quarta-feira, agosto 19, 2009

Até me apetece usar quepe!


Ontem encontrei na minha "biblioteca" um livro da Margot Phaneuf (já nem me lembrava que o tinha). Penso que uma parte significativa dos Enfermeiros conhece esta teórica canadiana da Enfermagem.

Desfolhei, li algumas páginas rapidamente, outras com mais atenção e depois simplesmente não digerir mais. Ler aquilo dá vontade de usar o quepe.
Do mais enfadonho e conservador que há, ficamos anestesiados com tamanho esabanjamento filosófico. Fico com a ideia que o Enfermeiro deve ser um profissional cuja principal arma terapêutica é a compaixão, a melancolia, a compreensão meta-física, a filosofia do amor, a entrega desmesurada e sem limites, a dádiva, o sofrimento carnal e espiritual, etc. A ciência e o conhecimento são secundários, meros adereços sem interesse.

Depois vem a parte da dignidade e autonomia (daquele tipo pantonoso... lê-se, lê-se, lê-se e não se sai do mesmo, não há sumo!). Escreve a senhora que o Enfermeiro não é um mero executor (estranhamente ficamos com a ideia inversa). Até uma imobilização o médico deve prescrever! O profissional de Enfermagem é uma espécie de servente, mas mesmo assim a Enfermagem partilha da mesma dignidade da Medicina, Psicologia, Biologia, etc (segundo ela).
Mas nem tudo é mau: pelos vistos, segundo a senhora, a Enfermagem é autónoma: além do amor e compaixão (que não estão sujeitos a receita médica!), podemos vestir o cliente, dar-lhe banho e passeá-lo. Mais ou menos as coisas que a empregada do lar que mora ao fundo da rua também sabe fazer.

Mas a evolução é notória: já não é preciso pedir licença ao médico para partilhar a mesma divisão que ele, o que é manifestamente positivo.

É melhor voltar à minha leitura de cabeceira: Cosmos do Carl Sagan e uma colectânea de artigos relativos à Imunologia e biocompatibilidade aplicada à prática da Enfermagem. A leitura anterior foi Nurses experiences of caring for families with relatives in intensive care units da Louise Stayt. Não sou extremista, mas admito que só o conhecimento científico pode ser o motor de qualquer evolução!

Comments:
Não vejo outros profissionais com tanta repugnância pelo passado.

Os médicos aplicavam ventosas e faziam sangrias, factos dos quais não se envergonham; os professores davam reguadas e puxões de orelhas, aspectos que fizeram parte do passado e sobre os quais não se regozijam nem fazem disso um gozo; os polícias eram totalmente diferentes do que são na actualidade e não se envergonham do que foram; ...

Porque é que (alguns) enfermeiros têm tanta repugnância do passado?

Eu cá não me envergonho dos meus antepassados nem da forma como eu era há 20 anos, como falava, o que pensava, como me vestia...

Não me parece que seja interessante este discurso de lenga lenga do dr enfº sobre o passado da enfermagem. Não me envergonha nada o que foi a enfermagem pois o entendimento das diferenças em relação ao presente só é possível numa leitura inteligente e contextualizada nos aspectos sociais e culturais do passado.

Também não entendo qual é a intenção da comparação que faz das leituras apresentadas. Alguma é "mais à frente" do que a outra? Em que sentido?

VV
 
Nao me repugna o passado, pelo contrário. Repugna-me a falta de visão, o conservadorismo bacoco e o desinteresse na evolução científica.
 
Será que é passado?
 
Na verdade é muito esquisito que fale tanto disparate compor exp:
"Mas a evolução é notória: já não é preciso pedir licença ao médico para partilhar a mesma divisão que ele, o que é manifestamente positivo".
Triste diferença...
Eu sou enfermeiro há mais de 25 anos e nuca fiz isso. O que não é o seu caso, por isso evoluiu...Lembra-se dos velhos tempos?

Já agora não quer trocar essa leitura de cabeceira? Fazia-lhe bem arejar as ideias...
 
