sexta-feira, fevereiro 09, 2007
Mais um bela reportagem...
Deixo aqui um artigo que retirei do www.jornalregional.com, relativo às Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação. Trata-se de uma reportagem que acompanhou por um dia o Enfermeiro e Médico da VMER do Hospital Padre Américo.
"Um dia ao volante do veículo médico de emergência e reanimação
Numa altura em que muito se fala do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) – seja por causa do tempo de socorro a um doente, seja pela possibilidade da privatização do sector do transporte primário urgente de doentes – o NOVAS foi conhecer por dentro o funcionamento do único carro medicalizado na região do Vale do Sousa: a viatura médica de emergência e reanimação (VMER) com base no Hospital Padre Américo. Um dia a acompanhar um médico e um enfermeiro da VMER serviu para apurar a importância deste veículo no socorro urgente, assim como para constatar alguns dos pormenores que tornam especial para muitos a prestação de serviço nesta viatura a cargo do INEM. Dois anos sem acidentes. Às 8h00, Luís Lucas, enfermeiro de 29 anos, entra no serviço de Urgência do Hospital Padre Américo – Vale do Sousa para ocupar o seu lugar na sala destinada à VMER. As próximas 12 horas (que equivalem a dois turnos seguidos) serão passadas entre a sala de estar das instalações do INEM no Hospital Padre Américo, os corredores do Serviço de Urgência desta unidade de saúde e o volante da VMER. Até que o telefone toque, Luís Lucas, que é o coordenador dos enfermeiros adstritos à VMER, faz todo o trabalho burocrático que também há a fazer neste serviço. Descrever os serviços efectuados ou contabilizar os consumíveis gastos pela VMER são, provavelmente, as tarefas mais aborrecidas para quem procura a adrenalina das emergências pré-hospitalares ou das viagens por entre os carros nas estradas nacionais do Vale do Sousa. “Estou no Hospital Padre Américo desde que ele foi inaugurado e sempre foi um sonho fazer este tipo de trabalho”, refere Luís Lucas, um enfermeiro que concluiu um curso de emergência pré-hospitalar de 120 horas. Porque é sempre o enfermeiro que conduz a VMER, Lucas, como é tratado pelos colegas, teve ainda de frequentar aulas de condução especiais. “Ao contrário do que as pessoas pensam, não nos ensinam a conduzir de forma agressiva, mas sim defensiva. Temos de nos defender dos outros condutores e, hoje, utilizo as técnicas aprendidas nesse curso até quando estou a conduzir o meu carro”, afirma. Certo é que, desde 19 de Abril de 2004, data em que ficou instalada no Hospital Padre Américo, a VMER ainda não sofreu nenhum acidente. Viatura espera instalação do GPS. Às 10h35 o telemóvel que acompanha os ocupantes da VMER para todo o lado toca pela primeira vez.É o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) a informar que a VMER é precisa com urgência na freguesia de Mindelo. De imediato, médico e enfermeiro tomam os seus lugares na viatura e partem com velocidade para Lousada. Já dentro da VMER, Luís Lucas transmite informação mais precisa sobre o caso que os espera a Fernando Moura, médico que o acompanha e que é também o director do serviço de Urgência do Hospital Padre Américo. A calma dos dois elementos da VMER é o que mais impressiona quem está pouco habituado a lidar com situações de emergência médica. Pelo caminho, há tempo para Fernando Moura revelar que já trabalha com a VMER há 12 anos e que tem pena de, devido às solicitações do serviço de Urgência, integrar cada vez menos vezes a equipa do carro medicalizado. Conhecedores do terreno que percorrem todos os dias, os homens da VMER não deixam, de quando em vez, de se perder. Nestas ocasiões, a solução passa, como aconteceu na viagem para Mindelo, por perguntar ao habitante local mais próximo qual a estrada a tomar para o local da emergência. Mas esta é uma solução provi-sória, visto que a VMER do Vale do Sousa está à espera de receber um GPS que vai indicar, sem a mínima falha, qual o caminho mais rápido para o destino desejado. Dez minutos depois da saída do Hospital Padre Américo, a VMER chega a um prédio em Mindelo, no qual os bombeiros de Lousada já descem as escadas com um idoso doente. Mantendo a mesma calma, e a eficiência, que demonstraram na viagem, Luís Lucas e Fernando Moura depressa vão buscar as malas com material médico à bagageira da viatura e entram na ambulância para estabilizar o doente de forma a que viagem até ao hospital seja o menos arriscada possível. Menos de 15 minutos depois, saem os dois da ambulância e seguem os bombeiros até ao Padre Américo, “sempre em coluna”, como refere o enfermeiro Lucas, que explica ainda que a VMER vai sempre atrás da ambulância para socorrer o doente durante o traje-to caso ele necessite. Casos com crianças deixam marcas embora por estes dias a Urgência do Hospital Padre Américo esteja apinhada de casos de gripe e de complicações respiratórias, a VMER está a ter um dia normal. Tempo, por isso, para Luís Lucas e Fernando Moura descrever alguns dos casos mais complicados a que tiverem de ocorrer. “As crianças são as que nos marcam mais. Tive uma vez um caso de um bebé de três meses que entrou em paragem cardíaca. O bebé era de Paredes e quando chegámos ao local os próprios bombeiros estavam a chorar. Também os acidentes