terça-feira, maio 13, 2008

1995-2006: a hiperpsicossocialiémia está a alterar o "equilíbrio hemático" da Enfermagem!


No seguimento do post (O "mundo académico" da Enfermagem está frágil e radicalmente psicossocial: mudança urgente precisa-se!), fiz o meu trabalho de casa.
Foi à minha biblioteca e limpei o pó a uma das melhores revistas de Enfermagem portuguesas - a Nursing. Com que intuito? Comparar o âmbito dos artigos publicados pelos Enfermeiros entre 1995 e 2006, no sentido de tentar esclarecer o que vem escrito no post supracitado e que suscitou mais de 100 comentários (cerca de 40 foram anulados pelo uso de linguagem inadequada, pelo que foram publicados apenas cerca de 60).

Então, em 1995, os Enfermeiro escreviam e produziam artigos deste tipo (por exemplo):

> "Avaliação inicial pelo Enfermeiro e manipulação de crianças queimadas"
> "Terapêutica medicamentosa e ulceração péptica"
> "Reprodução humana assistida e genética"
> "Enfermagem e a anestesiologia"
> "Fármacos usados na asma"
> "Efeitos da imobilidade prolongada no idoso"
> "Acidentes com cortantes e/ou perfurantes"
> "Cuidados de Enfermagem a doentes submetidos a cirurgia da próstata"
> "Formação: o protocolo na colaboração docência/ exercício hospitalar"
> "A terapêutica trombolítica no enfarte agudo do miocárdio"
> "Assistência prestada pelos Enfermeiros orais e maxilofaciais"
> "Grupos profissionais e estratégias de poder num hospital"
> "Diabetes infantil"
> "O doente com pacemaker"
> "Hipotiroidismo"
> "Assistência a doentes que necessitam de terapêutica de oxigénio a longo prazo"

A tendência na evolução psicossocial dos artigos foi clara e no ano de 2005/06, os Enfermeiros já produziam outro tipo de artigos (por exemplo):

> "Ética: cuidar com dignidade"
> "Gestão para a qualidade total"
> "Cuidados de Enfermagem: que justiça praticar?"
> "Enfermagem e a morte: contributos de Tolstoi para a reflexão dos Enfermeiros"
> "Atitudes dos Enfermeiros perante a doença oncológica"
> "Eutanásia: questões morais"
> "Encadernar a metodologia? Problema epistemológico e/ou teórico"
> "Abordagem baseada na evidência para a segurança do paciente"
> "Reflexão: o que nos vai cá dentro"
> "Enfermagem em fim de vida: cuidar é ajudar a viver"
> "O paradigma holístico na Enfermagem"
> "A arte de viver no outro"
> "Acolhimento ao doente oncológico: cuidado autónomo de Enfermagem"

É evidente? Mais uma vez: Não menosprezando (ou minorarando) a importância do "Cuidar" na Enfermagem, penso que este radicalismo psicossocial (numa tentativa não muito sensata de demarcação do modelo biomédico) não é benéfico para a profissão. A dimensão psicossocial é muito importante para a nossa profissão, mas com proporcionalidade relativa, tal como todas as outras!
Existem outras estratégias e quer se queira, quer não, o conhecimento biomédico-farmacológico é inerente/indissociável à Enfermagem (e as novas exigências assim o ditam!). Em grande parte é o que os empregadores esperam de nós! Não só, mas também!
O investimento exagerado apenas na dimensão psicossocial em detrimento das outras (biomédica, técnica, etc...), está provocar um efeito estufa que começa a "asfixiar" a profissão...

Comments:
Apesar das teses de mestrado e doutoramento de enfermagem serem bastante...."tangosas" por assim dizer, esse tipo de estudos que mostrou e disse serem deveras cientificos não o são assim tanto. Se reparar são estudos meramente informativos, descritivos demarcados pela observação de actuações não de enfermagem (não todas) com o objectivo de pertencerem a um grupo de dados estatisticos.
Não sei se me tou a fazer entender, não é propriamente descobrir uma nova molécula com potencial farmacológico ou novas técnicas cirurgicas.
Contudo são bem mais substanciais que as presentes teses/estudos.
 