Não sei como alguém pode ter muito orgulho num passado duma profissão como a nossa em que inicialmente até era idealmente praticada por prostitutas (mas gostos não se discutem). Valeu-nos a Florence Nightingale que se lembrou de adicionar ao amor e compaixão um pouco (ou melhor, "um muito") de ciência e projectou (ou evoluiu) a profissão como se calhar nunca mais, pelo menos enquanto existirem estes colegas mais saudosistas, os tais que com medo da responsabilidade (?) esperam que o médico prescreva a execução de um penso, aspiração de secreções, posicionamentos e/ou levante dos doentes (atenção que isto não é exagero nem fruto da minha imaginação). BTW, Carl Sagan, boa escolha, a seguir experimente Stephen Hawking.
 
Ai Dr. Enfermeiro.
Tanta gente revoltosa.
Será por não passarem a Enfermeiros Principais.
 
Caros colegas, tenho lido as vossas opiniões que evidentemente muito aprecio e respeito, no entanto permitam-me discordar de todos num aspecto, incluíndo o DE, falar de passado é demagógico, isto porque se abrirmos os olhos vamos ver que a Enfermagem continua igual ao que era à 20, 50 ou 100 anos. Não mudou nada, por isso não se pode falar em passado!
Esta constatação é muito triste, pois verificamos que enquanto outras classes vão evoluindo e até outras tantas vão aparecendo, nós enfermeiros continuamos agarrados a um passado que é o nosso presente, presente esse que obviamente não nos realiza, pois estamos a perder o comboio.
Cada vez mais a enfermagem tem que premiar e evidenciar a excelência, tem que nivelar por cima, tem que reconhecer o mérito. Quem tem vocação são os padres!!! Os Enfermeiros têm que ter competências e responsabilidades.
Talibã das Beiras: Sempre ao mais alto nível!
 
Há quem se esconda atrás de um "quepe" (sem o usar) por ser mais facil, para não evoluir, não Inovar!
Assim, tem a aterna desculpa para não fazer, o que por Muitas vezes é necessário
 
Bom, não resisto a um comentário. Sou um defensor acérrimo do dito Modelo Biomédico, o que não implica descurar o conceito de Relação de Ajuda. No entanto não posso de realçar o facto de alguns Enfermeiros da área da Chefia começarem a participar e a intervir neste fantástico blog do nosso caro DE. Para já podemos constatar um facto: o nível dos comentários claramente subiu, o debate alarga-se a outros pontos de vista (concordemos ou não), a construção frásica, a fluidez de discurso, a gramática (nós jovens Enfermeiros temos de pôr os olhos neste aspecto, é fundamental rigor na escrita, aprendamos com os mais velhos). Também considero positivo que alguns Chefes aqui exponham ainda que superficialmente, as suas competências académicas e o seu percurso profissional, há que desmistificar a ideia de que só com cunhas é que se chega à área da gestão. Pena que surgem tarde, faltou durante todo este processo referências para os mais jovens, faltaram team leaders, faltaram vozes para conseguir a convergência e a união entre todos, faltou a experiência e a maturidade necessária à nossa Classe, não basta dizermos que somos Quadros Superiores e pronto... Aproveito para saudar a criação de uma associação representativa das nossas Chefias e Dirigentes, se não cairem no elitismo, poderão funcionar como um lobbie precioso, nos processos de tomada de decisão, não só quanto à Enfermagem, mas também intervindo nas politicas de saude em geral. Por isso em vez de trocas de galhardetes, considero positivo o debate do qual além do brainstormig, possa surgir uma confluência de diversas perspectivas pessoais e profissionais. Mais do que Chefes e afins, era importante que aparecerem líderes e referências para a juventude emergente na Enfermagem que sai das Escolas alienada do mundo real, sem espirito de Classe, uma geração subserviente que tarda em se afirmar. Por favor ajudem-nos a crescer e a defender-nos, já que as Escolas não o fazem. Venha alguma maturidade e serenidade, caros Chefes, benvindos a este blog, mas também aceitem a perspectiva dos mais novos, a evolução, somos o futuro, orientem-nos, sejam nossos colegas e amigos, depende de vocês a criação de um "espirito de corpo" à boa maneira militar, sem nos exedermos mas também sem nos pisarem. Faltaram até agora verdadeiros Generais no campo de batalha (e não falo só da carreira, mas sim dos destinos da Enfermagem). Um bem haja para todos os colegas, até logo caro DE.
C2
 
