sexta-feira, dezembro 07, 2007

"O que vai a OE dizer sobre isto?" - As reacções.

Relativamente às afirmações proferidas pela Ordem dos Médicos (ler comunicado da OM e esta notícia do Jornal Correio da Manhã), fazendo crer à população que o Enfermeiros são profissionais sem qualificações para assegurar cuidados pré-hospitalares, e após emitir um parecer técnico que aconselha os médicos dos CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) a não assumir os actos dos Enfermeiros, a Ordem dos Enfermeiros na pessoa do seu vice-presidente, Enf. Jacinto Oliveira, reagiu timidamente. A Enf. Maria Augusta de Sousa, convidada pela SIC Notícias na posição de bastonária/analista, teve um reacção contida e diplomática acerca deste assunto, preferido focar outros aspectos mais difusos.

O Enf. José Azevedo, também reagiu publicamente de uma forma peremptória, sem receios, delineando inclusivamente estratégias e prometendo a antecipação de medidas há muito solicitadas pelos Enfermeiros, no sentido pôr termo a certas indefinições e lacunas protocolares nesta área de intervenção (pré-hospitalar):
"O êxito do Suporte Imediato, do Suporte Avançado e do Suporte Básico de Vida, áreas essencialmente de enfermagem, fica a dever-se sobretudo a estes profissionais, já que os Enfermeiros foram os seus principais promotores e aperfeiçoadores."
"Quando um Enfermeiro se descontrola por falta de treino ou por qualquer outra circunstância, o doente ou morre ou fica muito maltratado. Experiência que só por si atesta o valor da enfermagem nestes suportes de vida"


Não se conhece qualquer tipo de reacção pública por parte do terceiro candidato, Enf. Carlos Vaz Folgado.
a
P.S. - Permitam-me só acrescentar que, seja qual for o vencedor das próximas eleições da OE, a Enfermagem portuguesa já teve a sua pequena vitória.
O incremento de visibilidade na comunicação social, fruto do esforço devotado para estas eleições por parte dos vários candidatos, tive como consequência natural um reflexo acrescido da nossa classe nas páginas dos jornais, rádios e televisões.
Ou seja, para já, os vencedores são os Enfermeiros.

Comments:
Leram hoje o artigo no Diário de Noticias na página 11?

Afinal a nossa ordem tam muito a explicar e a MAS ainda mais.........

Vamos ver se ainda temos eleições no dia 13.....

Que vergonha termos chegado a este ponto. Uma bastonária que quer ganhar à força e não lhe interessam os próprios estatutos da OE.....

Tudo vale nesta campanha.....
 
Boa Noite Sr. Dr. Enfermeiro.

O meu nome é Ricardo Sant'Anna.
Antes de mais, deixar claro que não sou Enfermeiro, mas admiro muito a Vossa profissão. Sou casado com uma Enfermeira, pelo que posso dizer, que conheço bem a realidade que vivem. não só pelo que me conta, como pelos colegas de serviço, com quem saimos muitas vezes, fora as inúmeras visitas ao hospital para o "mimo" ocasional.

Profissionalmente falando, sou em Portugal, Tripulante de Ambulância de Emergência; internacionalmente falando, sou Técnico de Emergência Médica, Nível Intermédio com especialização em Suporte Avançado de Vida e Traumatologia, estando registado nos Estados Unidos, no estado de Nova Iorque.

Quis deixar isto bem claro, pois faz confusão a muita gente este problema... como pode em Portugal existir um mero Tripulânte de Ambulância com uma especialização em S.A.V. ?

Tenho 36 anos, e apesar de não me considerar "velho", já comecei, infelizmente, a usar muitas vezes a famosa frase: "no meu tempo..."

Pois bem, vou ter de utilizá-la consigo.

Pertenço á Cruz Vermelha Portuguesa - Unidades de Socorro desde 1992, sei que não é nada, mas já me permite poder falar com conhecimento de causa e muita experiência.