Gostaria imento que o sr. Doutor Enfermeiro colocasse aqui as palavras proferidas pelo sr. Enf. José Azevedo, que hoje apareceram no correio da manhã, em relação aos Bombeiros /TAE/etc...
Acho que isso ilustra bem o desconhecinemto e o tipo de pessoa que é...
Pelo bem e pelo mal, estamos cá...
 
Belíssima pesquisa!
Dá para pensar o que queremos da profissão!
 
Gostei dos contributos do Tolstoi para a reflexão dos enfermeiros.lol.

Mudam-se os tempos, mudam-se os paradigmas.
Outro dia, fui apresentar uma comunicação livre sobre apneia do sono. Basicamente, apresentar um projecto implementado no meu serviço. Houve nessas jornadas, 16 comunicações livres. seis delas eram sobre cuidados de enfermagem em doentes com AVC. Nada de novo, quase todas iguais e com indicações que eu em 1993 aprendi na escola no curso base.
Portanto, apesar de tudo, embora concordando consigo em alguns aspectos, penso que nos artigos, nas comunicações livres os posteres deveria haver mais diversidade. O problema, como diz um colega nosso, não há nada para inventar está já tudo inventado, o que muda, agora digo eu, são as perspectivas e as preocupações dos enfermeiros.
 
O mal de que sofrem os círculos académicos de Enfermagem alastrou-se para o espectro da prática clínica da profissão. Teses idílicas e romanceadas populam todos os trabalhos de enfermagem que são publicados, não se divisando porém a sua aplicação prática. As revistas de Enfermagem passaram de manuais da prática para uma espécie de revistas cor de rosa que se lêm ao deitar.
Estamo-nos a transformar numa profissão de pensadores e líricos puros, envoltos em questões existenciais inócuas e que desviam a capacidade de produção científica da classe para algo que nada traz de mais valia. Enquanto isso outras profissões vão sendo mais objectivas e lançam as redes no nosso mar, arrastando para si áreas que estavam sob a nossa alçada mas que, distraídamente, deixamos devolutas pela falta de investigação ou produção de conteúdos científicos acerca delas . E hoje em dia quem investiga acerca de uma determinada área torna-se dono e senhor dela mesma! A continuar assim no futuro o enfermeiro vai ser apenas uma espécie de filósofo da saúde até o calarem eternamente com uma boa dose de cicuta!
 
Vivemos numa aspiral de descrético de abandono do que nos torna científicoas e não empíricos, com pesadas culpas para a OE e as Escolas, estando apenas preocupadas em ganhar dinheiro, recusando pugnar pelo desenvolvimento da profissão.

Senhores da OE (que vêm aqui ler o blog)não enviaram ou não vão enviar o relatório de contas da OE?
 
Leia-se espiral em lugar de aspiral.
 
Realmente a evolução da enfermagem está dependente da evolução da medicina-farmácia. Novos aparelhos/farmacos são desenvolvidos e ai cabe-nos a nós a adaptação.
Pois quer queiramos quer não, não temos competencias cientificas no desenvolvimento de novos aparelhos, técnicas cirurgicas e farmacos.
Tal como o colega disse, no que diz respeito à enfermagem propriamente dita, já tudo foi inventado.
 
Por aí se vê o rumo que a enfermagem está a tomar.
Apesar de estar "tudo inventado", penso que tudo é mais importante que o "O paradigma holístico na Enfermagem" ou "Encadernar a metodologia? Problema epistemológico e/ou teórico".
É para isso que servem as pós graduações e os mestrados?
Para aprendermos os "paradigmas e as metafisícas" da enfermagem?
Acho tudo isso ridículo.
Estávamos bem melhor em 1995, penso eu de que.
Quem deve achar isto fascinante são os docentes das escolas, que terminados os temas a tratar "põem-se a inventar"
 
"Encadernar a metodologia? Problema epistemológico e/ou teórico"... É a que mais gosto...

Às vezes leio artigos escritos por enfermeiros e questiono-me da relevância de certos temas...

Mas penso que não será um problema único da enfermagem...

Penso que a melhor investigação cientifica em saúde ocorre quando varias classes profissionais se unem... Sou enfermeiro e estou a realizar um estudo, em que na equipa somos 3 enfermeiros e 1 médico e sou da opinião que as classes se complementam...

