terça-feira, julho 01, 2008
A promessa...
O gabinete da Ministra da Saúde, numa reunião (incluindo a própria), tinha estabelecido o compromisso de agendar a primeira reunião de negociação sobre a Nova Carreira de Enfermagem, para a segunda quinzena de Junho. Recordo que estamos em Julho...
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... Relembro já agora que em Portugal somos cerca de 4,6 enfermeiros por cada mil cidadãos. E mais de 3/4 ainda trabalham no sector público.
Nº de enfermeiros por mil cidadãos em alguns países próximos:
Espanha - 5
Holanda - 8,25
Irlanda - 9
(Irlanda do Norte - 7,4)
Reino Unido - 9,7
Dinamarca - 10
Escócia - 10,2
Noruega - 11,6
Finlândia - 18,5
Apesar de haver licenciados em enfermagem e profissionais já com experiência no desemprego ou à mercê de gente sem escrúpulos que quer explorar a necessidade alheia, convém dizer que nos serviços públicos estamos aquém das condições necessárias para se prestarem cuidados de saúde dignos.
Um enfermeiro para 18 doentes distribuídos por todos os níveis de dependência em cuidados de enfermagem é algo que nos convida à prestação de cuidados muito mínimos, sendo muito do nosso trabalho realizado por AAM, o que está incorrecto porque a qualidade dos cuidados fica (quase) sempre comprometida.
Não só não temos enfermeiros generalistas em número suficiente como não temos enfermeiros mais diferenciados na prestação de cuidados para suprir necessidades mais específicas em cuidados de enfermagem, ficando esses cuidados por prestar ou sendo prestados por outros profissionais menos implicados na relação com o cidadão doente (estou a falar de apoio nutricional, reabilitação, educação terapêutica relacionada com doença instalada ou a pessoas em risco, entre muitas outras áreas de intervenção que nas enfermarias não são (actualmente) contempladas por uma intervenção eficaz do enfermeiro).
Quanto às diferenças do valor do trabalho dos profissionais de saúde, está relacionada não só com questões culturais, mas também com o poder reivindicativo das classes. Portanto, não podemos pensar que alcançamos benefícios agindo individualmente; a classe tem que estar unida e focalizada no essencial que é o reconhecimento social do seu trabalho.
Esta luta trava-se nos pequenos gestos do dia a dia, na não permissão que o nosso trabalho seja banalizado (i.e., feito por outros, como outros não permitem (e bem) que nós façamos o seu trabalho), na forma como nos afirmamos junto da equipa de saúde através dos nossos conhecimentos e competências, na postura que adoptamos em defesa do melhor interesse do doente, étc.; mas esta luta também se trava na rua, mostrando a todos o nosso desagrado quando as coisas andam menos bem.
Por tudo isto penso que toda a classe de enfermagem pode muito mais do que tem feito e desafio não só todos os desempregados a estarem presentes na manifestação do próximo dia 10, como todos os que não estão satisfeitos com o actual estado das coisas. Isto não tem nada a ver com ideologias políticas - é o nosso trabalho, a nossa vida e o bem estar da nossa família que estão em causa.
Vanda
vandaveiga@netvisao.pt
Nº de enfermeiros por mil cidadãos em alguns países próximos:
Espanha - 5
Holanda - 8,25
Irlanda - 9
(Irlanda do Norte - 7,4)
Reino Unido - 9,7
Dinamarca - 10
Escócia - 10,2
Noruega - 11,6
Finlândia - 18,5
Apesar de haver licenciados em enfermagem e profissionais já com experiência no desemprego ou à mercê de gente sem escrúpulos que quer explorar a necessidade alheia, convém dizer que nos serviços públicos estamos aquém das condições necessárias para se prestarem cuidados de saúde dignos.
Um enfermeiro para 18 doentes distribuídos por todos os níveis de dependência em cuidados de enfermagem é algo que nos convida à prestação de cuidados muito mínimos, sendo muito do nosso trabalho realizado por AAM, o que está incorrecto porque a qualidade dos cuidados fica (quase) sempre comprometida.