"No meu tempo..." não existiam Enfermeiros no Pré-Hospitalar. Mesmo quando as VMER iniciaram o seu serviço (já perdi a conta do ano, a mim parecem-me séculos atrás), quem conduzia as mesmas eram os T.A., seguindo o que acontecia no resto da Europa. Uma verdade, que poucos conhecem, era que na altura foi realizado um estudo preliminar entre a classe de Enfermagem, na qual se chegou á conclusão que, quando inquiridos sobre a oportunidade de integrar estas equipas, a Classe respondeu em (quase completa concordância) que:
1º - Enfermeiro não era condutor;
2º - Enfermeiro não é burro de carga para carregar malas e malinhas, oxigénio e monitores atrás do Sr. Dr.,
3º - O lugar do Enfermeiro é no hospital, qué é onde deve estar e é necessário! Não no meio da rua nem a trabalhar ao ar livre.

Caso tenha dúvidas da veracidade destes factos, poderei indicar-lhe fontes oficiais do INEM, que participram nestas fases de selecção e recrutamento.

Chegou-se á conclusão que um T.A. com estudos e treino desempenhava esse papel em condições identicas, por mais baixo preço (he he he) e com igual eficácia.

Só passados alguns anos, quando o mercado de trabalho a nível de Enfermagem começou a criar problemas, é que os Enfermeiros (muitos dos quais vindos da Cruz Vermelha e dos Bombeiros), iniciaram um "lobby" (desculpe usar esta palavra, mas infelizmente é a mais adequada) para que fosse feita uma mudança radical neste aspecto. DEvia ser um Enfermeiro, e não um simples T.A. a auxiliar o Médico! Se reparar,a VMER do São Francisco Xavier em Lisboa é a única (se não estou em erro) que ainda tem T.A.'s a conduzir. Foi das primeiras VMER, se não a primeira, a iniciar este serviço.


Não é de todo a minha intenção, e peço-lhe, por favor que acredite em mim, denegrir ou de outra maneira dizer mal da Vossa função na emergência pré-hospitalar, pelo contrário, desde o início que advogo pela Vossa presença, pois são elementos indispensáveis para que a cadeia de sobrevivência seja mais forte, e que no fundo, quem saia a ganhar, seja a comunidade a quem servimos.

Mas como visitante do seu Blogue, fico triste e desapontado com alguns dos seus comentários sobre a nossa classe. Podemos ainda não ser oficialmente reconhecidos, nem ter uma Ordem ou Sindicato, mas consideramonos Profissionais, com respeito e reputação ganhos ao longo de anos de serviço contínuo á Comunidade.

Poderia apresentar-lhe vários argumentos a nível económico para a presença de Enfermeiros na Emergência... Poderia apresentar-lhe da mesma maneira outros tantos tipos de argumentos para justificar a presença de Enfermeiros na emergência, quando aquilo que se observa cada vez mais a nivel americano (sul americano, centro americano e norte americano - incluindo o Canadá), Europeu e mesmo asiático, é retirar Médicos e Enfermeiros das ruas e deixá-los nos hospitais. Quando fazem parte do pré-hospitalar, é em condições de SAV restritas. Não me quero alongar muito no assunto, pois podiamos comparar sistemas, mas isso dava pano para mangas, e acho que seria mais sensato fazê-lo em privado, num local agradável e calmo, com material de referência, e de preferência cara a cara.

O que realmente me levou a escrever esta menságem foi este seu post.

O Enf. José Azevedo, também reagiu publicamente de uma forma peremptória, sem receios, delineando inclusivamente estratégias e prometendo a antecipação de medidas há muito solicitadas pelos Enfermeiros, no sentido pôr termo a certas indefinições e lacunas protocolares nesta área de intervenção (pré-hospitalar):
"O êxito do Suporte Imediato, do Suporte Avançado e do Suporte Básico de Vida, áreas essencialmente de enfermagem, fica a dever-se sobretudo a estes profissionais, já que os Enfermeiros foram os seus principais promotores e aperfeiçoadores."

Permita que humildemente não concorde com esta opinião, aliás, deste disparate tremendo e injusto.