Cumprimentos.
 
É um rumo errado. É uma faceta necessária, mas quando em exagero....é moléstia!
Por outro lado, os enfermeiros não querem este caminho, estes artigos são produto de pressões de professores que dominam muito mal as ciencias biomédicas.
Os enfermeiros administram medicação porra! Necessitam de saber ler ECG porra! Necessitam de muitos conhecimentos de anatomo-patolgia porra!
É altura de olhar para isto!
Havia um relatório que já n me lembro onde li, mas acusava as escolas de enfermagem de pouca carga horária na farmacologia, por exemplo...
 
Necessitamos por vezes que os Enfermeiros "Cuidem " mais deles... pois surgem muitas vezes desamparados.
 
Questão:

"Fármacos na asma" - produção de conhecimento de Enfermagem? Não me parece. Muito (mas mesmo muito) provavelmente qualquer farmacêutico ou médico faria um artigo bem melhor ou pelo menos equivalente.

"Reprodução humana assistida e genética","Diabetes infantil" - idem


Se quisermos ler artigos deste tipo há imensos locais (internet (bases de dados) e revistas de especialidade) onde ler. São artigos que não criam uma base de conhecimento de enfermagem, mas que apenas comentam/mostram conhecimentos de outras áreas. Revistas de enfermagem (que se prezem, claro... e lamento mas a Nursing não é uma delas, "Referência" ou "Pensar Enfermagem" são bem melhores, por exemplo, pelo tipo de avaliação dos artigos) devem publicar conhecimento de Enfermagem. Se somos (ou pretendemos ser) uma ciência, ela não se faz só com conhecimentos dos outros.

Concordo que não se pode só pensar na "dimensão psicossocial", mas também não se pode só contemplar a dimensão biomédica. Pois se assim for nunca criaremos um conhecimento só nosso.

Só mais um aspecto:

Verdade seja dita, nós, enfermeiros, "gostamos muito" de artigos do estilo "fármacos na asma" pois em 2 ou 3 páginas achamos que ficamos a saber tudo sobre esse assunto e não pesquisamos mais. Ou seja, gostamos de facilitismos no acesso à informação. E é por isso mesmo que não evoluimos. Não deveria bastar 1 artigo, nem 2, nem se calhar 10 para estagnar o conhecimento aí. Aquilo que o curso de base não dá (e é bastante, porque "é de base", só), exige estudo posterior e contínuo - outra falha nossa.
 
Prezado Nélson,
sem o querer desrespeitar, o seu argumento já tem barbas. Vejamos:

""Fármacos na asma" - produção de conhecimento de Enfermagem?"

Sim. Porque não? Os Enfermeiros não lidam com eles?


"Se quisermos ler artigos deste tipo há imensos locais"

Há imensos artigos de todo o tipo em imenos locais... e daí?


"São artigos que não criam uma base de conhecimento de enfermagem"

Não? O que é o conhecimento de Enfermagem? Não engloba um leque multidimensional de saberes?


"Se somos (ou pretendemos ser) uma ciência, ela não se faz só com conhecimentos dos outros"

A dimensão psicossocial é de pertença estrita da Enfermagem? Não - respondo-lhe de antemão. Por isso...


"Verdade seja dita, nós, enfermeiros, "gostamos muito" de artigos do estilo "fármacos na asma" pois em 2 ou 3 páginas achamos que ficamos a saber tudo sobre esse assunto e não pesquisamos mais"

Estes artigos não signficam conhecimento compacto, muitas vezes são o trampolim para ivestigar...
E será que os artigos psicossociais de 2 ou 3 páginas são melhores?


"Não deveria bastar 1 artigo, nem 2, nem se calhar 10 para estagnar o conhecimento aí. Aquilo que o curso de base não dá (e é bastante, porque "é de base", só), exige estudo posterior e contínuo - outra falha nossa."

Concordo. Mas este seu argumento aplica-se a qualquer dimensão do conhecimento.


"Concordo que não se pode só pensar na "dimensão psicossocial", mas também não se pode só contemplar a dimensão biomédica"

Alguma vez eu escrevi isso?
 