Não só não temos enfermeiros generalistas em número suficiente como não temos enfermeiros mais diferenciados na prestação de cuidados para suprir necessidades mais específicas em cuidados de enfermagem, ficando esses cuidados por prestar ou sendo prestados por outros profissionais menos implicados na relação com o cidadão doente (estou a falar de apoio nutricional, reabilitação, educação terapêutica relacionada com doença instalada ou a pessoas em risco, entre muitas outras áreas de intervenção que nas enfermarias não são (actualmente) contempladas por uma intervenção eficaz do enfermeiro).
Quanto às diferenças do valor do trabalho dos profissionais de saúde, está relacionada não só com questões culturais, mas também com o poder reivindicativo das classes. Portanto, não podemos pensar que alcançamos benefícios agindo individualmente; a classe tem que estar unida e focalizada no essencial que é o reconhecimento social do seu trabalho.
Esta luta trava-se nos pequenos gestos do dia a dia, na não permissão que o nosso trabalho seja banalizado (i.e., feito por outros, como outros não permitem (e bem) que nós façamos o seu trabalho), na forma como nos afirmamos junto da equipa de saúde através dos nossos conhecimentos e competências, na postura que adoptamos em defesa do melhor interesse do doente, étc.; mas esta luta também se trava na rua, mostrando a todos o nosso desagrado quando as coisas andam menos bem.
Por tudo isto penso que toda a classe de enfermagem pode muito mais do que tem feito e desafio não só todos os desempregados a estarem presentes na manifestação do próximo dia 10, como todos os que não estão satisfeitos com o actual estado das coisas. Isto não tem nada a ver com ideologias políticas - é o nosso trabalho, a nossa vida e o bem estar da nossa família que estão em causa.
Vanda
vandaveiga@netvisao.pt
"Relembro já agora que em Portugal somos cerca de 4,6 enfermeiros por cada mil cidadãos. E mais de 3/4 ainda trabalham no sector público.
Nº de enfermeiros por mil cidadãos em alguns países próximos:
Espanha - 5
Holanda - 8,25
Irlanda - 9
(Irlanda do Norte - 7,4)
Reino Unido - 9,7
Dinamarca - 10
Escócia - 10,2
Noruega - 11,6
Finlândia - 18,5"
Vanda,
não podemos comparar esses rácios com os de Portugal. Como deve saber, para o cálculo desses rácios foram utilizados todos os níveis de Enfermagem, auxiliares de Enfermagem e afins, existentes nesses países.
Portugal, relembro, só tem um nível de Enfermeiros e não fez contabilizações dos AAM (possivel comparação/equivalência aos Auxiliares de Enfermagem). Se o fizesse, teríamos rácios semelhantes.
Nº de enfermeiros por mil cidadãos em alguns países próximos:
Espanha - 5
Holanda - 8,25
Irlanda - 9
(Irlanda do Norte - 7,4)
Reino Unido - 9,7
Dinamarca - 10
Escócia - 10,2
Noruega - 11,6
Finlândia - 18,5"
Vanda,
não podemos comparar esses rácios com os de Portugal. Como deve saber, para o cálculo desses rácios foram utilizados todos os níveis de Enfermagem, auxiliares de Enfermagem e afins, existentes nesses países.
Portugal, relembro, só tem um nível de Enfermeiros e não fez contabilizações dos AAM (possivel comparação/equivalência aos Auxiliares de Enfermagem). Se o fizesse, teríamos rácios semelhantes.
Os vários niveis que refere referem-se a parteiras (midwives), visitadoras domiciliárias (health visitors), enfermeiros de saúde pública, étc? É que são esses os níveis incluídos nos cálculos apresentados, excepto os nºs da Finlândia, único caso que referi que inclui auxiliares, mas que não inclui trabalhadores senão do sector público.
