está sujeito a alterações e mesmo a uma reformulação total.

Os vários paradigmas que têm enformado a profissão de Enfermagem necessitam não de alteração mas de uma reformulação global, tendo em conta os factores de mudança das sociedades e das mentalidades que urge acompanhar. É preciso repensar a Enfermagem…
Não se pode ficar refém do que serviu há 30 ou 20 anos , nem parar no tempo, pois a implementação de novas teorias, de novos princípios, que resultam de novas exigências, determinam a mudança.
Um paradigma só é válido enquanto serve os objectivos máximos preconizados para a época na qual se aplicaram. Nada é permanente em ciência por isso muito pouco está consolidado na Enfermagem, resultando tal na permanente dúvida do nosso papel social.

Um paradigma só é considerado consistentemente como modelo científico, enquanto não for contestado. A partir do momento em que surge uma nova tendência paradigmática, é sinal que está a surgir um novo padrão científico que é necessário explorar e implementar.
É bem verdade que a “ tradição já não é o que era “ e a Enfermagem deixou o vínculo à tradição do facilitismo e da acomodação.

As teorias, que considero clássicas, e que se prestaram na perfeição aos modelos fundamentais nos quais se tem baseado a Enfermagem, estão quase moribundos, porque não acompanham a época da pós-modernidade. Contestável?… Porque não?
Mas não é fácil abandonar modelos conceptuais, nem criar ou aderir a novos padrões científicos, porque tal implica um esforço conjugado e concertado ao nível da sua implementação pelos vários actores sociais, quer se trate de docentes, de discentes ou de enfermeiros no exercício, nesta arena repleta de dificuldades .

Significa alterar, em grande parte, os fundamentos da Enfermagem, os modos da aplicação do conhecimento; significa um novo conhecimento que, embora possa carregar as normas válidas de um passado, tem de recriar as bases da sustentação científica do futuro.
Este trabalho monumental passa por fases diversas que são exigidas num pensar crítico-analítico-científico em tempo útil, que não se compadece com filosofismos amorfos nem com teorias abatíveis no primeiro round.

A produção científica de conhecimento passa pela negação do pré-concebido e pela construção da conquista. Já Bachelard dizia "em ciência nada é dado, tudo é conquistado". Habituamo-nos a importar alguns modelos que configuram uma inoportunidade e uma precariedade no conhecimento , que se esboroam face às necessidades prementes da época em que vivemos. Não podemos continuar a produzir o inaplicável, mas temos a obrigação de construir algo que perdure até não ser mais produtivo nas concepções , nas realizações e nos resultados.
A conformidade à norma adoptada só é válida se indubitavelmente não surgirem novas complexidades, contingências e conflitos. A estabilidade é falácia face às mutações sociais, políticas e económicas que se repercutem na instabilidade do ser humano. O equilíbrio dos sistemas não passa de teoria académica forçada , que vem sendo abandonada como o foram as teorias mecanicistas, o organicismo, o funcionalismo, o próprio estruturalismo e o determinismo.

Vivemos na época do caos cíclico, da dúvida permanente, da incerteza. A complexidade do ser humano e das condições de vida não permitem padronizações estanques nem o comprometimento da dinâmica das sociedades. Por isso os paradigmas têm de acompanhar essa mutabilidade dinâmica, a complexidade, as contingências várias, a conflitualidade e os resultados de toda esta amálgama.

A Enfermagem tem de assumir esse dinamismo que regrediu face a padronizações obsoletas, que não servem para quase nada, a não ser prestarem-se como arma a modelos de gestão caducos, falhos de pensamento estratégico .

