E hoje seguiu o que tínhamos a dizer à Ordem dos Médicos, com conhecimento para a DGS, sobre a questão do Parto na Água em Setúbal. Esperamos sinceramente que esta seja uma causa levada por quem de direito como um interesse público.
------------------------------------------------------------
Exmos. Senhores da Ordem dos Médicos,
.
Sou Mãe de dois filhos, uma com 13 e outro com 5 anos, sou também fundadora do site BioNascimento, Doula e activista do parto há 9 anos.
.
Sou Mãe de dois filhos, uma com 13 e outro com 5 anos, sou também fundadora do site BioNascimento, Doula e activista do parto há 9 anos.
.
Dirijo-me a V. Exas por uma desonestidade e manipulação grave a que estou a assistir.
.
Circula a informação de que o parto na água no Hospital São Bernardo está em risco, tendo por
base a argumentação de que têm que haver mais provas cientificas de que não é prejudicial para o bebé. A maioria dos Srs. Obstetras e Pediatras estão unidos nesta decisão. Até aqui nada de mais e tudo aparentemente certo.
.
Gostaria no entanto que estes profissionais de saúde honestamente explicassem o porquê desta decisão para uma " intervenção natural" como é a água, e curiosamente há dezenas de anos que não protegem os Bebés da mesma forma e com a mesma argumentação, das intervenções não naturais como são por exemplo a oxitocina e a epidural, ou até mesmo o misoprostrol. Este último nem fármaco de obstetrícia é, e têm-no usado largamente para induções sem o devido consentimento informado, e com situações gravíssimas a acontecer em diversos hospitais. Imagino que seja do conhecimento de V. Exas. que em países como o Reino Unido, Canada e Austrália, este fármaco só é autorizado usar em caso de morte fetal.
.
Basicamente se consultarmos a Biblioteca Cochrane para o uso de oxitocina para aceleração do trabalho de parto encontramos que:
.
“Slow progress in the first stage of spontaneous labour may be caused by weak contractions of the womb. Doctors and midwives commonly give a drug called oxytocin with the aim of strengthening contractions and speeding up labour to avoid harm to both the mother and the newborn infant. The belief is that managing the labour in this way will enable progression to a normal vaginal delivery and reduce the need for caesarean section. However, others have been fearful that it has no effect on the type of delivery a woman might have and in other ways may do more harm than good. This review of eight studies, involving 1338 low-risk women in the first stage of spontaneous labour at term, showed that oxytocin did not reduce the need for caesarean sections. Neither did it reduce the need for forceps deliveries or increase the number of normal deliveries when compared with no treatment or delayed oxytocin treatment. Oxytocin seemed to shorten labour by nearly two hours on average. The uptake of epidurals was no different. It does not seem to cause harm to the mother or baby, but the sample size was too small to determine if its use has an effect on the death rates of babies. The decision whether to undergo this treatment is one that can reasonably be left to women to decide in the context of a reduction in the length of labour. The included trials used different doses of oxytocin, and different criteria for starting treatment in the delayed oxytocin arm."
.
Para o uso da Epidural a mesma Biblioteca Cochrane diz que:
.
“Pain relief is important for women in labour. Pharmacological methods of pain relief include inhalation of nitrous oxide, injection of opioids and regional analgesia with an epidural for a central nerve block. Epidurals are widely used for pain relief in labour and involve an injection of a local anaesthetic into the lower region of the spine close to the nerves that transmit pain. Epidural solutions are given by bolus injection, continuous infusion or using a patient-controlled pump. Lower concentrations of local anaestheticare needed when they are given together with an opiate, allowing women to maintain the ability to move around during labour and to bear down. Epidural analgesia may sometimes give inadequate analgesia, which may be due to non-uniform spread of local anaesthetic. Combined spinal-epidural involves a single injection of local anaesthetic or opiate into the cerebral spinal fluid for fast onset of pain relief as well as insertion of the epidural catheter for continuing pain relief. Side effects such as itchiness, drowsiness, shivering and fever have been reported and rare but potentially severe adverse effects of epidural analgesia do occur.
Dirijo-me a V. Exas por uma desonestidade e manipulação grave a que estou a assistir.
.
Circula a informação de que o parto na água no Hospital São Bernardo está em risco, tendo por
base a argumentação de que têm que haver mais provas cientificas de que não é prejudicial para o bebé. A maioria dos Srs. Obstetras e Pediatras estão unidos nesta decisão. Até aqui nada de mais e tudo aparentemente certo.
.
Gostaria no entanto que estes profissionais de saúde honestamente explicassem o porquê desta decisão para uma " intervenção natural" como é a água, e curiosamente há dezenas de anos que não protegem os Bebés da mesma forma e com a mesma argumentação, das intervenções não naturais como são por exemplo a oxitocina e a epidural, ou até mesmo o misoprostrol. Este último nem fármaco de obstetrícia é, e têm-no usado largamente para induções sem o devido consentimento informado, e com situações gravíssimas a acontecer em diversos hospitais. Imagino que seja do conhecimento de V. Exas. que em países como o Reino Unido, Canada e Austrália, este fármaco só é autorizado usar em caso de morte fetal.