Não se trata do argumento "ter barbas". É a realidade. Porque vamos nós publicar artigos sobre fármacos se não somos nós que os produzimos, não somos nós que temos de os escolher para prescrever, mas "simplesmente" os administramos e vigiamos os seus efeitos, será que não basta um índice terapêutico, uma "bula" ou um guia farmacológico para obter o conhecimento necessário? Interessa que um farmacêutico publique o artigo quando descobrir um novo fármaco, ou um médico salientando possíveis utilizações de um determinado fármaco, mas não um enfermeiro. Lamento, mas aqui não há volta a dar.

O conhecimento em Enfermagem não tem limites muito bem delimitados, é verdade. O que pode causar algumas dúvidas quanto ao que é ou não nosso.

Da mesma forma que falo de fármacos, poderia dizer que um psicólogo publicaria, possivelmente, um artigo bem melhor do que nós se falasse sobre a vinculação, por exemplo.

Ou seja, não interessa se o assunto é "psicossocial" ou "biomédico", desde que se perceba, à partida e na maioria dos casos, que um enfermeiro domina melhor aquele assunto do que qualquer outro profissional.

Ninguém poderá falar melhor dos cuidados de enfermagem a... (qualquer coisa) do que um enfermeiro. Possivelmente, nos dias de hoje, ninguém poderá falar melhor do autocuidado do que um enfermeiro, etc...

Veja se me percebe: eu acredito que não se deve descurar nenhuma das partes, no entanto também acredito que "colarmo-nos" só (e não estou a dizer que disse isto, nem agora nem antes)aos aspectos biológicos, farmacológicos, patológicos,... não nos fará crescer como profissão e ciência, antes pelo contrário iremos retroceder no tempo e ficar novamente demasiado dependentes dos conhecimentos médicos.
 
O percebo-o Nélson, mas em lado algum eu disse que nos temos que "colar" (termo seu) à alguma dimensão do saber.

Se a Enfermagem engloba uma esfera de saberes e conhecimento, não compreendo porque é que não pode produzir conhecimento em relação a todos eles.
Talvez esteja relacionado com a sua interpretação dos factos: o artigo sobre fármacos está escrito na perspectiva de Enfermagem.

Não pense, colega, que por explorar a vertente biomédica que ficará mais dependente dos médicos, pelo contrário, pois se detem o conhecimento, não fica mais dependente se não o tivesse!
Por outro lado, repare, se escrever um artigo do âmbito psicossocial de Enfermagem está a entrar no campo da psicologia/sociologia.

O autocuidado (que foi o único exemplo que encontrou) não pode ser apenas e só o "cartão de visita" dos Enfermeiros...
É que com o "autocuidado" dificilmente ganha a vida um Enfermeiros de uma SIV-INEM ou da Equipa de Reanimação Intrahospitalar, se me está a compreender...
... o que leva a perceber que os conhecimentos terão que ser doseados de acordo com a nossa necessidade/especialidade.

Estou certo que um Enfermeiro de Saúde Mental fará mais proveito dos conhecimentos sobre vinculação (pegando no seu exemplo) do que um Enfermeiro SIV-INEM.

Por outro lado, não queremos correr o risco de ser apelidados de "filósofos da saúde".... é que enquanto filosofamos avançam os podologistas, os técnicos de geriatria, os paramédicos, etc...
 
Po r outro lado, nos paises mais avançados no que concerne à Enfermagem, o avanço da Enfermagem traduziu-se nos seus vários domínios.
Por exemplo, no Canadá, a vertente psicossocial está bem desenvolvida, no entanto, os Enfermeiros prescrevem fármacos, o que implica muito bons conhecimentos em termos anatomofisiopatológicos/farmacológicos.
A profissão evoluiu nas várias frentes.


É que com o seu radicalismo, caro Nélson, até fico a pensar que em breve vai querer abolir a punção venosa das funções dos Enfermeiros, só porque é demasiado biomédica! Receio que na sua vez introduza a "punção do espírito e da alma"...
... brincadeiras à parte, se queremos ser uma profissão forte, temos mesmo que dominar o conhecimento nos suas várias vertentes.
 
... Entrei aqui pela primeira vez e vou arriscar...