Quando a Enfermagem assumir a complexidade, a dinâmica reflexiva, os fenómenos contingenciais, a conflitualidade;
Quando a Enfermagem questionar tudo, pondo em causa a tradição, reflectir sobre os porquês deste ou daquele fenómeno, se interrogar sobre o que faz ou deveria fazer, como faz, porque o faz, e tudo isso for realizado ao nível do ensino, da investigação e do exercício profissional;
Quando a Enfermagem não tiver medo de se assumir como profissão autónoma de qualquer jugo, mesmo que camuflado de complementaridade;
Quando não for possível saber como dominar os Enfermeiros, porque o modus operandi é complexo demais para ser controlável e imitável, nesse dia a Enfermagem reconquistará a identidade perdida ou ainda não encontrada, partilhando entre os seus membros os valores que fazem com que um corpo disperso se transforme numa comunidade consistente e coesa mas aberta ao futuro.
"

Comments:
esta srª foi minha professora de curso. Aplaudo, como sempre o fiz, as suas palavras.

urge recapitular e refazer todos os conceitos científicos, técnicos, relacionais e outros, na Enfermagem, ciência que se vê refém de conceitos ultrapassados, de enfermeiros caducos, desesperados e fartos, que n~\ao se coíbem de enforcar os outros colegas, como a si próprios, pela inacção, pela incompetência, pelo deixa andar, ajudando a enraizar os conceitos sociais que o enfermeiro é um quase-médico, é subalterno, serve só para fazer uns pensos, fazer umas festinhas nos doentes, e lavar rabos.

A realidade É OUTRA, a realidade TEM QUE SER OUTRA!
Não admito que colegas não saibam da medicação que administram, que não compreendam nem saibam explicar aos outros colegas e utentes sobre fisiologia, sobre anatomia, que decidem parar no tempo porque "não vale a pena".

São os enfermeiros uma grande percentagem dos inimigos dos enfermeiros.
Mudar-se-ão as ideias, as vontades, as práticas???
oxalá que sim..!
 
Concordo em tudo! MAs a postura do sindicato não vai de encontro aos paradigmas da profissão!

Ao não defender o reconhecimento do mestrado ou doutoramneto em enfermagem e outras areas transversais, como forma de progressão da carreira está a contribuir para a inercia mental e desenvolvimental da enfermagem.

Já não basta os enfermeiros quererem aprofundar os seus conhecimentos a seu custo e suor, para depois não verem reconhecidos os seus esforços!

Com isto de certo desmotivará os enfermeiros a investirem noutras areas do saber e claro como consequencia teremos perdidos outros insights dignos e precisos para o desenvolvimento da profissão....

Como é acéfala a posição da estrutura sindical e dos seus dirigentes em particular! Mas ainda vamos a tempo.....como carecem de massa encefálica empatica para com os seus camaradas de profissão, a esperteza saloia e os interesses corperativos e pessoais prevalecem sobre os quais reside a fundamentação do seu existir: A DEFESA LEGÍTIMA DE TODOS OS ENFERMEIROS ( sou sindicalizado e não estão tambem a defender os meus direitos, como deviam!!!)

Caro doutor enfermeiro, faça uma campanha de sensibilização sobre a importancia da formação e a aquisição dos mestrados e doutoramentos e a importancia do devido e justo reconhecimento, junto dos sindicatos e destes, junto do governo...

`É muito grave o que estão a fazer: assim se Mata uma profissão!
 
Concordo na integra com o texto, de facto temos de reciclar algumas teorias, ideias e posturas no seio da enfermagem. O mal da mudança éa rotina mtas das pessoas que se manifestam contra a mudança so o fazem porque tem medo dela ou não sabem como mudar, m o nosso tempo está a escassear. Urge evoluirmos enquanto ciência e profissão.
Temos de mudar e isso implica mudar muitos paradigmas.
 
Há um ponto de partida que é comum a muitos enfermeiros.
A aspiração de certos voos pelas alturas das teorias não pode servir de base duma carreira, que já tem como base a licenciatura.
Mestrados e doutoramentos são muito úteis para a investigação e investigadores. Seria trágico se em vez de formarmos enfermeiros estivessemos a formar investigadores.
Não concordo que sindicalista seja sinónimo de ignorante nem doutor numa área qualquer seja igual a iluminado útil. Cada coisa em seu sítio.
 
Doutorenfermeiro concordo inteiramente com esta nossa colega e faço o mesmo apelo que o anonimo das 7:45 enquanto ainda é tempo precisamos de fazer algo para que o tempo e dinheiro que investimos na formação seja reconhecido e que não passe em branco. Se calhar temos de fazer uma petição para que este ponto seja comtemplado nas negociações futuras. Contamos consigo para que os sindicatos ouçam as nossas sugestões.
 
