terça-feira, junho 28, 2011

As "capelinhas" hospitalares?


Volta a estar em voga o possível encerramento de diversas unidades hospitalares. São pequenos hospitais distritais que, ao longo do tempo, evoluíram para instituições de rectaguarda, importantíssimas na mecânica assistencial do próprio sistema de saúde.
São referidos - por muitos - como uma suposta parte de uma solução da crise (com um argumentação numérica, e, mais caricato, errada).
Eu próprio ouço algumas vozes (incluindo, aliás, sobretudo a de profissionais de saúde), aludirem às mesmas sob o epíteto "capelinhas".

Eu sou frontalmente contra o encerramento dessas pequenas unidades (excluindo os poucos casos em que se verifiquem um conjunto de condições que signifiquem a impossibilidade total de funcionamento - escassez liminar de profissionais ou ausência total de meios físicos necessários ao exercício). Este é um erro crasso que fragiliza a orgânica do sistema.

A centralização parece ser, para os mais incautos, inexperientes ou estúpidos (porque há muitos) uma solução evidente, linear e capaz de responder aos problemas. Em oposição aos pequenos hospitais teremos as grandes centrais hospitalares, arrastando todos as dificuldades e problemas para uma mega-instituição (porque estes não se vaporizam sozinhos), eliminado, em primeiro lugar, um entrave (?) que parecia ter uma resolução óbvia: a falta de profissionais, neste caso médicos, mais especificamente especialistas.
Todo este imbróglio é, no centro da sua complexidade, deveras simples, e assenta em algumas premissas que são incontornáveis. Basta pensar e saber pensar.

Em primeiro lugar o problema tem de ser encarado de uma perspectiva externa, isto é de fora, mas recorrendo à sapiência de quem está por dentro.

Em segundo, a orgânica de um sistema de saúde carece de estratificação por níveis, capacidades de atendimento e objectivos, ou seja piramidal. 
Toda a gente sabe que a base da mesma está nos Cuidados de Saúde Primários e o vértice nos Cuidados "ultra-diferenciados" (acho que se percebe o significado): do mais amplo para o mais especializado, do pedagógico para o curativo, do que satisfaz as necessidades de mais utentes para o que satisfaz as necessidades de menos, do mais perto para o mais longe (acessibilidade) e do mais barato para o mais caro. Notem como os ganhos em saúde variam inversamente - o investimento nos CSP é, indubitavelmente, o mais rentável!! Tomemos como exemplo um individuo qualquer, escolhido aleatoriamente da população. Através de uma intervenção preventiva e pedagógica podemos, porventura, evitar que os seus hábitos de vida sejam modificados evitando a evolução para a patologia diabética. Logo aqui, por antecipação futura, a poupança ao nível de custos seria tremenda: desde um rol de consultas e intervenções médicas (cirúrgica, oftalmológica, vascular, etc), despesas com fármacos (ADO's, insulina, etc), além das expectáveis complicações secundárias (diálise, etc). É fácil de concluir que as poupanças económicas são evidentes e muito substanciais.
Ora, encerrando os hospitais de pequena dimensão, extraímos uma faixa da tal pirâmide, empurrando os custos para cima, ou seja, para níveis mais dispendiosos, porque,  funcionalmente, o sistema não está ajustado para que desçam de nível... 
Além dos custos, comprometemos a adequação assistencial de níveis a montante, caros e tornando-os morosos.
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Em terceiro lugar a gestão dos recursos humanos (e respectivas competências) é completamente errónea. Temos um sistema afunilado para um figura (Médico), para a qual tudo converge, tornando-o pouco dinâmico, dispendioso e pouco ágil. Para que seja eficaz e eficiente é necessário abrir a rede de decisão e intervenção. Sem querer ser aborrecido, tomemos como exemplo um sistema bidimensional (tal como a figura de baixo). A eficácia de um sistema não é linear em função do aumento progressivo do número de Médicos! 