.
Basicamente se consultarmos a Biblioteca Cochrane para o uso de oxitocina para aceleração do trabalho de parto encontramos que:
.
“Slow progress in the first stage of spontaneous labour may be caused by weak contractions of the womb. Doctors and midwives commonly give a drug called oxytocin with the aim of strengthening contractions and speeding up labour to avoid harm to both the mother and the newborn infant. The belief is that managing the labour in this way will enable progression to a normal vaginal delivery and reduce the need for caesarean section. However, others have been fearful that it has no effect on the type of delivery a woman might have and in other ways may do more harm than good. This review of eight studies, involving 1338 low-risk women in the first stage of spontaneous labour at term, showed that oxytocin did not reduce the need for caesarean sections. Neither did it reduce the need for forceps deliveries or increase the number of normal deliveries when compared with no treatment or delayed oxytocin treatment. Oxytocin seemed to shorten labour by nearly two hours on average. The uptake of epidurals was no different. It does not seem to cause harm to the mother or baby, but the sample size was too small to determine if its use has an effect on the death rates of babies. The decision whether to undergo this treatment is one that can reasonably be left to women to decide in the context of a reduction in the length of labour. The included trials used different doses of oxytocin, and different criteria for starting treatment in the delayed oxytocin arm."
.
Para o uso da Epidural a mesma Biblioteca Cochrane diz que:
.
“Pain relief is important for women in labour. Pharmacological methods of pain relief include inhalation of nitrous oxide, injection of opioids and regional analgesia with an epidural for a central nerve block. Epidurals are widely used for pain relief in labour and involve an injection of a local anaesthetic into the lower region of the spine close to the nerves that transmit pain. Epidural solutions are given by bolus injection, continuous infusion or using a patient-controlled pump. Lower concentrations of local anaestheticare needed when they are given together with an opiate, allowing women to maintain the ability to move around during labour and to bear down. Epidural analgesia may sometimes give inadequate analgesia, which may be due to non-uniform spread of local anaesthetic. Combined spinal-epidural involves a single injection of local anaesthetic or opiate into the cerebral spinal fluid for fast onset of pain relief as well as insertion of the epidural catheter for continuing pain relief. Side effects such as itchiness, drowsiness, shivering and fever have been reported and rare but potentially severe adverse effects of epidural analgesia do occur.
The review identified 38 randomised controlled studies involving 9658 women. All but five studies compared epidural analgesia with opiates. Epidurals relieved labour pain better than other types of pain medication but led to more use of instruments to assist with the birth. Caesarean delivery rates did not differ overall and nor were there effects of the epidural on the baby soon after birth; fewer babies needed a drug (naloxone) to counter opiate use by the mother for pain relief. The risk of caesarean section for fetal distress was increased. Women who used epidurals were more likely to have a longer delivery (second stage of labour), needed their labour contractions stimulated with oxytocin, experienced very low blood pressure, were unable to move for a period of time after the birth (motor blockage), had problems passing urine (fluid retention) and suffered fever. Long-term backache was no different. Further research on reducing the adverse outcomes with epidurals would be helpful.”
.
O nosso Infarmed, para o uso do Misoprostrol na Gravidez alerta que:
.
“O misoprostol está contra indicado em mulheres grávidas porque induz contracções uterinas e está associado ao aborto, parto prematuro, morte fetal e malformações congénitas. A exposição ao misoprostol no primeiro trimestre está associada a um risco significativamente aumentado de duas malformações congénitas: sequência de Möbius, ou seja, paralisia de nervos cranianos VI e VII, e alterações na parte terminal dos membros. Foram observados outras alterações incluindo artrogripose. O risco de ruptura uterina aumenta com o avanço da idade gestacional e com a cirurgia uterina prévia, incluindo cesariana. Partos múltiplos parecem ser também um factor de risco para a ruptura uterina.”
.
O nosso Infarmed, para o uso do Misoprostrol na Gravidez alerta que:
.
“O misoprostol está contra indicado em mulheres grávidas porque induz contracções uterinas e está associado ao aborto, parto prematuro, morte fetal e malformações congénitas. A exposição ao misoprostol no primeiro trimestre está associada a um risco significativamente aumentado de duas malformações congénitas: sequência de Möbius, ou seja, paralisia de nervos cranianos VI e VII, e alterações na parte terminal dos membros. Foram observados outras alterações incluindo artrogripose. O risco de ruptura uterina aumenta com o avanço da idade gestacional e com a cirurgia uterina prévia, incluindo cesariana. Partos múltiplos parecem ser também um factor de risco para a ruptura uterina.”
.
Cientificamente o que temos para o Parto na Água por parte da mesma Biblioteca Cochrane é tão simples como isto:
.