que envolvem jovens que viajam com os pais são marcantes”, destaca o enfermeiro, que é da opinião que “os elementos da VMER ganham mais sensibilidade para estas situações quando são pais”. Também Fernando Moura realça os serviços que envolvem crianças. “Em 12 anos na VMER tive muitos casos problemáticos. Dois deles ficaram-me na memória. Um aconteceu em Rebordosa, Paredes, em que uma criança de quatro anos caiu da varanda de um segundo andar, ficou em coma, mas recuperou totalmente. Outro aconteceu em Espinho, onde estivemos duas horas a socorrer uma senhora que ficou debaixo de um comboio e que tinha vários traumatismos”, conta o médico, um acérrimo defensor das qualidades da VMER. “É o único meio medicalizado em Portugal. Várias vidas são salvas porque, com a VMER, as vítimas en-carceradas são assistidas ainda no local e num acidente multivítimas é efectuada uma triagem imediata das vítimas. É também uma viatura com todos os meios para aplicar o suporte avançado de vida, como o desfribilhador, ventilação mecânica e fármacos de emergência, equi-pamento que pode ser importante para salvar uma vida”, afirma. Às 11h35 o telefone volta a tocar. O CODU informa que um homem, de Castelo de Paiva, teve um AVC – Acidente Vascular Cerebral, que já não era o primeiro num corpo com 70 anos. Como a distância é longa, o CODU manda a VMER para a entrada de nova ponte de Entre-os-Rios e esperar aí pelos bombeiros paivenses que já seguem ao seu encontro. “É este o método utilizado quando a emergência fica longe do hospital. É assim aqui e na maioria dos países desenvolvidos. Não vale a pena ter outra VMER na região, porque também é um equipamento muito caro e que necessita de muitos recursos”, defende Fernando Moura. A viagem de Penafiel para Entre-os-Rios, através da EN 106, é muito mais perigosa, mas também emocionante, do que a que tinha ocorrido uma hora antes para Lousada. O intenso tráfego, sobretudo de camiões, obriga Luís Lucas a recorrer a todas as técnicas apreendidas no curso de condução, mas mesmo assim a velocidade não é a desejada. “É a pior estrada que temos para percorrer. Então entre as 17h00 e as 18h00 é o caos total”, declara Luís Lucas. Como os camiões teimam em não encostar à berma, é dada a indicação aos bombeiros de Castelo de Paiva para continuarem a viagem até deparar com a VMER. O ‘rendez vous’, termo técnico utilizado quando bombeiros e VMER se encontram a meio do caminho, dá-se em frente às instalações do INATEL, 12 minutos depois da saída do carro do hospital. Segue-se o procedimento habitual neste tipo de situações. Médico e enfermeiro recolhem o seu equipamento e entram na ambulância com o objectivo de observar e estabilizar o doente. Após 13 minutos, a ambulância está de novo a caminho do Padre Américo. “A nossa relação com os bombeiros é fácil. Eles reconhecem que são trabalhos a níveis diferentes e que nós estamos para ajudar”, refere Fernando Moura. 19 médicos garantem operacionalidade quase total. Entre as 12h00 e as 14h00 é o período durante o qual a VMER é mais solicitada segundo as estatísticas. Neste dia, porém, o telefone não toca e os tripulantes da viatura medicalizada podem concluir o almoço sem perturbação, o que nem sempre acontece. “Quantas vezes, mal começamos a comer e temos de ir socorrer alguém”, diz Luís Lucas. Aproxima-se também a mudança de turno, mas acontece um imprevisto com o médico que estava de escala que o impede de cumprir o horário que lhe estava destinado e Fernando Moura começa a telefonar aos clínicos que prestam serviço na VMER. O primeiro não pode, o segundo está a trabalhar, mas o terceiro telefonema encontra alguém disponível. “No Hospital Padre Américo, somos 19 médicos com qualificações para a VMER e há sempre um que pode prestar serviço, o que permite manter a viatura quase sempre operacional”, expressa Fernando Moura, enquanto se prepara para concluir o seu turno. Todavia, o homem que já prestou serviço na VMER do Hospital de Gaia e na do St. António, no Porto, vai ter de esperar mais um bocado para regressar às tarefas no serviço de Urgência. A VMER é precisa no Hospital da Santa Casa da Misericórdia do Marco de Canaveses, onde uma idosa teve uma paragem cardíaca. A viagem é feita pela A4, o que, desde logo, afasta qualquer conges-tionamento e permite a Luís Lucas retirar o máximo dividendo dos cavalos da Volkswagem Passat, a marca e o modelo da VMER do Vale do Sousa. A chamada aconteceu às 14h10 e às 14h25 Luís Lucas e Fernando Moura estão a subir as escadas do Hospital da Misericórdia. A paciente exige um tratamento que demora 20 minutos e é, em seguida, transportada para o destino do costume: o Hospital Padre Américo. Desta vez, e contrariamente ao que aconteceu nas restantes situações, o médico Fernando Moura acompanha a doente na ambulância. “É o procedimento normal em casos complicados. A qualquer momento pode haver uma complicação e o médico está lá para resolver o problema. Se a intervenção assim o exigir, a ambulância encosta e eu vou ajudar. Por isso é que o enfer-meiro e o médico estão sempre em contacto através do rádio”, assegura Luís Lucas. No entanto, tal não foi necessário e a viagem decorreu sem interrupções até à unidade de saúde central do Vale do Sousa, onde a idosa concluiu o tratamento. Mais uma vida foi salva."