quinta-feira, novembro 28, 2019
Fracote...
Fonte da imagem: RTP
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Li por aí alguns reflexos do Prós e Contras, da RTP, e reti
algumas preocupações dos colegas.
Sinto que assisti a um programa diferente de muita gente.
Tivemos no painel uma Enfermeira (Chefe ou em funções de chefia; não sei muito
bem). Não me pareceu que tivesse sido convidada, mas sim indigitada por alguém,
que recebeu um convite inespecífico – “seja quem for, enviem alguém”. Não julgo
que estivemos bem representados: uma colega sem grande postura, sem souplesse
argumentativo, em permanente adejo nasal, sempre com um pé a puxar, constantemente, a terra para trás, com um discurso desintelectualizado.
O erros do costume foram perpetrados. Sucintamente:
1) Independentemente do tema dos debates, alguns colegas levam sempre a mesma agenda, o mesmo assunto, os mesmos argumentos rebatidos.
2) O debate em si presumia-se conceptual, ou seja, para ser
discutido em linhas latas, de modo mais genérico: ex. financiamento do
sistema, recursos humanos, motivação, organização e até o debate de ideias
estratégicas de mudança (até foi feita a comparação com outros sistemas de
saúde).
O apontamento de casos específicos para exemplificação,
devem surgir no fim, não no início, sob a pena de estar a “mobilar” (e dar a
estocada final) uma casa sem plano arquitectónico prévio.
A colega iniciou o discurso em plena fúria, com os óculos a
cair, e aflorou os imensos problemas que a Enfermagem tem… com… uma amálgama de
comida, cadeirões - pelo que percebi tinha 16 – alguns rasgados, onde se
escondem bichos marotos que causam infecções, comidas que são “dadas” por auxiliares e
não sei mais o quê. Não foi fácil seguir o fio.
Falou em admissões, atrapalhada em saliva, ao qual a
ministra, calmamente respondeu, com dados que convenceram a população. Independentemente
de serem verdadeiros ou não.
Depois, falou no pior argumento do mundo, sobre o qual já
manifestei a minha preocupação há anos e anos e no qual os Enfermeiros vão,
infelizmente, bater de frente da parede num futuro muitíssimo próximo: os
rácios da OCDE.
Alguns Enfermeiros, de forma ignorante e pouco ponderada,
socorrem-se desses rácios para exigir a contratação de Enfermeiros – é talvez a
única profissão que o faz! Todos sabemos que esses rácios apresentam os números
que apresentam porque englobam no conceito de “Enfermeiros” um conjunto de
profissões adjuvantes (Auxiliares de Enfermagem e Técnicos afins). A Ordem à
sua parte, reclama a necessidade de 30 mil Enfermeiros – o que é impossível!
Para contratar 10 Enfermeiros já é uma saga burocrática, imagine-se 30 mil!!
Porém, consideremos essa fantasia: 30 mil. A Ministra, muito
inteligente, esmagou o argumento – “se calhar está na altura de reestruturar as
forças profissionais, porque estamos a sofrer as opções do passado”. Está a
falar, portanto, da criação do Técnico Auxiliar de Saúde – vulgo Auxiliar de
Enfermagem – que entra na contabilização dos rácios, ou seja, se fosse
admitidos 30 mil “profissionais de Enfermagem”, a maior parte não seriam Enfermeiros,
obviamente. Há uns anos atrás visitei um
hospital de um bom sistema de saúde estrangeiro. Para 38 camas de Ortopedia (dividido
em duas alas) tinham 6 “Enfermeiros”, dos quais apenas 2 eram Enfermeiros
diplomados! Dois!
Quem abriu o caminho para isto foram os Enfermeiros.
3) Temos de uma vez por todos dar uma ideia mais evoluída e
intelectualizada da nossa profissão. Quem nos ouve pensa que somos um conjunto
de bons samaritanos que choramos, lavamos, mudamos fraldas e sentamos velhinhos,
com muito amor e carinho. Colegas, isso não vale nem 1201 euros por mês.
Gente, somos
profissionais, altamente diferenciados, com licenciaturas, especializações, mestrados
e doutoramentos!!!! Não somos o clero!
Passa sempre a ideia de que os médicos se preocupam as questões complexas e
exigem raciocínio e os Enfermeiros são pessoal que dão amor, carinho e se
comovem. Povo fofo!
4) Tanto poderia ter sido discutido pela nossa colega no
painel para melhorar o sistema. Dou um exemplo
- discutir a Enfermagem avançada, a autonomização dos Enfermeiros e a
diluição do paradigma médico-centrado. Com isto estaríamos a falar de melhores
indicadores, financiamento mais justo, salários muito mais adaptados ao nosso
nível académico. Acreditem, com a Enfermagem avançada tudo o resto se equilibra
e teremos excelentes argumentos para promover os nossos objectivos e visão do
sistema.
Estamos em 2019! Continuamos com o mesmo conteúdo funcional
de 1970!