“This review includes 12 trials (3243 women). Water immersion during the first stage of labour significantly reduced epidural/spinal analgesia requirements, without adversely affecting labour duration, operative delivery rates, or neonatal wellbeing. One trial showed that immersion in water during the second stage of labour increased women's reported satisfaction with their birth experience. Further research is needed to assess the effect of immersion in water on neonatal and maternal morbidity. No trials could be located that assessed the immersion of women in water during the third stage of labour, or evaluating different types of pool/bath.“
.
É assim questionável o rigor científico que estes profissionais médicos estão a querer ter em defesa dos bebés, e é ainda mais estranho é que só o tenham para com uma intervenção natural, como é o recurso à água.
.
Vejo que estes Exmos. Srs.Obstetras e Pediatras estão a querer seguir os passos que estamos a assistir que os seus homólogos estão a querer adoptar nos EUA. Há que no mínimo pensar “pela nossa cabeça” e saber que no que toca a saúde pública dos EUA vêm poucos exemplos que faça sentido seguirmos, no entanto, não resisto a questionar se ao estarem tanto de acordo com a ACOG para o Parto na Água, se vão estar igualmente de acordo com as suas novas recomendações para a Prevenção segura da primeira cesariana, emitidas em Março deste ano?
Circula igualmente a informação de que o Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia emitiu um parecer a propósito deste assunto. Seria de todo interessante que V. Exas. tornassem esse parecer e a vossa posição relativamente ao Parto na Água pública, para que o fundamento científico da mesma pudesse ser devidamente analisado pela sociedade em geral, assim como pelas demais classes profissionais de saúde.
.
Sabem os Srs. Obstetras que compõem o vosso Colégio da Especialidade que são muitos os Países desenvolvidos que têm nos seus hospitais banheiras à disposição das Mulheres como uma opção. Países com resultados na mortalidade neonatal equiparáveis a Portugal.
.
Se o que os Exmos. Srs. Obstetras e Pediatras procuram é genuinamente proteger os bebés, então protegem-nos de TUDO o que não está suficientemente estudado, que basicamente é TUDO o que a atual obstetrícia interventiva aplica, desde a monitorização contínua à tão admirada epidural e oxitocina. Sabem estes profissionais tão bem como nós, que uma medicina baseada em revisões sistemáticas é algo tão recente como a existência da conhecidíssima Biblioteca Cochrane que fez o ano passado apenas 20 anos. Assim sendo, a possibilidade de rigor cientifico em muitas matérias é quase nula, dado que estudos epidemiológicos e longitudinais nesta área da obstetrícia é coisa rara.
.
Permitam-me que termine relembrando-vos que a era em que a informação científica era de exclusivo acesso aos profissionais de saúde já terminou. Hoje só sofre de ignorância científica quem quer. Portanto, por favor, não pensem que as Mulheres não são capazes de tomar decisões informadas porque o são. Aos profissionais e instituições de saúde compete facultar a informação cientifica existente de forma simples e acessível, sem manipulações corporativistas, e aplicar eticamente os respectivos consentimentos informados.
.
Dou conhecimento deste email à Direcção Geral de Saúde, visto existir a informação de que a Administração do Hospital de Setúbal aguarda parecer deste órgão.
.
Na expectativa da vossa resposta, apresento os meus melhores cumprimentos.
.
Atenciosamente,
.
Sandra Oliveira
.
Sabem os Srs. Obstetras que compõem o vosso Colégio da Especialidade que são muitos os Países desenvolvidos que têm nos seus hospitais banheiras à disposição das Mulheres como uma opção. Países com resultados na mortalidade neonatal equiparáveis a Portugal.
.
Se o que os Exmos. Srs. Obstetras e Pediatras procuram é genuinamente proteger os bebés, então protegem-nos de TUDO o que não está suficientemente estudado, que basicamente é TUDO o que a atual obstetrícia interventiva aplica, desde a monitorização contínua à tão admirada epidural e oxitocina. Sabem estes profissionais tão bem como nós, que uma medicina baseada em revisões sistemáticas é algo tão recente como a existência da conhecidíssima Biblioteca Cochrane que fez o ano passado apenas 20 anos. Assim sendo, a possibilidade de rigor cientifico em muitas matérias é quase nula, dado que estudos epidemiológicos e longitudinais nesta área da obstetrícia é coisa rara.
.
Permitam-me que termine relembrando-vos que a era em que a informação científica era de exclusivo acesso aos profissionais de saúde já terminou. Hoje só sofre de ignorância científica quem quer. Portanto, por favor, não pensem que as Mulheres não são capazes de tomar decisões informadas porque o são. Aos profissionais e instituições de saúde compete facultar a informação cientifica existente de forma simples e acessível, sem manipulações corporativistas, e aplicar eticamente os respectivos consentimentos informados.
.
Dou conhecimento deste email à Direcção Geral de Saúde, visto existir a informação de que a Administração do Hospital de Setúbal aguarda parecer deste órgão.
.
Na expectativa da vossa resposta, apresento os meus melhores cumprimentos.
.
Atenciosamente,
.
Sandra Oliveira
CD(DONA); CBE; CIMI; LC