"Quando não for possível saber como dominar os Enfermeiros, porque o modus operandi é complexo demais para ser controlável e imitável, nesse dia a Enfermagem reconquistará a identidade perdida ou ainda não encontrada, partilhando entre os seus membros os valores que fazem com que um corpo disperso se transforme numa comunidade consistente e coesa mas aberta ao futuro."


Isto é o "Santo Graal da Enfermagem"
 
Ao anónimo das 7.45

Porque não vai ás Assembleias da Ordem e pergunta o que faz com o seu Mestrado ou com o Doutoramento?
Não é a Ordem que faz a certificação de Competências?

Pergunte também ás Escolas Superiores de Enfermagem, porque ministram os cursos de Enfermagem pelo 1º ciclo de Bolonha.

Questione-se.
 
Tanta parra e tão pouca uva.
 
Não é preciso ir ás Assembleias da Ordem e perguntar o que faz com o Mestrado ou com o Doutoramento, se este não for de Enfermagem ,mas de áreas transversais: não acredita!

As Escolas Superiores de Enfermagem, ministram os cursos de Enfermagem pelo 1º ciclo de Bolonha, de acordo com o Ministério de Educação e Ensino Superior.....

Não sou docente, mas estou informado.
 
Eu só sei que nada sei..., já dizia um iluminado, não é?
Perguntem-se porque é que neste país a Ordem só contempla quem faz mestrados na área de ciências de enfermagem onde as teses falam sempre do mesmo: cuidadores, idosos, cuidadores, idosos, ...
Perguntem-se porque é que os enfermeiros quando investem em investigação não são apoiados e até são discriminados pelos seus pares (quando a investigação em qq área é mto importante para o desenvolvimento do corpo de conhecimentos).
Perguntem-se, perguntem-se...
Pois é, já tenho dito por aqui, e parece que finalmente alguém está de acordo comigo, porque realmente os maiores inimigos dos enfermeiros são os seus pares.
Perguntem-se o que fizeram às vossas vidas quando quiseram escolher a Enfermagem como profissão...
 
Comentário bem elaborado, bem escrito, embora um pouco redundante e que pode ser resumido desta forma:

Os enfermeiros não evoluíram!
 
O que traz de novo todo este texto em relação ao post de 17/8 que cito de novo?

"A definição de Enfermagem não é para toda a vida. Creio que a Enfermagem é modificada pela época em que é praticada e depende, em grande parte, do que fazem os outros profissionais de saúde."