Injusto para pessoas como nós, que passámos anos e anos a dar formação sobre SBV e SAV em escolas de medicina e enfermagem, pois na altura não existiam profissionais do ramo com experiência práctica no campo. Os que existiam tinham a experiência intra-hospitalar, mas que, principalmente para o SBV, não era a mais adequada.

Injusto para pessoas como nós, que sem fundos, pagando muitissimas vezes do nosso bolso, deslocávamo-nos ao extrangeiro para aprender mais, e depois adaptar essas tecnicas á realidade portuguesa.

Injusto para pessoas como nós, que vos recebiamos de braços abertos nas nossas ambulâncias, para fazerem estágios e aprender como era a vida real na rua, sem o conforto de uma sala cheia de equipamento, ao frio e á chuva.

Injusto para pessoas como nós, que sem sermos reconhecidos, faziamos o melhor que sabiamos e podiamos, para chegar ás urgências do hospital e nos tratarem abaixo de cão, como se a vida das vítimas não dependessem da nossa intervenção.

Desculpe o desabafo, mas Vocês esquecem-se, ou querem esquecer-se que a emergência médica pré-hosapitalar nasceu com pessoas como nós, desenvolveu-se com pessoas como nós e está hoje como está, graças a pessoas como nós. Com todo o respeito, os Enfermeiros apareceram na emergência pré-hospitalar, quando a mesma já estava crescida e alimentada. Qual o trauma que os Enfermeiros tem com este assunto? Porque nos continuam a despresar e maltratar? Nos nunca vos roubámos o trabalho, nós nunca vos quisemos retirar competências. VOCES é que nos roubaram lugares de emprego, e continuam a querer retirar os poucos privilégios que ganhamos ao longo de anos de serviço! Porque?

Irónico é que muitas das imagens que usa no seu blogue, não tem nada a ver com Enfermeiros mas com EMT's de vários níveis de especialização. Quer um exemplo? a imagem dos militares do seu post de dia 21 de Dezembro, não tem nada a ver com Enfermeiros, mas com os chamados "MEDICS" do exercito norte americano, que outra coisa não são que EMT's com qualificação de Intermédio, normlmente Paramédicos, no sentido norte americano do termo, com adaptação á realidade de combate, ou seja "War EMS" ou "Combat EMS". Saiba que no exercito norte americano, um Enfermeiro militar é demasiado precioso para estar numa frente de combate. Estão colocados nos famosos "MASH - Military Advanced Service Hospital", situado, dependendo das situações, a uma distancia nunca superior a 5 / 10 quilómetros da frente de combate. Estes "MASH", são montados e desmontados por equipas altamente treinadas de soldados (e não só, como é natural) em menos de 12 horas de maneira a poderem acompanhar os movimentos das tropas de combate.

Novamente peço desculpa por estar com "palermices" da minha parte, mas, só para que se aperceba, que apesar de não termos um "canudo" (o nosso cá de Braga já foi roubado á uma série de anos...), não quer dizer que sejamos uma cambada de incultos.

Falo agora por mim, adoro a minha profissão, não me vejo a fazer outra coisa na vida. Como estou farto de dizer à minha esposa, não a trocaria por um lugar de Enfermeiro ou Médico, mesmo que me pagassem.

Apenas acho, que tal como Vocês se queijam dos Médicos, com mais ou menos razão, deveriam ter respeito e consideração pelos que estamos abaixo de Voces... Quer queiram ou não, existimos, gostem ou não gostem, respeitem ou não...

Sejam, por favor, é educados, e respeitem os demais.

Com o maior respeito e deferência para consigo e todos os seus colegas e camaradas de profissão, mas acima de tudo, com o respeito e admiração, por serem seres humanos que cuidam outros seres humanos.

Com os meus melhores e mais sinceros cumprimentos e desejos de Boas e Santas Festas.

Ricardo Luis Martin Sant'Anna
santanna@netcabo.pt
Braga
 
Caríssimo Ricardo,
obrigado pelo contributo.
Este é um assunto sobre o qual existe todo o interesse discutir.
Só um reparo, os Enfermeiros prestam cuidados de Enfermagem, no intra ou extra-hospitalar. Sempre assim foi e sempre será. O argumento não é válido.
Devolvo-lhe o desejo de Boas Festas.
 