Excluindo aqueles tais niveis que nós não temos mas que que na minha opinião correspondem a cuidados de enfermagem que prestamos em Portugal, o que fica é ainda bem elucidadtivo das diferenças:
- os da Noruega que apresentei já excluem auxiliares, pois com esses rondavam os 18/1000;
- RU pássa de 9,7 para 7,31;
- Escócia passa de 10,2 para 7,6;
Esta questão dos ratios sempre me fez alguma confusão. Por exemplo, os números do RU excluem os profissionais registados nos "nursing staff bank", onde eu própria estive, como enfermeira que já exercia na altura há mais de dez anos e com um escalão atribuído pela "ordem dos enfermeiros" inglesa superior ao que detenho em Portugal. Como eu, milhares de estranjeiros estão nessa condição a trabalhar e não são contabilizados no ratio apresentado, o que leva a supor que os números são ainda mais distantes dos nossos.
cumprimentos,
Vanda
Excluindo aqueles tais niveis que nós não temos mas que que na minha opinião correspondem a cuidados de enfermagem que prestamos em Portugal, o que fica é ainda bem elucidadtivo das diferenças:
- os da Noruega que apresentei já excluem auxiliares, pois com esses rondavam os 18/1000;
- RU pássa de 9,7 para 7,31;
- Escócia passa de 10,2 para 7,6;
Esta questão dos ratios sempre me fez alguma confusão. Por exemplo, os números do RU excluem os profissionais registados nos "nursing staff bank", onde eu própria estive, como enfermeira que já exercia na altura há mais de dez anos e com um escalão atribuído pela "ordem dos enfermeiros" inglesa superior ao que detenho em Portugal. Como eu, milhares de estranjeiros estão nessa condição a trabalhar e não são contabilizados no ratio apresentado, o que leva a supor que os números são ainda mais distantes dos nossos.
cumprimentos,
Vanda
Vanda,
os números que reportou não coincidem com os da OMS. Posso perguntar qual a fonte?
Mais uma vez: os rácios não podem ser comparados, e ainda que fossem, a nossa realidade conjuntural é diferente.
os números que reportou não coincidem com os da OMS. Posso perguntar qual a fonte?
Mais uma vez: os rácios não podem ser comparados, e ainda que fossem, a nossa realidade conjuntural é diferente.
Olá,
Os dados constam do relatório do ERA-CARE Network acessível em:
http://www.isciii.es/htdocs/pdf/investen_NursingResearchInEurope.pdf
Face aos percursos formativos descritos e às necessidades que as pessoas apresentam, não estaremos a falar de enfermeiros e de cuidados de enfermagem?
Continuo a achar que os ratios em Portugal estão aquém das necessidades da população, problema agravado genericamente por uma deficiente gestão de recursos humanos nas instituições.
Penso que estes números se referem exclusivamente aos serviços públicos; se for acrescentada a nova realidade de (alguns) serviços particulares onde um enfermeiro recebe, numa tarde, 14 doentes operados e tem ordens expressas para não revelar ao "cliente" que está sózinho no serviço...
O que me preocupa é que nos possa vir a ser vedada a possibilidade de reclamar por mais enfermeiros e melhores cuidados de enfermagem.
Vanda
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Os dados constam do relatório do ERA-CARE Network acessível em:
http://www.isciii.es/htdocs/pdf/investen_NursingResearchInEurope.pdf
Face aos percursos formativos descritos e às necessidades que as pessoas apresentam, não estaremos a falar de enfermeiros e de cuidados de enfermagem?
Continuo a achar que os ratios em Portugal estão aquém das necessidades da população, problema agravado genericamente por uma deficiente gestão de recursos humanos nas instituições.
Penso que estes números se referem exclusivamente aos serviços públicos; se for acrescentada a nova realidade de (alguns) serviços particulares onde um enfermeiro recebe, numa tarde, 14 doentes operados e tem ordens expressas para não revelar ao "cliente" que está sózinho no serviço...
O que me preocupa é que nos possa vir a ser vedada a possibilidade de reclamar por mais enfermeiros e melhores cuidados de enfermagem.
Vanda
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