Quer isto dizer que a partir de um certo número de clínicos o sistema deixa de beneficiar. Acrescentando um outro eixo (tornando-o tridimensional), a função torna a forma esférica (porque falamos na globalidade dos cuidados). O terceiro eixo são os recursos materiais (finitos), o que significa, também, que se acrescentarmos uma quarta dimensão - eficiência - a esfera vai perdendo densidade e variará inversamente (e exponencialmente) com os custos. Conclusão: mais Médicos não significa um melhor sistema de saúde, mas sim o contrário (necessidade de um equilíbrio optimizado). 
Urge descentralizar a responsabilidade e competência médica por um conjunto de profissionais!
É necessário, do mesmo modo, colocar o profissional certo no sítio certo. Por exemplo, a presença médica tem pouca lógica nos CSP!!
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Resumindo, o encerramento de pequenas unidades torna o sistema caro, pouco eficiente e eficaz, reduz a acessibilidade e desvirtua a gestão correcta dos recursos materiais e humanos!

Comments:
SNS não é a mesma coisa que Medicina... estamos carecas de dizer isso! tenho esperança que isto vá mudar mas com um Secretario de estado médico.... parece que já ha areia na engrenagem... estarei enganado? esperemos!
 
Nada de novo, nada contra...
 
DE, está absolutamente correcto!!
 
DE:

"...a presença médica tem pouca lógica nos CSP."?

Esta falta de conhecimento, quanto ao trabalho médico é gritante.

Os enfermeiros, são um conjunto de profissionais que se tem a reputação que tem, devem-na exclusivamente a si próprios. Então a presença de um médico nos CSP não faz qualquer sentido. Grande arrogância! E pior, é-se arrogante com falta de conhecimento!

O Sr. Enfermeiro, que fala tanto de "cor" devia saber que se o médico não tem capacidade para avaliar o trabalho de um enfermeiro, gostaria de saber qual é o seu conhecimento sobre o trabalho exercido por médicos de MGF e que competência possui para avaliar a presença ou não de médicos nos CSP?

O que não tem lógica é colocarem profissionais médicos indiferenciados ou Enfermeiros, que se interessam por tudo que é trabalho de médico diferenciado (MGF), menos por enfermagem.
Afinal o que é que a enfermagem tem de tão repugnante que nem os enfermeiros a querem praticar?!

E depois, uma vez que sabe tanto, deveria saber que países desenvolvidos que acabaram com especialidade como MGF e medicina interna, estão novamente a voltar a estas especialidades. E sabe porquê? Porque o conhecimento médico integral de diversas patologias está assente neste profissionais, e não em nenhum enfermeiro ou médico de outras especialidades.
Uma outra conclusão, foi que este erro estratégico ficou-lhes muito caro!

É por isso que digo, “cada macaco no seu galho” a fazer o que sabe melhor, para o qual foi instruído e recebeu conhecimento.


No entanto, se tal acontecer, proponho que as farmácias passem a ser centros mais activos, tal como acontece no RU. Porque se um enfermeiro reclama para si a capacidade quase exclusiva de administrar injectáveis, como se fosse algo que exigisse uma grande perícia ou conhecimento, por favor, não tem autoridade nenhuma quando contrapõem os médicos, que entendem que: diagnosticar, prescrever um exame diagnostico ou uma substancia química, NÃO É da competência de um enfermeiro, nem os enfermeiros tem conhecimento para seguir ou alterar medicação prescrita por um médico.
Há enfermeiro e enfermeiros, mas primeiro façam um favor à sociedade: uniformizem os vossos conhecimentos e competências, depois venham falar de alargamentos à custa de outros!
 
Concordo com o DE, nos cuidados primários o médico faz enfermagem... Tenho dito.
 
Mais uma vez a visão ultracorporativa dos enfermeiros portugueses. Já não há pachorra para tanta autobajulação, livra!
 
Cara Vera; gostava de se fizesse o dia em que o Sr. enfermeiro tinha direito a fazer de médico especialista em MGF por um dia.

Seria hilariante observar estes profissionais que se dizem; “não médicos” com orgulho (mas que anseiam por executar o trabalho destes) a diagnosticar e a fazerem acompanhamento (sério, e não do “faz de conta”) a doentes diabéticos, hipertensos … seria fantástico observar a capacidade destes Sr. Drs. Enfs. a alterar medicação por outra, ou até mesmo a alterar doses de fármacos já prescritos ou introduzir fármacos novos (talvez nem fosse preciso, porque quando não se sabe, não se faz) que não entrassem em conflitos com os anteriores…

Pensava que já não existia tanta ignorância numa classe que se diz “académica”.
Parece que a universidade vos tirou o brio. Parece que o importante agora não é ser enfermeiro e executar no dia-a-dia aquilo para o qual se formaram. O importante agora é “evoluir”, mas adivinhem como? Para áreas que não é, nem nunca foi da competência do enfermeiro, no entanto, pensam que conseguem fazê-lo!