Caro doutorenfermeiro,

Agradeço a sua resposta e simpatia.
Tem toda a razão no ponto que salienta, e como é natural, nunca quis por isso em dúvida. O que básicamente quis dizer, é que todos nós, de uma maneira ou outra, mais ou menos técnicamente avançados ou preparados, tentamos á nossa maneira contribuir para o bem estar e para a promoção da saúde da nossa comunidade.

Infelizmente para mim e para a minha família, nasci com problemas de saúde a nível renal, pelo que desde cedo tomei conhecimento com os hospitais e os seus técnicos. Sofro desde a nascença de malformações a vários níveis do aparelho urinário, que me levaram a "sofrer" 14 grandes cirugias ao longo da vida. Em 99, os rins pararam, e dei início á terapia de substituição renal por hemodiálise. Passados 9 anos, finalmente, após várias complicações e um enfarte do miocárdio, consegui ver um dos meus maiores sonhos concretizar-se; fui transplantado!

Como pode imaginar, tenho uma dívida de gratidão que nunca conseguirei pagar, não só a Enfermeiros, Médicos, Auxiliares de acção Médica, e tentos outros profissionais.

Por duas vezes estive ás portas da morte, e graças á rapida e sábia intervenção de diferentes equipas de T.A.'s da CVP, que trabalharam em sintonia perfeita com o CODU, e mais tarde com as urgências hospitalares, estou aqui para contar a minha história.

Mas, na medida do possível, com mais ou menos esforço, consegui sempre conjugar o meu trabalho com a minha doença, nunca deixando de trabalhar, e retribuir, através do meu serviço como T.A. ajudando a aliviar o sofrimento dos outros, demasiadas vezes com prejuizo para a minha saúde. Monetáriamente... digamos que sobrevivo com formador, quando existe formação. Na CVP, como deve imaginar, sou Voluntário.

Estou, como já me comentou um colega seu, dos dois lados da barricada. Isso deixa-me numa posição previlegiada, pois permite-me analizar ambos lados, e, acho eu, ser mais humano quando estou com as minhas "vítimas".

Sei que as minhas ideias são descabidas, quando peço uma integração total de TODOS os profissionais de saúde como um todo, pelo menos na emergência pré-hospitalar. Todos em sintonia a trabalhar para o mesmo fim, todos a colaborar, de acordo com o seu grau de competências e empenhamento. Sei que é uma utopia, que é um sonho, mas é um sonho que espero que o meu filho de três anos ainda venha a conhecer. Sou daqueles tolos que pensam que uma só pessoa pode fazer a diferença. Não houve alguem que um dia disse, frente a milhares de pessoas "I have a Dream..."?

Dá-me a impressão que a pessoa que se autodenomina Dr. Enfermeiro não é assim tão diferente de mim. Na sua área, muito especial e humana, só se interessa pelo bem das pessoas.

Mais uma vez, o meu obrigado pela sua simpatia, e desculpe o tempo que lhe tomei.

Um abraço, e desejos reiterados de boas festas. Continue o seu excelente trabalho, pois eu continuarei a ler.

Ricardo Sant'Anna
Braga
 
Caríssimo Ricardo,
penso que partilhamos a mesma linha de pensamento. Não existe (ou pelo menos não deveria existir) hierarquização entre profissionais de saúde.
Todos deveriam estar no mesmo plano, cada qual com as suas funções inerentes.
Não existem mais importantes ou menos importantes. Todos são importantes. Todos contribuem para os bem-estar dos cidadãos.
Em quem pensar de outra forma, ainda não compreendeu o "complexo mundo da saúde".
O Ricardo já compreendeu isso. Deduzi pelas suas palavras e pela sua história.
A si, Ricardo, e à família, desejo-lhe um Feliz Natal.

P.s. - Sempre que desejar, sinta-se convidado: doutorenfermeiro@hotmail.com
 
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