... Penso que poderá existir alguma confusão na ideia de alguns enfermeiros, que poderão ter escolhido esta opção profissional com base em expectativas irreais; não vivem confortáveis nem com o passado, nem com o presente da profissão e receiam o futuro; parece que estão zangados com a profissão, com os colegas, com outros profissionais, com aqueles de quem cuidam e se calhar com eles mesmos e com a vida. Não devemos andar zangados.

... Quanto à formação académica (pós-graduações, mestrados, doutoramentos e pós-doutoramentos), é uma possibilidade relativamente nova na enfermagem portuguesa e muitos ainda não aceitam algo ao qual não estavam habituados. Outros ainda, passam muitas horas no trabalho pelo duplo e triplo emprego, o que não lhes dá grande margem para fazer outras coisas na vida... Como estar com a família, viajar, fazer voluntariado, andar pelos jardins sem fazer nada, assistir a um espectáculo, apreciar uma exposição, ler um livro, participar em actividades científicas internacionais e ir conhecer outros enfermeiros de outros países e conversar com eles, ter alguma experiência profissional no estrangeiro, estudar, étc. Não obstante serem as pessoas melhor posicionadas na sociedade para compreender o sofrimento e a perenidade da vida, os enfermeiros nem sempre aproveitam esse conhecimento em favor próprio e vivem uma vida cheia de grandes vazios... Arrisco a pensar que vivem instintiva e intelectualmente desajustados das exigências que a profissão lhes impõe... Muitas vezes não são para eles, nem são para ninguém. Estou a ser irrealista?

... Quanto à qualidade da formação, é certo que deve ser regulada. Porém, congratulo-me pelo simples facto de os enfermeiros passarem a ter acesso a todas as áreas do conhecimento e portanto poderem escolher os locais onde pretendem fazer a sua formação; há enfermeiros com pós-graduações realizadas junto com médicos, mestrados feitos junto com economistas, doutoramentos feitos no estrangeiro ou onde lhes apetecer. Acho muito bem que as pessoas tenham oportunidade de sair "da vidinha", e possam estudar naquilo que querem e gostam, desde que o façam honestamente. Os que não o fazem, é porque não podem, não conseguem ou não estão para aí virados. Também os respeito.

... as expectativas frustradas e os caminhos possíveis desta profissão não suscitam mais interrogações do que o conflito entre o que são os valores da profissão e os valores de alguns que a exercem. Há uma sede de poder, uma fome de prestígio e reconhecimento... Uma inveja muito grande nos locais de trabalho, suspeitas de assédio moral por todo o lado... Todos querem ser eminentes, respeitados, imprescindíveis, os maiores... Na saúde, todos querem "pôr a andar" o doente, para ocuparem o lugar dele na equipa de saúde, enquanto já se percebeu que o que nos torna humanos não são as eminências e as elevações, mas o respeito que temos uns pelos outros; o que nos faz sentir que somos enfermeiros é precisamente a capacidade de transpormos para o cenário da saúde aquilo de bom em que acreditamos na vida real.
...Como enfermeira não me revejo em reivindicações sobre mais funções para os enfermeiros vindas de outras áreas profissionais, quando aquilo que é o cerne da profissão é deixado aos "Deus dará" porque houve pessoas que escolheram esta profissão pensando que os auxiliares iriam fazer as tarefas "menores". Pois é... na enfermagem não há auxiliares nem "trabalhos menores" e isso as pessoas só entendem quando precisarem de alguém que as ajude nas coisinhas mais simples da vida... É que para ajudar alguém nessas "tarefas menores", aprende-se, a par da técnica, nos livros, nas escolas, no trabalho com outros colegas, com os próprios doentes, com outros profissionais, a ler jornais, a olhar o mundo, aprende-se com a vida; a técnica é apenas uma parte de tudo o que é exigido ao enfermeiro; a técnica qualquer pessoa aprende a realizar; não há mistério nenhum na técnica. O mistério está na sensibilidade para o sofrimento dos outros e na capacidade de intuir sobre o que nos rodeia.
É por isto que ser enfermeiro é, antes de preparar o "cocktail lítico", considerar todos os pressupostos para a sua administração, o que também implica ler revistas do género das mais antigas e do tipo das mais recentes - vem lá tudo;
Também, administrar oxigénio a uma pessoa que está a morrer, implica ter tomado a decisão mais correcta e isso obriga a que o enfermeiro leia artigos de revistas do tipo das mais antigas e das mais recentes - está lá tudo;
Também, ser enfermeiro é não se deixar enganar quanto aos sintomas refractários quando administra morfina a um moribundo, o que pressupõe que o profissional aceita e incorpora na sua prática conhecimentos que até vêm nas revistas mais antigas, mas dê um pouco mais de atenção aos conteúdos das mais recentes, pois.. está lá tudo.
Também, empreender acções do âmbito da promoção da saúde, implica ter conhecimentos biomédicos, de geografia da saúde, ecologia humana, marketing social, direito da saúde, étc.
Se o enfermeiro quiser fazer os ensinos terapêuticos sobre a prevenção das doenças tem que ter conhecimentos de fisiopatologia e farmacologia, mas só com isso não vai longe... Há que compreender toda a complexidade humana, aquela que explica que na Venezuela não existam queixas de cervicalgias por chicotada resultante de acidentes de viação.