Ouvi o Jacinto comentar as declarações da Ministra sobre a Linha de Saúde 24. Parece que a OE começa a despertar para a realidade!
http://www.ordemenfermeiros.pt/index.php?page=44&highlight=807



Dr. Enf., duas questões:
1: Ainda tem dúvidas que a gripe A, não obstante tratar-se de uma temática extremamente complexa, está a servir grandemente os interesses do Governo, visto que desvia as atenções da (gravíssima) crise económica e financeira que o país atravessa? Assim ninguém fala do desemprego, o que dá imenso jeito, agora que as eleições estão à porta…

2: Achei o post sobre o caso de cegueira no Santa Maria muito pobrezinho. Alguém tem dúvidas que houve erro médico? Para quê continuar a alimentar polémicas do tipo “medicamentos off label são maus” ou “os enfermeiros é que são bons a preparar fármacos”?

Nota: ERRO MÉDICO significa que houve falha (mas não intencional) da parte de um profissional de saúde (não obrigatoriamente médico). Não confundir com NEGLIGÊNCIA MÉDICA.
 
"Para já podemos constatar um facto: o nível dos comentários claramente subiu"


Também me faz parecer que sim. Abraço.
 
Concordo plenamente com VV:

As épocas não são susceptíveis de julgamentos póstumos, à luz de evidência não disponível na altura certa.

O que, obviamente, não invalida o investimento no presente de olhos em frente.

E este é, seguramente, pela Ciência e pela Técnica.

A função de conhecermos o passado é não cometermos os mesmos erros já cometidos. Mas com a clara noção de humildade de cometermos outros tantos (ou ainda mais).Foi Mark Twain que disse qualquer coisa como «gosto de aprender com os erros dos outros: não tenho tempo de os cometer todos». E Russell «Por que cometer erros antigos se há tantos erros novos a escolher?».

Nós estamos sempre, e sempre estaremos, mais perto da popa que da proa.
 
Concordo com os ultimos comentários. Agora dá gosto ler não só o Blogue mas tambem os comentários. Foi por causa destas "discussões" que comecei a ler. Por favor continuem.
 
LOL

o pior de tudo caro DE, é constatar, tal como o faz, que quase pouco se evoluiu, em muitos casos.
as mentes mantêm.se retrógradas, a ciência parece que não pesa, e há a falta da assunção de responsabilidade, o sacudir agua do capote.

Ao menos a Enfermagem americana a safar a face ..
 
DE, é como o velho ditado diz...quem tem picas é que se agulha! ou será "quem tem agulhas é que se pica"! LOL

Mas acho que não há necessidade das chefias estarem a atacar "a sua gente"...acho que estamos no mesmo barco, não é? Orientação dos mais velhos é que nós necessitamos e não satisfazer necessidades de pessoas mimadas e embriagadas com o elixir do poder, porque "o tempo das vacas gordas" lá vai...acordem para a realidade e todos juntos faremos algo...

Bem vindos a esse blog comentem, discutam, mostrem-nos os vossos pontos de vista...
 
Mudaram as fardas, mudou a loiça, mudou a cor das paredes, mudaram os niveis de escolaridade........mas alterou-se o nivel de responsabilização, a postura as atitudes e os comportamentos. Em certas situações acredito mesmo que os nossas colegas dos Quepes seriam mais respeitadas do que hoje muitos de nós. Será que nos damos ao respeito???? Será que assumimos as nossas posturas?????
 