- Virgínia Henderson -
 
Vê-se pela comida o apetite de quem a come e os arrotos que dá a mostrar satisfação e papo cheio.
É óbvio que: se não sabemos o que é Enfermagem como iremos saber para que serve e como evolui ou involui...
Ali arriba o citante da Virginia diz que seremos o que forem, em grande parte, os outros. Mas esse não é o problema, porque ainda aí somos nós. O problema é sermos o que os outros querem que sejamos e só: esse é o nosso dilema. Por isso somos o que somos enquanto não formos o que dterminarmos ser.
Mas, caros opinantes, quando temos uma Manuela Martins doutora professora a apor o seu nome e a dar o seu translúcido contributo ao ACSS para fazer um "manual de procedimentos de Enfermagem", nova forma de dar entrada a curandeiros, nos métodos que usamos e que, por falta de conhecimentos prático dos autores, teóricos balofos, até tem erros crassos, apesar de catalogado como a 10ª maravilha do mundo, porque a 9ª é o próprio grupo de que esta faz parte.
Quando a Enfermagem é assim exposta, aos vândalos que são contratados pelas misericórdias, para os lares das ditas, por falta de freiras; são usados pelos bombeiros, nas ambulâncias, onde frazem de tudo que é dos enfermeiros praxis e, finalmente pelos famigerados TAE, porque são invísiveis é preciso escrevê-los com maiscula.
O paradigma, a episteme como dizia M. Foucault, na sua arquiologia do saber: "as palavras e as coisas" tradução das edições 70, é nem mais nem menos que a matriz do saber e do agir a qualquer nível. Do da analogia,passou-e ao da Mathesis; deste ao estruralismo e deste ao da contingência, teleologia e cibernética.
O mais importante é que as epistemos condicionam o nosso agir e pensar. Só os anormais saem do paradigma. Para os normais é uma espécie de deus do pensamento e da acção.
Na analogia dizia-se que Deus está na natureza; em tudo está Deus; tudo é análogo a Ele. Para encontrá-l'O basta saber ler por um dos vários sentidos: o literal, o metafórico, o historico, o escatológico, o anagógico, enfim...
Já o Homem das alavancas que teorizou de forma brilhante e útil sobre o fulcro, a potência e a resistência deixava uma dica ingénua: "se me derem um ponto fixo no universo eu, com uma alavanca, movo a terra. E esta!
Convém não esquecer que uma carreira seja feita só de génios, ou, o que ainda seria pior, só para génios, sobretudo, quando tem de passar da téoria à prática, num ápice, que é a medida que se usa para o tempo nas corridas de formula 1.
O saber exagerado e descentrado como o de alguns mestres só atrapalha e desvia as atenções, dele e de que o rodeia.
Como dizia a MB ao falar de paradigmas ele já está a nascer e muitos já fazem a figura de D.Quixote de La Manche; continuam a ler o real pelo paradigma caduco que era o de sermos o que os outros querem (se o médico disser ou quiser, você faz ou manda fazer- eis um exemplo de caducidade). Ora D.Q. via nos rebanhos exércitos e nos moinhos de vento castelos e nos odres de vinho gigantes. Tudo isto lhe acontecia porque lia o real no paradigma da analogia, quando emergia o da ciência, com as suas coordenadas, cartesianas, esquemas e quadros, etc. E Cervantes escreveu uma obra altamente científica, que infelizmente muitos lêem pelo lado cómico da coisa, através do Sancho e da Dulcineia.
O que retarda a implantação do paradigma é a distância e desfasamento entre a teoria e a prática, porque quem pratica não ensina; quem ensina não pratica, por isso teoria e prática são duas paralelas que só se encontram no infinito que ninguém, até hoje, descobriu onde fica para ver como se encontram as paralelas.
Não obstante, ela move-se, como disse Galileu G., quando o obrigaram a contrariar o subparadigma de ser o sol a mover-se e não a terra.
E vós, mestres da coisa, não culpeis os sindicatos por não legalizarem o vosso valor. Quando souberdes para que serve, quando gozardes o delicioso sabor de quem vê mais longe ides compreeender por que a carreira não pode ser de mestres e investigadores.
Só agora é que se estão a fazer carreiras para investigadores, nos vários ramos do saber.
 
Este HD deve ter memória curta, então a anterior carreira não contemplava subida de escalões para quem tivesse o Mestrado ou Doutoramento. Estamos sempre a dar tiros nos pés. Esses negociadores faziam mais quietos... os Sindicatos andam a brincar com os Enfermeiros e com o esforço quer intelectual quer financeiro de quem se dedicou a aprofundar conhecimentos, com o intuito de melhorar a prática. Ou será que os Mestrados e Doutoramentos só servem para investigar algo que não se adequa à prática. Esse pensamento é velho e ultrapassado. Todos os Enfermeiros sabem que o saber produzido deve ser mobilizado para o contexto da prática, só assim se melhora a prestação de cuidados.
 
Esta Guida anda a ler livros interessantes. Pena é não saber o que diz.
 
Continuem a dar dinheiro ás escolinhas.
Os professores doutores precisam de sobreviver e os enfermeiros gostam de os ajudar.
 
Teoricamente está correcto que os Mestres tenham um reconhecimento desde que se notem na prática os tais efeitos que bailam na suas mentes.
A verdade é que na prática não se sente a influência do seu saber.
Às vezes, quando Deus quer e o Diabo ajuda, até são dos elementos menos bons, no serviço.
Mas continuo a dizer que essa não é a referência duma carreira para enfermeiros. Nem isto tem nada a ver com os Mestres. São benvindos ao mundo operacional, mas são eles que têm de demonstrar o que valem. Ora neste contexto o seu saber está contemplado na carreira.
 
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