Enfim, penso que há que identificar as mais valias e transportar para a prática dos cuidados aquilo que acharmos importante em cada momento. Há imensos artigos mais técnicos na enfermagem em revistas especialmente vocacionadas para essas abordagens - nacionais e estranjeiras - e alguns artigos portugueses em revistas estranjeiras; há artigos de enfermagem em contextos multidisciplinares muito interessantes. Não é boa ideia desvalorizar o percurso da profissão nem recear o futuro; também não é boa ideia deixarmos embrutecer a profissão, ou deixarmo-nos asselvajar pelos problemas. Já percebi que muitos enfermeiros lêem o blog e penso que é um bom veículo para transmitir coisas boas.


obrigada pela partilha e tudo bom para vocês,

Vanda
vandaveiga@hotmail.com
 
Afinal não ando cá sozinho.
O DoutorEnfermeiro, tal como eu, acha que a enfermagem está a destacar-se do cuidar doente e a seguir caminhos filosóficos/teóricos com pouca ou nenhuma implicação directa nos cuidados.
é importante que nas escolas se pare de "filosofar" e se aposte numa formação de qualidade para os alunos. É imperdoável que os alunos saiam das escolas com pouca "bagagem" teórica ao nível de cuidados, fisiologia, anatomia farmacologia, controlo de infecção, etc....
Eu tenho alunos a estagiarem no meu serviço a quererem colocar uma sonda nasal de oxigénio com técnica asséptica! (luvas estéreis e máscara....)Quando questionados respondem todos o mesmo, "foi assim que nos ensinaram na escola...."
 
Vanda,

" Outros ainda, passam muitas horas no trabalho pelo duplo e triplo emprego, o que não lhes dá grande margem para fazer outras coisas na vida... Como estar com a família, viajar, fazer voluntariado, andar pelos jardins sem fazer nada, assistir a um espectáculo, apreciar uma exposição, ler um livro, participar em actividades científicas internacionais e ir conhecer outros enfermeiros de outros países e conversar com eles, ter alguma experiência profissional no estrangeiro"

Bom, isso é uma escolha pessoal. Quem somos nós para ajuizar?


"Como enfermeira não me revejo em reivindicações sobre mais funções para os enfermeiros vindas de outras áreas profissionais"

Mas repare, a própria origem da profissão pressupõe isso mesmo. As nossas funções, inicialmente, eram aquelas que os médicos nos delegavam. Agora, temos a possibilidade de as escolher... não vejo o erro aqui...


"Pois é... na enfermagem não há auxiliares nem "trabalhos menores""

Como em todas as profissão, há coisas mais complexas e outras menos complexas. Penso que isto é pacífico. A questão está "qual a mais importante"? Filosoficamente, esta resposta também e fácil. Se o ojectivo da saúde é promover ou devolver a saúde aos utentes, então as funções que permitem satisfazer esta condição são as mais importantes. Exemplo: o que é mais importante para um doente com um AVC isquémico em evolução? Terapêutica anti-trombótica ou cuidar da higiene do utente? Pense bem nisto.
Acredito que num utente com uma depressão, uma palavra amiga/relação de ajuda terá o seu valor....
Eu tento ver as coisas de outra forma, mas sempre foi, sou e serei um homem de ciência.