Renasce a esperança de ficarmos voltados de frente para os reais problemas da enfermagem. Com ou sem cap, cup, quepe ou queque, é de cbeça levantada e livre que se enfrentam.
Até a Igreja já dispensa as mulheres de entrarem nas suas capelas sem a cabeça tapada, que no homem até era ao contrário da mulher. Ver o homem de chapéu ou boné a entrar na capela ou a mulher sem lenço era pecado.
De facto havia prostitutas que uma vez curadas tinham de se comprometer a ajudar outros a curarem-se.
Houve médicos que nem tocavam no doente directamente. Quem usava as ventosas as sanguessugas e as lancetas eram os barbeiros.
Mas não é disso que estamos a falar: é das saudades que as pessoas têm da sua juventude onde havia enfermeiras com aventais com folhinhos e a touca algumas como as da maideservant da Califórnia que é assim um local onde a escravatura demorou mais a desaparecer.
Ora como estas coisas estão associadas à juventude que tiveram pensam que suspiram por umas e escondem a saudade de outras.
Mas o temo é relativo.
Está provado que o homem deve ter aprendido a andar com as da frente levantadas quando desceu das árvores.
Pensam os indutores da ciencia que também foi nessa altura que o rabo se foi tornando incómodo e acabou por cair.
Por isso não fiquem tristes porque isto não começou ontem nem vai acabar amanhã.
 
"No entanto não posso de realçar o facto de alguns Enfermeiros da área da Chefia começarem a participar e a intervir neste fantástico blog do nosso caro DE"
E de que maneira. Até já fui abordado por uma ex boss. eu e o Lp e outra colega que tb vem a este cantinho.
"já viu, estas novas coisas de blogs..." e "eles" andam aqui. Muitos não comentam, mas andam todos aqui.
uns para o bem, outros são tão tinhosos, que a futura directora do HSJ (São João/São José - lololol) deixou de pôr nome nos comentários.
Apanhadinha LOOOOL
 
Os velhos do restelo, como aqui já foram chamados, protagonizaram muita mudança na Enfermagem. Deixo-vos o meu testemunho: Iniciei o Curso geral em 1974.Nesse ano acabou o curso de Auxiliares de Enfermagem na minha escola. A prática nos estágios foi inimaginável nos dias de hoje.As seringas eram de vidro, as agulhas de metal, os colchões de palha, as fraldas de pano e os resguardos de borracha.As enfermarias tinham 50 camas e o método de trabalho, por tarefas. Os registos eram mínimos e no chamado "livro de ocorrências". O enfermeiro e/ou o aluno, na sala de trabalho, lavava seringas, desobstruia e afiava o bisel das agulhas antes de as colocar no ebulidor, que fervia dias inteiros. Os doentes eram cuidados por higienes, pensos e medicação. As Auxiliares, "empregadas"esfregavam o chão, enceravam, levavam e iam buscar a roupa à lavandaria, tiravam lixos e distribuiam alimentação.As horas de visitas eram rígidas, o direito ao acompanhante não existia, inclusivé na pediatria. No fim da visita, os gritos da separação das mães das crianças, hoje configurariam a prática de maus tratos. Como "velha do restelo",sou enfermeira há 32 anos, especialista há 28 anos e chefe há 26 anos, por concursos de provas públicas. Orgulho-me muito de sempre ter contribuido para a evolução ao longo dos anos e entristece-me imenso a forma como alguns falam dos chefes, como opositores à mudança. Sempre combati o servilismo(antigamente eram os cafézinhos)hoje de novo de volta, de uma forma bem mais subtil e vergonhosa. Os directores dos serviços têm todo o poder e os enfermeiros sabem-no. Como as novas regras apontam para a chefia por escolha na área do partido vigente, terei mais disponibilidade para a prestação de cuidados, o que sinceramente me dá muito prazer. Quanto à precrição, embora de um grupo restrito de terapêutica, acho que não é ainda o timing e se devem adquirir competências académicas específicas.
 
sou estudante de enfermegem e estou no segundo ano de licenciatura e apos ler o artigo sinceramente fiquei a pensar se queria mesmo acabar a licenciatura. penso que a sociedade tem uma má imagem dos enfermeiros porque tambem nao digo que é só por esse motivo os profissionais de enfermegem sao os primeiros a denegrir a nossa imagem. meu deus .... apesar desistrir de enfermagem nao... porque se nao formos nos a mudar a imagem que a sociedade tem de nos quem a vai mudar? por isso espero fazer parte de uma geraçao que fez muito por a profissao e nao que apenas se lamente por o que ja foram ou por o que sao se nao es esforçam para mudar...
 
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