Pensam que tem capacidade para executar e fazer trabalho de médico de MGF porque afinal aquilo que o médico de MGF faz é enfermagem! Só não me rio com vontade porque isto, supostamente foi pensado e escrito por uma "académica"!

Cada um acredita no que quer, só tenho pena que estas “crenças” ainda existem em profissionais com formação superior!
Curso de enfermagem --- forma ---> enfermeiros
Curso de medicina ---- forma ------> médicos

No fim de cada curso, o licencidado em enfermagem está habilitado a praticar enfermagem e ao licenciado/mestre em medicina, está habilitado ao exercicio da medicina. Qual é a parte que ainda não percebeu?
 
No que toca a esta matéria, gostava de saber se alguém de bom senso está de acordo que se enviem doentes para fazerem exames e pequenas cirurgias como cateterismos a distancias de 600 Km e ou 300 Km, doentes com idades até aos 90 anos e ou mais, mesmo com as vias hoje em dia já muito mais novas, não deixa de ser super violento terem que sair ás 05;00 da manhã super dependentes, isto tem a ver porque não e no caso se concentra estes serviços e no caso onde existem hospitais com uma distancia entre si de não mais de 90 km.
 
Caro DE, é por opiniões destas (acerca do papel dos MGFs nos Centros de Saúde) que nunca vai haver um colega enfermeiro como ministro da saúde ou sec de estado. É que se nota uma total imaturidade e falta de conhecimento do que é ser prestador de cuidados primários e do que é trabalhar na comunidade.
Talibã das Beiras: Sempre ao mais alto nível.
 
Então Sr Dr (ex reles enf) talibã das beiras (ex sempre ao mais alto nível tudo pela enfermagem) o que é que é trabalhar na comunidade? E o que é isso de prestador de cuidados primários...Eu sou enfermeiro e trabalho nos cuidados de saúde primários, no interior profundo, há 20 anos e penso saber umas coisas, mas gosto sempre de aprender mais!
 
Ao anónimo das 6:32... não, continuo a ser "enf" e com orgulho nisso, embora reles como a generalidade, por outro lado, por mais cursos que tire e que por ventura te levem a tratar-me por Dr, vou sempre entender isso como um elogio que agradeço... sim continuo sempre ao mais alto nível, já tú, ao fim de 20 anos deves estar sempre na mesma :(
Talibã das Beiras: Sempre ao mais alto nível.
 
A presença do médico nos CSP é importante sim, mas não como a pintam;
há médicos a fazer o trabalho de enfermeiros por uma questão de dar trabalho aos colegas médicos, pois quem costuma andar nos ministério da saúde são sempre dos mesmos. e toca de proteger as costas uns dos outros.. à custa dos enfermeiros - desemprego, péssimos salários, asfixia de competências e autonomia...
parece que saúde é só medicina... giro isto..

E À artista que diz que seria giro ver os enfºs a prescreverem fármacos e a fazerem consultas sérias como diz, qual seria o problema? se há tantos médicos que nãoi fazem um corno de trabalho sério... tem piada.. então quando dizem que os enfºs não têm competências CLÍNICAS... sabe que clínico vem de cama? sabe quem inventou o processo clínico? ora adivinhe lá.. nada contra médicos, antes pelo contrºario, só estou contra os médicos corporativistas e endeusados, que se acham ultra-importantes em tudo o que é saude, e que sem ekles não há Saúde. LOL
 
Caro enfº do norte;

Se diz que "há tantos médicos que não fazem um corno de trabalho sério" imagine um enfermeiro! Ou a sua cegueira permite-lhe afirmar que todos os enfermeiros que praticam enfermagem (que foi para isso que estudaram) a praticam de forma exemplar. Imagine agora o enfermeiro a fazer trabalho que NÃO É DA SUA COMPETÊNCIA!
Farmaceutico, não pode administrar injectáveis, porque não é da sua competência! Enfermeiro não deve fazer trabalho de médico, porque não estudou para tal, a "experiência da vida" ou os "ensinamentos da vida", aqui só ridicularizam os argumentos e sabe que mais? Não é da sua competência!
 
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