"Se o enfermeiro quiser fazer os ensinos terapêuticos sobre a prevenção das doenças tem que ter conhecimentos de fisiopatologia e farmacologia"

Concordo. Como podem, certos profissionias, lidar com algo que não dominam?
 
Entristece-me quando pergunto a enfermeiros colegas e alunos "o que é a inflamação", e não me sabem responder...
 
Olá a todos e especialmente ao dono do blog pela simpatia de nos deixar entrar...

... Pois, há visões diferentes sobre o que são os cuidados de enfermagem, mas a diversidade é fonte de riqueza, não é?

... Quanto à origem das funções da enfermeira, partindo de pontos históricos diferentes, também se chega a conclusões diferentes.

... Quanto à complexidade nesta profissão não acho que derive de "coisas" mais ou menos complexas, mas das dificuldades e especificidades de estarmos a lidar com pessoas, muitas vezes em sofrimento; nem penso que tenhamos como objectivo apenas promover ou devolver a saúde aos utentes, pois esses são conceitos - saúde e utentes - que suscitam imensas interrogações.

... Quanto à questão objectiva da importância da terapêutica anti-trombótica ou cuidados de higiene numa pessoa com um AVC isquémico em evolução, a forma dicotómica como a formulou é um pouco redutora embora também permita alargar bastante as possibilidades de resposta: só considerando o prognóstico da situação, a extensão da lesão, o território cerebral atingido, outros problemas de saúde da pessoa e a sua idade, assim como as condições de assistência, se poderá dizer se a pessoa tem critérios e se há condições para realizar a trombólise. Portanto, AVC isquémico em evolução não implica sempre trombólise. Contudo, e independentemente de estarmos perante uma situação em que o médico decide avançar ou não para trombólise, o que é pedido ao enfermeiro é sempre a mesma atitude: que saiba correlacionar os princípios da enfermagem que devem ser mobilizados para cada caso, utilizando a metodologia científica e actuando de acordo com as prioridades que uma situação de urgência ou emergência impõe. Se na fase aguda importa atenuar ou circunscrever os danos cerebrais através de uma correcta oxigenação, o enfermeiro sabe quais são as medidas adequadas a tomar para promover essa condição, e que podem começar por limpar a boca do doente de secreções ou vómitos, posicioná-lo confortavel e correctamente para realizar as manobras seguintes; se a opção do médico é avançar para a trombólise, o enfermeiro sabe como actuar para minimizar riscos, evitar complicações e estar atento aos efeitos da intervenção terapêutica em que está a participar; porém, se estivermos perante alguém que no auge dos seus 80 anos lhe acontece o 32º AVC isquémico em evolução... Pois, talvez o enfermeiro seja de facto o profissional melhor posicionado na equipa para respeitar e fazer respitar a dignidade daquela pessoa, o que pode passar por lhe proporcionar os cuidados de higiene e conforto dos quais se encontra há muito privado pela solidão e abandono a que a família e a sociedade o votaram.
Penso que as prioridades são validadas em cada momento, e a nossa actuação não é pontual - não importa "a trombólise" - isso é apenas um acontecimento no continuum dos cuidados; não importa "a higiene" como acto isolado - é apenas uma ajuda num detalhe da vida. O que importa e essa é a dificuldade que podemos ter, é estarmos para o Outro numa perspectiva global que, no caso específico da pessoa com AVC é sabermos intervir para além da trombólise pois que, esse momento pode salvar a vida que se vai perder pouco depois se não houver uma prevenção secundária adequada pela aplicação da melhor evidência científica, pois se os factores de risco susceptíveis de ser modificados e trabalhados pelos profissionais de saúde forem desconsiderados, a trombólise perde o interesse... (e nestes factores de risco para AVC isquémico estão as gengivites, o que releva para a importância da higiene oral mesmo em pessoas internadas nos hospitais); também é difícil exceder o trivial da trombólise como acto isolado quando não somos capazes de ir mais além e apoiar a família e a pessoa que ficou com incapacidades; se acharmos que toda a eminência da nossa heróica intervenção se concentra num acto apenas, de salvamento, deixamos a pessoa resvalar por uma ravina de problemas como as dificuldades nos cuidados de higiene a um homem que não se vale a si mesmo, a alimentação a uma pessoa que de repente não consegue deglutir, a simples dificuldade em erguer o braço para ver as horas, o não saber quem se é, onde se está... e nós, enfermeiros que sabemos tudo sobre os equipamentos, as máquinas, as drogas, os valores analíticos, não temos coragem de falar com esse homem sobre a sua sexualidade e sobre a sua incapacidade para as coisinhas simples da vida...


... Se é patente que não estamos de acordo em relação a conteúdos, também não estou muito de acordo com o método (algo cartesiano?) que utilizòu para responder à minha mensagem anterior, com exertos de texto retirados do seu contexto, visto que as coisas podem dessa forma assumir outros sentidos, aqueles que lhes pretende dar.

bom progresso,

Vanda
vandaveiga@hotmail.com
 
Este comentário foi removido pelo autor.
 
Vanda,
gosto de conversar e discutir com pessoas como a colega - visão abrangente e uma perspectiva fluída.

Bom, no que respeita à pequena confrontação que lhe fiz - a da trombólise - optou por divagar e concretizar o seu pensamento numa vertente longitudinal. Nem sempre a vida permite, por isso, em determinados momentos o tempo pára e traça-nos uma linha transversal e deixa-nos com um dilema: uma necessidade de decidir numa escala hierárquica de importância.
No dilema que lhe apresentei, por mais argumentos que o pensamento nos brinde, a trombólise (neste caso pressuponha que está indicada) é sem dúvida o mais importante, o mais imperativo, o que exige mais conhecimento e simultâneamente o acto mais complexo.
Em tudo na vida existe uma pirâmide hierárquica em função da circunstância, da projecção e retrospectiva - e os Enfermeiros devem e TÊM de saber actuar com excelência em todos os níveis desta pirâmide, usando o que tem ao seu alcance - o ciência, a técnica e as intervenções psissociais. Uma coisa garanto - dependendo de vários factores, há sempre dimensões mais importantes e prementes que outras!! Os Enfermeiros devem saber distinguir!
Cumprimentos.
 
... De acordo.

Vanda
vandaveiga@hotmail.com
 
Ó doutor enf., gosto bastante das suas opiniões, mas a sua bela escrita não deixa lugar para contra-argumentações....
Precisavamos de si à frente da OE...
 
"Ó doutor enf., gosto bastante das suas opiniões, mas a sua bela escrita não deixa lugar para contra-argumentações....
Precisavamos de si à frente da OE..."

O que é que acha que ele pretende com este blog....
 
Na minha perspectiva ainda bem que se escreve sobre o cuidar. O problema não está tanto no escrever mas no que isso trás de alteração à prática. Era bom que essas teses mostrassem aos administradores hospitalares que se os enfermeiros se dedicassem realmente à sua base - que é o cuidar - muitos reinternamentos se poupavam e muitas das reclamações (que cada vez há mais contra enfermeiros) diminuíam.
Quanto ao que me toca deixo já no ar que a minha tese de mestrado terá o importante objectivo de cuidar como pessoa doentes com patologias neurológicas raras , nomeadamente na manutenção da sua auto-imagem. Mas se calhar o colega acha isso "pouco interessante"...
 
..... experimente ir ver quem dirigia a revista e compunha o conselho científico em 1995 e em 2006....
 
Uma diz que o DE pretende é ser bastonário; outro diz: e que pensas que ele quer?
E eu digo: quem tem medo de ver a OE ao serviço dos Enfermeiros?
Assim como está, está...
 
Agradeço o esforço feito para ilustrar uma situação cada vez mais deprimente. Os enfermeiros deixaram de lado a ciência, a téctica e até mesmo a arte que caracteriza a sua profissão para se dedicarem a "lamechices", fruto de estudos em áreas da psicologia e ciencias afins que deambulam entre os gabinetes de individuos técnicamente ignorante colocados em escolas de enfermagem com o epiteto de professor.

É necessário canalizar a atenção dos recem formados para: o luto e o fim de vida é importante, mas mais importante ainda é ter capacidades e conhecimentos para evitar este desfecho

Despeço-me com amizade
 
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